Tinha várias outras coisas para serem escritas, mas nos últimos 3 dias, sei lá eu por que razão, todos os caminhos virtuais que trilhei levaram ao Aconcágua. Essa massa enorme de rocha e gelo que sobe até 6,962 m nos Andes na Argentina. E como portadora da febre do Everest, não poderia de comentar pelo menos 3 cositas sobre montanhismo que li por aí.
1) O “casal Aventura”
Notícias tristes primeiro. A morte do dentista Daniel e a quase-morte de sua esposa na descida pós-cume do Aconcágua. Até no blog do Alexandre (que é mais sobre literatura) tinha uma notinha sobre esse fato – que sinceramente chamou minha atenção, mas não tanto. Quem tem a febre do montanhismo sabe que a montanha é quem manda em qualquer escalada, por mais “simples” que você pense que ela será. Por incrível que pareça, morrer faz parte, e nesse caso uma parte razoavelmente grande do risco. Dominar a montanha, chegar ao cume, é para gigantes, não reles mortais como eu ou você.
Aparentemente, pelo que li na Folha e em outros jornais, o casal de Sorocaba não tinha lá essas experiências com montanhismo e durante a escalada não tinha um guia local, fatores que colaboram e muito para o sucesso em uma subida. Sequer tentaram fazer apenas o trekking por lá antes. Uma coisa é aventurar-se em cavalgadas, rafting, paraquedismo, mergulho, etc. Outra coisa é dominar o gigante…
Montanhismo é o esporte radical que mais mata de longe em qualquer estatística. Sem treinamento pesado, não se chega nem no sopé de uma dessas fortalezas desoxigenadas. Enfim, a notícia me chamou atenção mas considerei “normal”, visto que eles meio que precipitaram-se em vários aspectos. Acho que a notícia também não abalou o mundo montanhista, visto que o EverestNews (link aí ao lado), que é o site mais visitado entre alpinistas profissionais para informações de todas as montanhas do mundo, nem notificou nada sobre a morte deles. Mas taí meu comentário.
2) O Projeto diabetes-8,000m
Notícia meio velha, mas achei essa semana fuçando pela rede, e considero interessantíssima. Aliás, repassei pros meus amigos diabéticos através das mídias sociais. Patrick Hoss, alpinista profissional de Luxemburgo, descobriu-se diabético tipo 1 em 1999. Após o tradicional período de “aclimatação” à doença, resolveu que deveria provar a si mesmo que conseguiria continuar suas aventuras montanhistas mesmo diabético. E começou… adivinhem? Pelo Aconcágua.
Treinou e controlou glicose e insulina ao máximo, acompanhado de uma equipe preparada. Chegou ao cume do Aconcágua com hiperglicemia, mas feliz. Não excedeu seu limite em momento algum, e provou que podia continuar sua vida normalmente com a diabetes.
Como a notícia é velha, Patrick Hoss subiu o Aconcágua em 2002. Desde então, subiu o Mount McKinley, a mais alta montanha do Alasca, local inóspito e de condições climáticas extremas. Sempre mostrando que diabetes não é doença, é condição. Você é o responsável em transformá-la (ou não) em doença. E Patrick tentou a escalada do Cho Oyu, um dos gigantes de 8,000m do Nepal, mas sua diabetes aliada aos já comuns problemas da altitude e da hipóxia, falaram mais alto, e ele teve que retornar do acampamento I, a uns bons 6,000m de altitude. Patrick Hoss é um gigante em vários sentidos. Ele pode dominar a montanha.
3) Waldemar de volta ao topo do mundo
Waldemar Niclevicz e Mozart Catão foram os primeiros brasileiros a chegar ao topo do Everest, em 1995, pelo Tibet. Desde então, uma tragédia no (mesmo) Aconcágua levou Mozart, um profissional do montanhismo. Waldemar continuou subindo montanhas e dando palestras.
E nesse ano de 2005, já anunciou sua tentativa de subir o Everest e o Lhotse (que fica ao lado) no que chama de “10 anos do Brasil no Everest”. Celebração da conquista da grande montanha Sagarmatha. Dessa vez, subirá pelo lado nepalês com seu amigo Irivan Gustavo Burda, também alpinista de respeito. Desde o momento em que li a notícia há alguns dias, estou torcendo pelo sucesso dos 2! Mais motivação para ler os dispatches deste ano. Brasil-sil-sil-sil!!!
Atualização: Niclevicz e Burda chegaram ao topo! o/
Tudo de bom sempre. A qualquer altura.