A Copa é do mundo

por: Lucia Malla Antigos, Esportes, Futebol, Mallices

Daqui a uma hora começa a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, um país onde já morei (em Potsdam, próximo a Berlim) e de onde só tenho excelentes recordações. É emocionante esse clima de festa pré-Copa, com todas as notícias relevantes e estapafúrdias que aparecem em torno do evento. Eu adoro futebol, e essa é a época mais deliciosa pra quem curte o esporte. Eu sinto como se de 4 em 4 anos houvesse uma recauchutagem do sistema neuronal que conecta todo o planeta e tudo se apaziguasse por aquele mês em torno de uma simples bola. A bola de futebol se transforma na bola do mundo, e só não é predominantemente azul-oceano como o planeta porque algum designer ainda não pensou nessa representação máxima para o maior evento de todos os tempos.

Para mim, uma viajante, adoradora das mais diferentes culturas do mundo, em todas as nuances e mosaicos que elas formam sobre a superfície do planeta, nenhum outro momento me dá tanta esperança de que, como humanidade, se quisermos, podemos nos unir por um único objetivo e mudar o mundo para melhor. A Copa do Mundo de futebol é o evento que reflete a esperança comum por uma vivência mais alegre, divertida, harmônica e cheia de oportunidades para todos. É a perfeita simbologia do que vivemos – inclua aí nesse festival de sentidos até o relativo desprezo da maior potência econômica do planeta pelos demais, que dá teses e mais teses elocubratórias em mesas de boteco. Que outro evento dá um recesso em guerras e conflitos? Que outro evento põe 5 bilhões em frente de um aparelho de TV, com um objetivo comum? Que outro evento aproxima tanto povos melindrados por políticas separatistas? Que outro evento permite inimigos políticos de se encararem amigavelmente, como vimos em 1998 quando EUA e Irã entraram em campo? Na Copa-Mundo, a guerra é outra, e é muito mais representativa da harmonia que do conflito armado. Brilha quem joga melhor, independente do GDP, da reserva de mercado ou do poderio bélico-nuclear que armazena. Das tribos isoladas da Papua Nova Guiné às esquinas de Berlim, das estações geladas de pesquisa antárctica aos vilarejos remotos nos atóis tropicais do Pacífico, dos nepaleses tranquilos no topo do mundo aos hongkonguenses apressados ao nível do mar, todos se unem em torno de um só objetivo, numa espécie de transe coletivo que emociona e traz esperança de união. Ah, se expandíssemos essa união para outros campos durante o resto do ano!

A Copa do Mundo de futebol iguala por um mês o coração do mundo. De todo o mundo em geral. Um esporte pode apenas ser um esporte, e futebol pode ser apenas um jogo durante o resto do ano, mas a Copa do Mundo não é apenas futebol; a Copa é do Mundo, para o Mundo e por um Mundo: melhor, sempre. Pelo menos, é isso que o coração de uma torcedora-sonhadora-utópica malla vislumbra a cada 4 anos ao ver tantos povos torcendo numa mesma arena compartilhada.

Que seja dado o pontapé inicial!

E como eu também não posso deixar de dar meu palpite de boleira…

Dá-lhe BRASIL!!! 🙂

Tudo de bom sempre para o mundo inteiro nessa Copa de 2006.

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Essa é a foto mais especial e emblemática de Copa do Mundo para mim. Tirada durante um jogo do Brasil na Copa de 1998, quando fantasiei minha vó querida de torcedora, mostra o quanto ela, apesar de não gostar nada de futebol nem de confusão, entrava no espírito da torcida canarinho durante aquele período curto, vestindo as cores da bandeira – nem que seja numa bandana. Vovó já foi pro andar de cima, mas o sorriso, a alegria, o bom humor, as piadas e a vibração a cada gol que ela deixou impresso na minha lembrança durante as Copas que passamos juntas foram marcantes o suficiente para selar sua eternidade no meu coração de neta.



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