A rave das jamantas

por: Lucia Malla Animais, Animais, Big Island, Havaí, Havaí, Mergulho

A rave das jamantas

Há muitos milênios, eu conversei com o Manoel Lemos no twitter sobre o mergulho com as arraias-jamanta em Kona, no Havaí. Ele me mostrou um vídeo bem interessante que fizera sobre tal aventura, onde você pode sentir um pouquinho como é estar perto dessas delicadezas lindas.

E eis que recentemente, um projeto de lei que protegerá as jamantas havaianas passou pela Assembléia dos Deputados e já está a caminho do Senado para aprovação final. Se virar lei, a jamanta será mais um animal protegido aqui nas ilhas, o que é animador para a espécie. Tim Clark, zoólogo da Universidade do Hawaii, vem acompanhando o processo de proteção destes animais de perto, via sua ONG Save the Mantas.

A jamanta é um peixe cartilaginoso, parente dos tubarões, considerado, pela Lista Vermelha da IUCN, como “ameaçado” (near threatened) e já se identificou aqui na região de Kona uma população fixa de cerca de 150 indivíduos. Aproveitando-se desse número, muitas operadoras em Kona vendem o mergulho com as jamantas – porque boa parte delas está ali, na costa de Kona. O mais comum é ser um mergulho noturno, a 11 metros de profundidade, onde são colocados holofotes no fundo – embora o Manoel tenha visto durante o dia, o que também não é tão difícil por ali. As luzes acesas à noite atraem o plâncton, que é o alimento da jamanta. Com isso, as jamantas chegam e e ficam se alimentando na frente dos mergulhadores. Como há muito plâncton, outros animais também costumam se aproveitar do banquete.

Fiz esse mergulho noturno psicodélico em 2006, e achei extremamente viajandão. Por motivos não-relacionados à jamanta, entenda-se. Como é uma diversão “famosinha” em Kona, várias operadoras de mergulho vão para o mesmo local, uma baía em frente ao aeroporto da cidade, onde o circo holofote é montado. Pode-se mergulhar com tanque ou snorkellar apenas, porque não é muito fundo. À noite, no local, eram mais de 60 pessoas embaixo d’água, ajoelhadas, com aquelas roupas coloridas de neoprene e lanternas potentes na mão. Bolhas para todos os lados. Tantos fachos de luz me deram a sensação de estar numa rave submersa e consegui em meu cérebro até imaginar um techno music tocando de fundo. Fica todo mundo esperando até as atrizes principais da noite chegarem. Quando elas chegam… é um delírio total. Porque elas praticamente dançam um balé na nossa frente. Difícil não se impressionar com o animal.

Agora, todos os fachos tentam acompanhar os movimentos do animal, e é um tal de mexe pra lá, mexe pra cá, gente se atropelando para ver melhor… a jamanta é atraída pelas luzes, e embora não seja permitido tocar no animal, muitas vezes é inevitável que ele toque em você, tamanha a mistura de gente e mantas por ali. É muito divertido, apesar do monte de gente. Porque a jamanta é tão dócil que parece adorar aquele interesse todo nela e fica rodando pra lá e pra cá, se alimentando e delicadamente se movimentando, num balé subaquático inesquecível.

A maioria das pessoas com quem conversei saiu da água em estado de êxtase. Um pouco mais conscientes da delicadeza do animal, de sua biologia e importância na cadeia alimentar. Portanto, acho válido que haja mergulhos assim: é uma boa forma de educação ambiental.

E eu, por outro lado, não vejo a hora de encontrá-las de novo, em sua fenomenal dança sub.

Tudo de bom sempre.



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