por:
Lucia Malla
Antigos, Corais, Ilhas, Ilhas Marshall, Mallices, Micronésia, Viagens
Publicado
16/11/2004
Vocês sabem onde fica Namu? Bom, até 3 meses atrás eu também não fazia a menor idéia. Mas quando André recebeu um convite para participar mais uma vez de uma expedição científica nas Ilhas Marshall, um minúsculo país-atol (ou país de atóis) na região da Micronésia, tivemos que pegar nosso queridíssimo (e gasto!) atlas e verificar pra onde dessa vez a trupe ia ser levada.
No ano passado, uma expedição com 15 cientistas de diferentes países (Itália, Canadá, Brasil, EUA, Filipinas, Alemanha, Inglaterra, Austrália e Ilhas Marshall) passou 40 dias entre os atóis de Mili e Rongelap, também nas ilhas Marshall, fazendo um levantamento das espécies de fauna marinha encontradas por lá. O objetivo é angariar dados para iniciar um processo que transforme esses lugares em parques marinhos. Se ainda existem lugares totalmente remotos no planeta, esses 2 atóis com certeza estão nos primeiros espaços da lista. Em Mili, por exemplo, os pesquisadores tiveram que se adequar ao estilo “Survivor + National Geographic”: sem água (“faziam” água da chuva), comida de latas, fogo de côcos secos – e um mar azul cristalino pela frente para explorar e descobrir.
O trabalho consistia em vários mergulhos diários em diferentes pontos desses atóis para verificação/contagem do que era visto. O grupo foi dividido em subgrupos e cada dupla ficava em uma profundidade específica (10, 20 ou 30m) e era responsável por um grupo de animais (corais, peixes, invertebrados, etc.). Os resultados desse trabalho vocês podem verificar aqui ou no site do NRAS.
Rongelap, para quem como eu nunca tinha ouvido falar, foi o atol que sofreu mais de perto as consequências dos testes atômicos em Bikini, na década de 50. Os EUA explodiram Bikini, e as cinzas radioativas da bomba caíram sobre os vilarejos em Rongelap. A população começou a apresentar altos níveis de câncer de tiróide, foi removida do atol, e apenas recentemente, após a detecção de que a radioatividade lá era menor que em Nova Iorque (!!!), as populações locais puderam retornar aos seus lares. Para a vida marinha, entretanto, Rongelap se tornou um berçário perfeito, onde por quase meio século nenhum ser humano sequer chegou perto, nada foi pescado e tudo ficou a mercê do tempo, única e simplesmente…
Nada mais óbvio que esperar uma biodiversidade estonteante em um local virgem. Entretanto, como há pouco tempo o atol foi reaberto, existe um medo por parte das entidades de conservação de que Rongelap (e outros atóis remotos das Ilhas Marshall) se tornem alvo de pesca predatória de asiáticos – que já o fazem clandestinamente em outras ilhotas do Pacífico, na tentativa desesperada de manter a cultura culinária deles… (Mas isso é papo pra um próximo tópico.)
Vem desse medo a necessidade urgente de criação de um parque marinho. Para fazê-lo, de acordo com a regras normais, os cientistas precisam ter:
a) espécies-alvo: Espécies que potencialmente são alvos de consumo de aquariófilos ou restaurantes; ou
b) fortes indicações científicas de que o ambiente como um todo na região indicada precisa ser preservado por alguma característica única (ser um berçário, por exemplo) ou para que outra área de valor tão ou mais importante seja preservada.
Portanto, esforços foram agrupados para que um levantamento científico das espécies marinhas fosse feito e espécies-alvo detectadas – o mais rápido possível. E é nessa expedição mais uma vez que André está embarcando nesta quinta. Dessa vez, serão 3 semanas no atol de Namu, um lugar pra lá de remoto, mais uma vez sem água, eletricidade, sem comunicação (snif, snif…) e com muitos mergulhos e trabalho braçal pesado, fazendo levantamentos, e principalmente, fotografando a vida marinha.
(Algumas fotos da viagem do ano passado estão aqui.)
Desde já, estou torcendo pelo sucesso da expedição. É um trabalho de conservação fundamental, de suma importância e digno de muitos aplausos. Tudo pela preservação do que pode ser um dos últimos refúgios virgens dos mares da Terra.
Preserve Namu.
Viajando na maionese…
Você sabia?
…que a altitude máxima das Ilhas Marshall é de 10m?
…que no evento de um degelo polar, as Ilhas Marshall serão um dos primeiros países do mundo a desaparecer por completo?
…que as Ilhas Marshall possuem o maior índice per capita de suicídios no mundo? Essa informação foi coletada verbalmente em Majuro, capital do país. Ainda estou à procura do ranking da ONU, hehehehe.
*Mais fotos do atol de Namu nas Ilhas Marshall aqui.