Coloridos nudibrânquios

por: Lucia Malla Animais, Ciência, Mergulho, Oceanos

Estou selecionando fotos para um concurso de um calendário específico sobre nudibrânquios. Que por coincidência, são meus animais prediletos de procurar e ver em qualquer mergulho que faço. De certa forma mais até que tubarões, já que são pequenos.

Nudibrânquios coloridos
Dois nudibrânquios de espécies diferentes, mas com padrões similares, diferentes apenas em suas cores.

Quem são os nudibrânquios?

Nudibrânquios são moluscos conhecidos também como lesmas-do-mar. São invertebrados parecidos com vermes que apresentam suas brânquias (orgão de respiração na água) desnudadas, expostas ao ambiente marinho do lado de fora de seus corpos. Possuem rinóforos na cabeça, que são tentáculos sensoriais que os ajudam a detectar outros da espécie assim como moléculas de feromônio ou provável alimentação.

Nudibrânquios - Bornella stellifer
Bornella stellifer, cuja postura na folha de alga lembra um movimento sublime de dança moderna.

Vivem em geral em recifes de corais, e são minúsculos, a maioria não mais que poucos centímetros. Lentos, nadam apenas quando necessário, preferindo locomover-se pelo substrato como um verminho. Reproduzem-se em um verdadeiro balé aquático, e os milhares de ovos postos formam uma massa única pra lá de artística em cima de um substrato, com formatos que vão de uma mola a uma rosa.

Embora quando a gente fala “vermes” um certo asco natural venha à cabeça, uma vez que você vê o espectro de cores e estamparias que as diferentes espécies de nudibrânquios apresentam, você esquece qualquer nojo e se apaixona por eles.

Amor ao primeiro nudibrânquio

Foi assim que aconteceu comigo. No jurássico da minha faculdade, aprendi praticamente nada sobre invertebrados marinhos – e os nudibrânquios passaram incógnitos por todo meu currículo. Como eu estudava longe do mar, não houve incentivo extra algum para que aprendêssemos sobre o animal. Até que mais de 10 anos depois decidi aprender a mergulhar, por pura diversão.

Lesma do mar - Joruna funebris
Um dos mais engraçados, que chamo de nudibrânquio “oreo” (parece um monte de biscoito de chocolate em cima dele!): Joruna funebris.

Já no primeiro mergulho depois do batismo avistei um “verme” verde muito estranho em cima de uma rocha. Era meu primeiro nudibrânquio! Não conseguia tirar os olhos dele. Então cheguei perto para admirar suas cores – era listrado de verde e preto – e me apaixonei imediatamente por aquele colorido exótico. O bicho era simplesmente maravilhoso! E eu, uma adoradora de cores fortes, descobri que já tinha meu invertebrado favorito escolhido.

Quando cheguei em casa, empolgada com a visão colorida que tive no mergulho, fui procurar saber mais sobre os nudibrânquios. Classe, ordem, famílias, características comportamentais… Tudo que era possível coletar num livro de zoologia. E a cada foto de espécie que aparecia no livro, mais eu caía de amores por aquelas fofuras.

As cores dos nudibrânquios

Desde então, muitos mergulhos depois, já avistei uma boa quantidade de espécies. Cada uma delas me convence mais de que o universo arco-irístico que os nudibrânquios apresentam está provavelmente dentre os mais vastos da vida natural. As cores refletem na maioria dos casos, a sua dieta. Afinal, se comem esponja azul, empacotam o azul sob a pele. Existem espécies que se alimentam de algas coralinas, numa relação mutualística com as mesmas.

Ovos de nudibrânquio dançarino espanhol
Massa de ovos de nudibrânquio dançarino espanhol em uma rocha no Havaí. O formato de uma rosa vermelha é simplesmente meu favorito.

Em geral, o nudibrânquio estará na proximidade de sua comida, já que eles são extremamente específicos na escolha gastronômica. E se eles comem nematocistos de anêmonas com toxinas, por exemplo, empacotam essas toxinas sob a pele. Ou seja, as cores vibrantes no final das contas indicam toxicidade elevada. Como eles não possuem concha ou casco para proteção como outros invertebrados têm, os nudibrânquios evoluíram ao longo do tempo essa forma de defesa. É a produção/metabolismo de toxinas que os tornam impalatáveis para a maior parte dos predadores que tentam se alimentar deles.

Com tantas características fascinantes num bichinho tão pequeno, só espero imensamente que o aquecimento global não os leve à extinção também. Embora as perspectivas pro futuro não sejam das melhores já que o ambiente em que vivem (os recifes de corais) já estejam bastante ameaçados.

Espécies favoritas

Separei aqui para compartilhar com todos algumas das minhas espécies prediletas de nudibrânquios, que vi por essas andanças pelo mundo embaixo d’água – e que foram enviadas para o concurso para o qual estou inscrevendo as fotos. São ou não são uma verdadeira aquarela?

Nudibrânquio - Chromodoris willani
Chromodoris willani
Coloridos nudibrânquios - Nembrota cristata
Nembrota cristata.
Nudibrânquio - Chromodoris magnifica
Chromodoris magnifica.
Lesma-do-mar - Chromodoris kuniei
Um dos meus prediletos, o Chromodoris kuniei.
Nudibrânquio - Gymnodoris aurita
Gymnodoris aurita.
Chromodoris willani
Outro Chromodoris willani.

Pleurobrânquios

Berthelle martensi
Berthelle martensi
Pele de um pleurobrânquio
Detalhe da pele de um pleurobrânquio.

Esses dois aí de cima são pleurobrânquios (ordem Pleurobranchia), parentes próximos dos nudibrânquios. Apesar de não serem nudibrânquios, suas cores também são incríveis e estavam valendo para o concurso que estou enviando, então ficam aí pra vocês criticarem/apreciarem também…

O primeiro é o Berthelle martensi. Na foto de baixo, vemos o detalhe da pele de um outro pleurobrânquio. Particularmente, repare nos dois rinóforos (na forma de antena de função sensorial para detectar elementos químicos, metabólitos, alimentos e feromônios na água do mar). O padrão abstrato me deixa estupefata toda vez que vejo. Vida realmente maravilhosa, já dizia Gould.

Será que conseguiremos pelo menos uma foto no calendário do concurso? Torço que sim!

Tudo de bom sempre.



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