Apenas uma ponte

por: Lucia Malla Antigos, Fotografia, Havaí, Mallices, Oahu

Eu adoro essa foto aí. Não tanto pela foto em si – é apenas mais uma paisagem havaiana… Mas pelo que eu viajo filosoficamente com ela. Uma ponte para o nada.

(A ponte em questão fica na baía de Kane’ohe, numa ilhota do lado leste da ilha de O’ahu, Havaí. Onde está instalado o Instituto de Biologia Marinha do Havaí. Esse lado de O’ahu tem um visual maravilhoso, dramático, das montanhas vulcânicas Ko’olau.)

A primeira vez que vi a ponte, fiquei embasbacada. Deslumbrada mesmo. “O quê?? Você achou essa ponte de araque interessante? Esse nada?” Sim, eu achei. Porque ela não leva a lugar algum a priori – a não ser que você queira cair dentro d’água. A foto não mostra, mas ela obviamente sai de um pedaço de terra. Ninguém sabe porque está lá, ligando o quê a o quê. Está instalada num instituto de pesquisa, um lugar onde se faz ciência, essa atividade altamente objetiva. Mas nada podia ser mais subjetivamente contraditório do que ela por lá.

Eu imagino essa ponte como a metáfora perfeita do caminho para os sonhos – todos, desde os mais impossíveis até os mais risíveis. Temos várias pontes iguais a essa representando cada sonho da gente lá no fundo. Afinal, sonhos não surgem de uma realidade em terra firme? Não são fluidos como água? E depois os sonhos não se expandem num infinito de incertezas? E não é a nossa vida esse pequeno trecho de cimento, com uma pequena estrutura pra você se segurar e não cair na água – para que todo o caminho seja percorrido até sua realização máxima? Não é o sonho um etéreo nada?

E quando você chega no final da ponte, você entra de cabeça na água… o que tem lá embaixo? Como você sairá de mais essa experiência? Vai se afogar ou vai curtir o novo? Vai nadar até a terra firme do outro lado? Vai nadar pra frente, por lado? Ou vai boiar um pouquinho e rapidamente subir na escadinha de volta? Ou vai dar meia-volta e desencanar do sonho, voltar à terra-firme pelo mesmo caminho sem ao menos pôr o pé na água?

Diante de tantas possibilidades nesse pequeno trecho de cimento que é nossa vida, deve-se apenas lembrar de olhar para as laterais e pra frente – a vista pode ser muito mais bela que o final da ponte em si.

A vista um pouco depois do fim da ponte.

Tudo de bom sempre.



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