O plano infalível da infância feliz

Eu e o Daniel travamos um bate-papo muito interessante por email sobre blog carnivals na semana passada. Papo vai, papo vem, e ele me propôs o seguinte convite: contar dos quadrinhos que me trouxeram uma infância feliz.

(…) sei que não faz parte do assunto tratado pelo seu blog, mas gostaria de participar do Carnaval dos Quadrinhos das Quartas #10? Essa edição vai ser mais genérica, e estamos convidando blogueiros que não costumam escrever sobre quadrinhos mesmo, ou que não estão participando com a gente. Poderia tratar sobre qualquer assunto, revista ou personagem relacionado a quadrinhos. Aceita o convite?”

Eu realmente tenho pouquíssimo a falar sobre quadrinhos na atualidade. Aliás, tirando o fato de que arrumando coisas velhas tenho achado gibis antigos da Turma da Mônica por todo lado, meu contato com quadrinhos nos dias de hoje é ínfimo. Eis aí, portanto, um assunto que eu realmente não entendo nada.

Entretanto, os gibis fizeram parte fundamental da minha infância feliz. Decidi então dar um toque mais pessoal ao tema proposto pelo Daniel, contando aqui um pouco das minhas aventuras com a Turma da Mônica.

O plano infalível da infância feliz

Por que comecei a ler gibis da Mônica

Foi para poder ler sozinha e quando quisesse os gibis da Mônica que eu me esforcei a aprender a ler no pré-primário. (Quando eu falo “Mônica”, na realidade subentenda-se todas as revistas da Turminha: Cascão, Cebolinha, Magali e Chico Bento inclusas.) Já tinha muitas revistas em quadrinhos em casa, e ficava o dia inteiro azucrinando minha mãe para ler para mim. A independência era necessária. Mal entrei no pré, e já queria pular etapas, para ler o mais rápido possível. O estímulo da Turma da Mônica deu certo. Fui uma das primeiras da sala a soletrar e ler.

Até que um belo dia, eu inventei com meus amigos de fazer uma peça infantil da Turminha, com uma história de um disquinho de vinil (aqueles pequenos) chamada “O plano infalível”. Ensaiamos trocentos dias, e era sempre uma festa juntar toda a galera para na realidade brincar de personagem de quadrinhos. Na peça, fui o Cebolinha – que não era meu personagem predileto, eu sempre adorei mais a Magali e o Louco. A brincadeira de teatrinho foi um sucesso na vizinhança onde morava.

Histórias prediletas

Minha história predileta era a de Julieta Mônicapuleto e Romeu Montéquio Cebolinha. Perdi as contas de quantas vezes reli aquele gibi, o quanto delirava com o jogo de bolinhas de gude entre os meninos que decidiria a vida de Julieta. Ao ler as revisitinhas da Mônica, eu sonhava com estórias e aventuras pelo mundo, e talvez tenha sido daí que comecei a delirar cada vez mais com viagens. Foram as viagens na maionese da Turma da Mônica que me ajudaram a reforçar a importância do sonhar.

Em cofre não se guarda nada

Mas, o tempo passa. Eu cresci. E minha coleção de gibis da Mônica virou uma “enciclopédia” encadernada pelo meu pai. Está até hoje lá em casa, guardada com carinho em área de fácil acesso. Ainda tenho também meu Sansão de pelúcia.

Às vezes eu me pergunto qual a razão de guardar essas relíquias de um passado que não volta mais. Para meus filhos? Para meus netos? Ou para eu mesma cair na armadilha das memórias? Já dizia o poema de Antônio Cícero musicado pela sua irmã Marina Lima.

“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la

Em cofre não se guarda nada

Em cofre, perde-se a coisa a vista

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la

Mirá-la por admirá-la

Iluminá-la ou ser por ela iluminada”

Na realidade, no fundo eu sei porque guardo em locais acessíveis os gibis e meu Sansão de pelúcia e tudo que me lembra a Turma da Mônica. Para não esquecer nunca o quanto a minha infância foi feliz. Vivenciando aquele mundo de ilusões, desenhos e aventuras, sonhando e se deixando levar pelos sonhos criados, experiência que a genialidade do Maurício de Sousa me permitiu.

Obrigada, Maurício, do fundo do coração de uma fã há 32 anos do seu trabalho.

Tudo de bom sempre.

P.S.

  • A coleção de gibis da Mônica foi finalmente doada a outra criança em 2014. Para enfim fazer a infância feliz de outra pessoa…

Blog carnivals à vista…

  • Esse post faz parte da décima edição do Carnaval de Quadrinhos do blog do Hiroshi. Além disso, leiam outros posts sobre o tema lá, e prestigie essa iniciativa bacana da blogosfera. Aliás, essa edição promete.
  • Hoje tem “Carnival of the Cities”, lá no blog da Grrl Scientist. Se você quer dar um passeio virtual por algumas cidades do mundo, portanto, não perca: corra lá já! E se você escreveu em português sobre alguma cidade do mundo, participe do nosso “Mundo de Cidades” nessa sexta, dia 29/fevereiro. Minha contribuição está aqui.
  • E na segunda semana de março, inaugura-se o “Carnaval da Evolução” (precisamos de um nome legal para essa iniciativa, pessoal), idéia do Atila e hospedado em sua primeira edição por lá. Se você escrever qualquer coisa sobre evolução orgânica nesse período, portanto, participe! Convite especial vai ao Hermenauta, que pode trazer uma luz diferente sobre o tema.


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