“Olhando para a bola eu vejo o sol
Está rolando uma partida de futebol!”
Aqui no meio do Pacífico, a Copa tem acontecido durante as madrugadas. Há um esforço extra requerido para fãs como eu que querem curtir cada vuvuzelada. Nos primeiros dias foi até fácil acordar às 3 para ver pelejas sem fim (clássicos bragantinenses do naipe de Argélia x Eslovênia). E primordialmente vibrávamos a cada apito do juiz. Há jogos às 8:30 da manhã, o que também propicia uma novidade que estou adorando, o café da Copa. (Grão brasileiro e pão de queijo no menu.)
Mas, à medida que a Copa segue, o nível da empolgação das equipes cresce na proporção inversa à minha vontade de acordar. E o despertador toda madrugada recebe, portanto, mais xingamentos meus que repórter da Globo em coletiva do Dunga. Manter um ritmo decente durante o dia depois de tantas noites acesas tem se mostrado um desafio. As olheiras já estão no estilo zombie, enfim. Mas a animação a cada gol não se abate, e ficamos todos olhando a bola fixativamente. Porque treino é treino e jogo é jogo, como já dizia o filósofo.
Pra frente Brasil! 😀
Aliás, um alívio essa vitória do Brasil sobre o Chile ontem de manhã. Confesso que estava com medinho de que o time não se encontrasse nessa oitava, mas felizmente os amarelinhos conseguiram dançar no mesmo ritmo e balançaram o gol 3 vezes. Ufa. Agora é esperar na 6a de madrugada para um jogo que promete uma briga de tons irmãos: laranjas e amarelinhos. Que a Holanda saia no vermelho dessa aquarela.
Para mim, o melhor jogo da Copa até agora foi Inglaterra x Alemanha no último sábado. Ambos times mostraram como um jogo de futebol pode ser incrivelmente bem jogado e emocionante ao mesmo tempo, olhando a bola non-stop. Porque, afinal, EUA x Argélia foi até emocionante, mas bom futebol ali deixou a desejar… Mesmo com a super-garfada do juiz, que tirou um pouco da graça do jogo, a Alemanha mostrou um futebol impressionante.
Mas eu sou suspeitíssima para falar. Porque eu adoro o time alemão há várias Copas. Torci muito, vibrei com os gols do Mueller, e daqui pra frente, é para a Alemanha que vice-torço – porque em primeirão no alto do pódio de torcida está SEMPRE o Brasil. A festa mostrada na TV no Tiergarten em Berlin me inspirou a abrir o app do Lonely Planet da cidade e viajar em minha imaginação pelas esquinas de Prenzlauer Berg – com uma cerveja Berliner Weisse Grüne em mãos. Deu saudade.
(Aliás, eu acho o povo alemão super-animado. Tenho a impressão que sou a única desvairada que não os acho frios. Animação metódica e organizada, mas ainda assim, animação que se esbanja.)
Falando em animação, aos poucos parece que os americanos começam a se empolgar pelo esporte. Ou talvez apenas os que conheço, americanos que moram no Havaí. Ainda é uma empolgação muito ingênua e minoritária, mas interessada – e interessante. A atuação do time USA contra a Argélia despertou um sentimento lúdico no povo americano. De repente, enfim, eles perceberam que também poderiam participar dessa festa da bola.
É um engraçado imperialismo às avessas. Eles querem expandir seu território futebolístico, mas estão totalmente cientes da dominação de n+1 outras pátrias nesta batalha, sabem que dentro do estádio são uma mera colônia a ser explorada – mas que vagarosamente se rebela. Se divertem nesse jogo de aceitação humilde tão exótico para eles: na partida EUA x Gana, no último sábado, recebi alguns convites – tímidos, mas vá lá, convites – para festinhas organizadas, cafés da manhã com soccer e afins. Para um país que desconhece qualquer regra de impedimento, achei um avanço interessante tal mobilização.
Agora, para conquistar mesmo o público ianque, é só o time americano deixar de jogar que nem FIFA Soccer, e jogar futebol de verdade. 😀
Esta é minha 2a Copa no Havaí. Passei também aqui a de 2002, super-recém-chegada na cidade. E amarguei assistir à final sozinha, de madrugada, sem poder comemorar direito, já que, totalmente newbie in town, não conhecia ninguém. O Cafu levantando a taça sob a narração sem sal da ESPN e um silêncio fúnebre na madrugada honolulense. Chorei de emoção pelo campeonato e de tristeza, de não poder gritar “é pentacampeão!”. Foi um desses momentos que ficam entalados na garganta da gente.
E estou pronta pra desentalar. Comemorar um campeonato de maneira decente aqui em Honolulu, com toda a farra que o hexa merece. Luis Fabiano, Robinho, Lúcio e cia iltda.: por favor, não me decepcionem. 😀
Nem tem como ser do mesmo jeito de 2002 dessa vez, pra falar a verdade. Armada do twitter no celular, mesmo de madrugada e muitas vezes com sono, me sinto assistindo aos jogos numa praça do Rio de Janeiro, com todos os comentários, discussões engraçadas, xingamentos e gargalhadas pertinentes à situação – e a galera praticamente me acorda. Adoro a Copa em 140 caracteres. Adoro as fotos futebolísticas que o @mauriciodesousa posta, dou muitas risadas com as tiradas do @silvioluiz, com a galera amiga de todos os cantos do planeta vuvuzelando no background da transmissão. Puóóóóóóóóó!!!!!
Tem sido uma viagem.
Tudo de festa do futebol sempre.
*Frase da música do Skank , “É uma partida de futebol”. Que faz todo sentido, já que da varanda de casa temos visto os primeiros raios do sol quase diariamente, desde que começamos a manhã olhando a bola começou a rolar lá na África do Sul.