Sobre a história de Palau, meu grande amigo Gabriel, ao comentar o post passado, lembrou-se de um fato curioso sobre Palau:
“(…) A única referência que eu conhecia sobre Palau era do documentário do Michael Moore de 2004… “The republic of… Palau” na “Coalition of the willing” (…)”
Dei muitas risadas relembrando esse fato. É verdade!
Aliança histórica com os EUA
Palau foi um dos países que primeiro se aliou aos EUA na malfadada coalisão contra o terrorismo mundial que veio subsequentemente a invadir o Iraque como prezepada final, durante a era Bush pós-11 de setembro. Palau, Costa Rica, Islândia, Romênia, Marrocos e Afeganistão.
Aliás, faz sentido Palau ter se aliado aos EUA na guerra do Iraque. Embora oficialmente seja um país independente, Palau está sob intensa influência americana. Esta influência está refletida na prática ao repararmos que o dólar americano é a moeda oficial. Além disso, a língua oficial do país, além do tradicional palauano, é o inglês (exceto em uma das ilhas, onde o japonês é a língua oficial).
Desde a década de 50, os EUA são o país mais presente nas ilhas palauanas, um pouco como acontece com as Ilhas Marshall e nas demais ilhas micronésias. Consequências da Segunda Guerra Mundial. Porque até então na história de Palau, o país havia funcionado como território espanhol, alemão no século 19 e território japonês desde 1914. A bandeira de Palau, aliás, reflete claramente a influência nipônica, apenas com uma “tropicalização” das cores.
Vale ressaltar também que o período de dominação japonesa trouxe progresso e modernidade à população. Até hoje é considerado um dos momentos de maior desenvolvimento econômico experimentado pelo país. Afinal, em troca de uma paragem para seus militares, o Japão investiu muito no país.
A História de Palau submersa em suas lagunas
Pela localização geográfica no Pacífico, Palau também foi palco de batalhas da Segunda Guerra, principalmente entre Japão e EUA. O reflexo disso são os inúmeros naufrágios de aviões e navios que abundam as águas ao redor do país. São mais de 60 disponíveis para mergulho, e mais um monte ainda inacessível. Existe até um navio afundado pelo ex-presidente George Bush Pai, em seus tempos de marinha americana.
Muitos naufrágios estão a profundidade máxima de 3 metros, facilmente acessíveis para snorkelar. Como os 2 aviões japoneses Zero que vimos e um avião americano B-25. Os três aviões estão dentro de lagoas marinhas de águas calmas e pristinas. Principalmente, os 3 aviões bem pequenos, com capacidade e espaço para algumas bombas.
Num mergulho noturno, exploramos a fuselagem de um terceiro avião Zero japonês. Este naufrágio foi batizado hoje de Jake’s Seaplane. Era um avião que foi bombardeado ao levantar vôo da pista do aeroporto, caindo no mar próximo à costa. Parou sobretudo a meros 13 metros de profundidade.
O mergulho no naufrágio Iro Maru em Palau
É uma viagem total ficar vendo aquele monte de coral e vida no meio de hélices e afins corroídos pelo tempo.
Além desses 3 aviões que visitamos apenas com máscara, pé-de-pato e animação, também nos aventuramos pela história de Palau submersa mergulhando num navio japonês chamado Iro Maru.
O Iro, um navio de apoio da frota de guerra, está localizado a 36 metros de profundidade. Ele é um navio enorme que naufragou por força de um torpedo em 1944. Repousa então no fundo de areia em uma posição inclinada, com o deque e salas de comando a profundidade de 20 metros, e as torres de aço a menos de 15 metros da superfície.
O mergulho no Iro foi inacreditável. A visibilidade da água não estava muito boa. Entretanto, a sensação de estar em cima do deque de um navio de guerra afundado, poder passar no meio de suas colunas, olhar para um monstro de 145 metros de extensão virando substrato para todas aquelas formas de vida… Sensacional.
História Atual: o Pacto de Livre Associação
Todas as ilhotas do Pacífico das quais o Japão se apoderou durante o período das guerras foram repassadas depois da derrota japonesa aos EUA. Este então criou o chamado “Território das Ilhas do Pacífico”. Este território foi incentivado a se tornar país em 1979.
Em 1981, quando os Estados Federados da Micronésia se juntaram para formar um país, convidaram também Palau e Ilhas Marshall para participar. Ambos recusaram a oferta. Os povos de cada arquipélago não queria ser estado apenas de uma nação maior. Preferiram ser independentes dos demais micronésios, com suas próprias leis e organização. Por conseguinte, após quase uma década de transição e discussão sobre a situação política, surgiu então a República de Palau em 1994.
Independente, mas nem tanto. No ano seguinte, o governo de Palau assinou um Pacto de Livre Associação com o governo americano, ditando que a defesa territorial palauana seria responsabilidade americana nos próximos 50 anos. O que torna muito fácil entender o porquê da rápida entrada de Palau na coalisão pró-Iraque. Como Palau não tem exército, foi algo como o exército americano em Palau entra na coalisão com… ele próprio. Hilário.
A vida atual em Palau
A influência americana trouxe não só a defesa militar como o estilo de vida. E hoje, 50 anos depois da introdução do junk food em Palau, vemos portanto o surgimento da epidemia de diabetes tipo 2 tão comum à modernidade sedentária e super-calórica. 1 em cada 4 habitantes da ilha tem diabetes, um dado alarmante.
Palau vive do turismo. Um lugar tropical, cheio de maravilhas marinhas naturais, usou bem o recurso que tinha.
Além do turismo, a exportação de côco e a pesca são outras fontes de renda para seus 18,000 habitantes. E a ajuda americana constante, decerto. Em troca de uma paragem para seus militares, os EUA investem muito no país.
Ou seja, os palauanos ainda dependem do dinheiro americano para sobreviver como nação, uma situação longe de terminar.
Riqueza marinha além da história de Palau
O tesouro de Palau é sua riqueza marinha. Portanto, a solução para aumentar a receita do país claramente passa por um incentivo ao turismo, mais precisamente ao ecoturismo. Decerto isso já está sendo feito, mas requer ainda mais divulgação.
Palau, com toda a exuberância e história escondida sob as suas águas, merece definitivamente ser conhecido pelo mundo.
Tudo de bom sempre.
Booking.com