O Fernando escreveu um texto entitulado “Devolution”, eu venho discutindo isso com amigos de faculdade via fórum de emails já há muitos meses, discuto em casa com meu namorado constantemente sobre o assunto, e hoje foi a gota d’água quando eu li essa reportagem do New York Times. A invasão de alienação chegou até nos deliciosos cinemas 180 graus!
Ando muito mal-humorada com várias coisas no macroambiente: política americana impositória ao lidar com a Coréia do Norte (Dona Arroz só abre a boca pra falar besteira, como fez ontem em sua visita ao Japão); o aval do governo Bush para perfuração em busca de petróleo numa reserva ecológica do Alaska de natureza única – tudo para manter o consumismo exagerado do american way of life; e a notícia de que mesmo se parássemos AGORA de consumir combustíveis fósseis, os efeitos desse abuso poluído pros próximos séculos serão sentidos – ou seja, entramos num nível de comprometimento do clima mundial que só mesmo um desneuronizado não entenderia como real. (Tá lá na Nature dessa semana, pesquisa séria de renome, feita com a mais clara metodologia científica popperiana, hipótese testável e passível de discussão sensata com argumentos embasados.)
Isso tudo já me deixou irritada. Agora, pra mim, bióloga de carteirinha e coração, o pior de tudo é deixar esse povo que mora em Jesusland querer mandar no ensino de Evolução. Não há nada pior do que interferir a ciência com religião, duas temáticas distintas em sua base de construção do raciocínio. Como bem disse o Fernando, por que o “Design Inteligente” nunca leva em consideração a “inteligência” de Maomé, Buda, ou que seja a galinha dos ovos azuis com bolinha laranja que sustenta o Universo? Por que sempre a “inteligência suprema” – agora permeada de falácias e sofismas filósofico-científicos – é esse ente supranatural cristão? Por que eles conseguem publicar mentiras e os bons cientistas, com sua cautela sublime, não conseguem replicar à altura, de forma que de vez em quando esse embate desnecessário volta à arena irritando meus neurônios? E em que universidade se graduaram esses cientistas que não se lembram de como um olho foi formado, esquecem da diferença evolutiva entre estrutura análoga e homóloga, jogam fora todo e qualquer estudo de replicação de DNA, para defender uma idéia sem pé nem cabeça que é sustentada pela presença de uma entidade antropomórfica? Qual o problema filosófico-existencial de não sermos os reis todo-poderosos no lugar em que vivemos?
E quando é que as pessoas entenderão que evolução não é teoria: é FATO. Darwin apenas lançou uma teoria que explicasse o FATO da evolução!
Um copo de água com açúcar, por favor, que eu estou muito irritada, e esse não é o meu normal. Desculpa o desabafo, mas alienação e desrespeito ao método da ciência me tiram do sério.
P.S. Eu havia me auto-prometido não escrever sobre esse assunto. Mudei de idéia e desopilei meu fígado, pelo menos um pouco. Foi bom.
Olho: a estrutura anatômica que mais grita aos ouvidos de um biólogo: eu sou fruto de um processo evolutivo! Esses olhos aí pertencem a uma sépia e a um peixe. Não são lindos?
*Mais fotos de olhos de peixe aqui.