A vida na Nova Caledônia

por: Lucia Malla Corais, Ilhas, Melanésia, Nova Caledônia

Há um mês, a UNESCO liberou a lista de novos “patrimônios da humanidade”. Pois eis que 27 locais foram selecionados: 19 de valor cultural e 8 de valor natural. Para surpresa de alguns, as lagunas de Nova Caledônia foram agraciadas com tal honraria. Principalmente, pela riqueza de biodiversidade dos seus recifes de corais (estima-se que cerca 700 espécies de coral vivam ali) e o alto índice de endemismo. Além de ser o local preferido de um terço da população mundial de dugongs (um parente do peixe-boi).

A vida na Nova Caledônia

Foram 6 áreas específicas escolhidas, englobando um total de 15.700 km2 de mar. Foi o 12º sítio coralino a entrar na lista da UNESCO, é o 3º maior recife de coral do mundo e a transformação em patrimônio da humanidade é vista (com razão) pelos conservacionistas de recifes de corais como uma imensa vitória.

Corais da Nova Caledônia, patrimônio da humanidade

Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou - Noumea - Nova Caledônia
Visão geral do Centro Cultural Tjibaou, e atrás a cidade de Noumea, no Pacífico Sul.

Por trás dessa inserção na lista estão, é claro, o trabalho de diversas pessoas, ONGs e instituições, no âmbito político, econômico e sócio-cultural. Uma delas é a Silvia, que por coincidência é uma amiga malla.

Silvia é italiana e mora em Nova Caledônia já há alguns anos, participando do Programa de Pesca Costeira da Secretaria Geral das Comunidades do Pacífico. Ela já morou nas Ilhas Marshall, e é a força-motriz responsável também pelos trabalhos de levantamento de espécies que acontecem lá, que já descobriram preciosidades no atol de Bikini e um artigo exemplar sobre a participação intensa das mulheres na conservação dos recursos pesqueiros, especialmente no atol de Ailuk (link em pdf e contado levemente aqui, com fotos acolá).

Curiosa

Quando soube da novidade da UNESCO, escrevi pra Silvia, parabenizando-a. Além disso, perguntei a ela se não poderia dar um pequeno depoimento sobre como é viver em Nova Caledônia, para ser compartilhado aqui no blog. Afinal, um lugar tão longe do Brasil, tão fora da mídia nacional e mundial… Merecia enfim ter um pouco de seu mistério revelado. Fora minha inata curiosidade por ilhas, por certo.

Silvia não só escreveu um texto muito legal como enviou algumas fotos interessantes de Noumea, capital do país, onde mora.

Onde fica a Nova Caledônia

Mapa do sul do Pacífico - Nova Caledônia
Mapa do arquipélago de Nova Caledônia (indicado pela seta vermelha), com sua localização em relação às outras ilhas do Pacífico sul. Retirado daqui.

A Nova Caledônia é um país de mais de 18,000 km2 formado por duas grandes ilhas (Loyalty e Grand Terre) e um conjunto de ilhotas no sul do Pacífico. Estas ilhas estão localizadas a 1200 km da costa leste australiana e a 1500 km ao norte da Nova Zelândia. O país é território francês e está situado na região melanésia do Pacífico (que engloba também Vanuatu, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão e Fiji). Vive de minas de níquel e turismo.

Uma das curiosidades neocaledonenses não-relacionadas ao mar que mais me chamou a atenção foi de que quase 2/3 das espécies de araucárias do mundo estão ali, e são todas endêmicas – ou seja, não existem em outro lugar do mundo. O país é um hotspot de biodiversidade botânica e marinha, e trabalhos intensos de conservação são desenvolvidos em Nova Caledônia. Que culminaram na indicação de suas lagunas como patrimônio natural da humanidade.


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Leiam, portanto, o que a Silvia conta sobre a vida na Nova Caledônia.

(Tradução livre minha.)

A vida na Nova Caledônia – Relato da Silvia

“Vinda das Ilhas Marshall [nota malla: área territorial de 181 km2], a Nova Caledônia parece enorme, desenvolvida, rica, diversa… Os 400km de extensão ilhéu dão espaço suficiente para que a pessoa tenha o sentimento de estar sentado num pedaço decente de terra. Quase continental!

Em Majuro [n.m.: capital das Ilhas Marshall] uma pessoa podia desfrutar do nascer do sol e do pôr-do-sol sentado no mesmo local. Já que 200m de largura máxima do país, sem elevações entre os dois lados opostos das ilhas, não bloqueariam a visão do movimento do sol. Com o céu e o oceano se unindo como uma só entidade do seu ponto de visão.

Esculturas Kanak.

Em Nova Caledônia, há na verdade duas costas distintas e montanhas no meio. A pessoa não se sente “presa” entre corpos d’água. A natureza é rica, esplendorosa, tanto debaixo d’água como em terra. A biodiversidade e o endemismo são espetaculares. Aqui é, aliás, um pedaço de terra descolado de um continente principal há muito tempo que permitiu que a especiação fizesse seu trabalho em plantas e animais. Ainda é longe o suficiente da Austrália para permanecer único e afastado de espécies invasoras.

