O segredo do Bletchley Park

por: Lucia Malla Ciência, Europa, Inglaterra, Política, Viagens

Shhhh… Muito silêncio por aqui. A viagem de hoje é por um lugar secreto. Quer dizer, assim ele era até pouco tempo atrás. Hoje, entretanto, é um museu delicioso, resquício da inteligência aliada da Segunda Guerra Mundial. O museu chama-se Bletchley Park (ou “Estação X“).

O Bletchley Park fica no centro da Inglaterra, próximo a Milton Keynes. Sua localização foi estrategicamente escolhida, pois qualquer ataque aéreo inimigo significa passar por cima de um bando de cidades e vilarejos antes de chegar lá. E qual a razão de tanto mistério? Simples: no Bletchley Park eram decodificadas as mensagens dos nazistas e afins para retransmissão aos aliados. Sem as atividades do Bletchley, por exemplo, o dia D não poderia ter acontecido. E a Guerra talvez tivesse sido vencida por Hitler.

Bletchley Park - Inglaterra

O Bletchley Park da Segunda Guerra Mundial

Chegamos ao Blecthley num dia de sol de outubro de 2006. De fora, o lugar parecia uma casa de campo como outras tantas no Reino Unido. Os habitantes da cidade achavam que ali funcionava uma manufatura qualquer, e mesmo com tantos pubs (e gente bêbada disposta a falar tudo depois de várias Guiness), não se soube da existência de tal estação secreta até a década de 70, quando finalmente as atividades do Bletchley foram reveladas ao mundo, assim como sua localização.

De acordo com os dados do museu, cerca de 9,000 pessoas trabalhavam ali, a maioria mulheres. Além disso, nenhuma delas contava nada das atividades de inteligência realizadas. Gênios matemáticos como Alan Turing, pai da computação moderna, passeavam pelos jardins do Bletchley acima de qualquer suspeita. Ninguém os reconhecia, é claro. Na terra de Sherlock Holmes, esse segredo guardado a sete chaves parece até saído de livro de ficção.

Às vezes, afinal, a realidade surpreende.

Nossa visita no Bletchley Park

Ao entrar no museu, além da indefectível lojinha, começa-se um tour em meio a antigos computadores, decifradores de mensagens e a história de cada um dos cérebros por trás de toda aquela inovação tecnológica de guerra. Enigma, a máquina codificadora mais famosa do local, está à mostra, com toda sua imponência e desengonçatez. Era usada pelos nazistas para codificar suas mensagens. Seu código foi quebrado por outra máquina decifradora desenvolvida em Bletchley, a Bombe, que permitiu aos Aliados desvendar os movimentos de Hitler e garantir a vitória na guerra.

E, prova de que não há piedade histórica nem mesmo com essas máquinas poderosas, outro dia uma delas estava à venda no EBay. Tempos modernos.

Depois do passeio pelos grandes computadores e decifradores, no segundo pavimento do museu há uma seção dedicada à vida das pessoas durante o período da guerra. Artefatos pitorescos educam e divertem, como uma máquina de lavar roupa da década de 10 – basicamente um tanque com uma tampa dotada de uma manivela, onde a pessoa ficava girando um eixo, como uma pipoqueira gigante, e “lavando” a roupa. Infelizmente, fotos são proibidas dentro do museu, e não pude registrar essa pérola da rotina doméstica.

Vale a pena? Sim!

O passeio valeu a pena. Apesar da relativa distância de Londres, merece ser visitado, principalmente por aqueles interessados na história de computadores e afins. E mais não falo, porque o segredo de Bletchley merece ser deixado à revelia dos que vão lá, ao vivo e a cores, para descobri-lo.

Tudo de segredo sempre.

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