As araucárias endêmicas

Ainda existem algumas das florestas primárias. As montanhas, então, são cobertas por pinheiros endêmicos colunares impressionantes (Araucaria sp.). Estes estão entre árvores de ficus, bambus e outras plantas gigantes. Do pico das montanhas às cachoeiras, passando pela maior laguna do mundo, a natureza reina absoluta. E oferece por conseguinte aos habitantes da ilha uma boa razão para se orgulhar. Afinal recentemente várias regiões do país foram escolhidas como Patrimônio Natural da Humanidade.


Leia mais: Por que a Île Des Pins na Nova Caledônia é a ilha mais linda do mundo.


Araucárias da Nova Caledônia
Araucárias endêmicas da Nova Caledônia.

População da Nova Caledônia

Os moradores locais são uma mistura de imigrantes. Um pedaço de origem européia, vindos a maioria da França, país dono do território. Ou vindos do Vietnã, do período em que a mão-de-obra ali foi requisitada, principalmente para a exploração das minas de níquel.

Os Kanaks, a verdadeira população local do grupo melanésio, ainda vivem em sua maioria em tribos. Uma minoria apenas mora na capital Noumea. Não parecem ter uma vida extremamente feliz nem ocupada.

Cultura local

Uma boa oportunidade para sentir melhor a cultura local é visitar o Mercado num fim de semana. Afinal, no Mercado você pode se deliciar com a comida local (peixes recifais, verduras, uma variedade de frutas exóticas). Ou com a música local, a arte e o jeito de ser do povo. A arte é expressa no artesanato (bijuterias com conchas, artefatos de madeira, jarros). Ou nas artes figurativas (pinturas e esculturas tanto de Kanaks como de Caledonianos são mostradas em diferentes galerias de arte). Ou ainda na música e na dança, que comumente são apresentadas nos teatros. Cultura não é, entretanto, tão “presente” no dia-a-dia das pessoas.

Centro cultural Jean-Marie Tjibaou - A vida na Nova Caledônia
O Centro Cultural Tjibaou, em Noumea, capital da Nova Caledônia, dedicado a uma das maiores personalidades Kanak da década de 80, Jean-Marie Tjibaou. Ele lutou politicamente pela independência do povo Kanak. O complexo de prédios tem um design diferente, que lembra um pouco o estilo de casas dos habitantes do Pacífico, e foi elaborado pelo arquiteto italiano Renzo Piano. No Centro Cultural existem um museu, teatro, várias salas para conferências, um palco externo, um jardim com esculturas locais e inúmeras plantas representativas da flora local.

Nova Caledônia e os esportes

Os esportes são levados à sério, principalmente pela população francesa. Windsurfing, kite-surfing, vela e paragliding são os esportes mais óbvios praticados, devido aos constantes ventos da ilha. Ciclismo, trilhas, caiaque… Os franceses parecem estar sempre em movimento para se manterem saudáveis.

E claro, mergulho autônomo. Para admirar os corais fluorescentes, os paredões com os tubarões-tigre e enormes cardumes de peixes. O turismo como “indústria” não é muito presente. A maioria dos visitantes vêm do Japão para ilhas não muito isoladas, para casar ou passar a lua-de-mel perto dos recifes.

A maior parte da verba do país vem da exploração do níquel [n.m.: Nova Caledônia é o maior exportador de níquel do mundo] e sua manufatura primária. Mas os ganhos das duas províncias que o exploram é irrisório comparado ao ganho das empreitadas das companhias estrangeiras de exploração.

O que se come na Nova Caledônia

A comida é bem influenciada pelos franceses. Conforme a tradição, você nunca se cansa dos pães, vinhos e queijos. Embora a gente tenha que pagar 3 vezes mais por esses produtos aqui que na Europa. Algumas vezes, estar em Nova Caledônia parece estar no sul da França de 50 anos atrás, com menos pessoas do jet-set e sem os iates milionários. Entretanto, basta olhar para a laguna ao acordar e lembrar que isto não é a Côte D’azur… E sim uma enorme ilha colonizada por franceses no Pacífico Sul!”

 

A vida na Nova Caledônia
Exemplo de casa Kanak, em exposição no Centro Cultural Tjibaou.

A sensação que o relato da Silvia me passou é de uma ilha primordialmente diferente da maioria das demais do Pacífico. Posso estar enganada. Mas de qualquer forma, descobrir um pouco sobre o teritório só aumentou a vontade de ir visitá-la um dia. Principalmente para mergulhar nas lagunas famosas. Então quem sabe… 🙂

Tudo de bom sempre.

P.S.

  • Visitei a Nova Caledônia em dezembro/2011. Para ler todos os meus posts de lá, com informações e dicas especiais, clique aqui
  • Vá na Wikipedia sobre a Nova Caledônia. Nem que seja só pra ver o emblema oficial do país: um náutilo!
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