Orientalidades

por: Lucia Malla Antigos, Ásia, Corais, Links gerais, Montanhismo

É comum vermos notícias do oriente nesse mundo globalizado. Mas algumas notinhas que apareceram pelo mundo ocidental nas últimas semanas chamaram minha atenção pelas sutilezas. Resolvi compartilhá-las aqui, como… Orientalidades. Ou seja curiosidades orientais sob a minha visão historicamente ocidental. Ei-las.

Orientalidades

O Japão anda com um dilema dos mais preocupantes (para eles, é claro). Mais especificamente, com seus palitinhos (ou “rashis”, como é conhecido em português o utensílio oriental utilizado para comer). A China, produtora de 97% dos palitinhos descartáveis de madeira consumidos no Japão e na Coréia, resolveu inserir um imposto de 5% sobre o produto. O imposto trará um aumento de 30% no preço final. A medida é reflexo de uma preocupação de Beijing com o desmatamento exagerado causado pela pressão da indústria madeireira do palitinho.

Obviamente, os ambientalistas adoraram a decisão. E, enquanto os japoneses debatem o que farão agora (pagar por palitinhos de madeira parece ser a alternativa mais razoável), os coreanos não se preocupam. Há tempos utilizam palitinhos de metal ou inox em suas refeições, minimizando o consumo de palitinhos descartáveis. E, além disso, colaborando para o ambiente, no final das contas. Ponto para os coreanos.

Mas nem tudo são cerejeiras na Ásia. Muitos ocidentais parecem saber (e reprovar) o consumo de carne de cachorro por parte dos coreanos (chamado de “boshintang”). Antes de mais nada, é necessário explicar o hábito. Come-se em geral no verão, a carne é ensopada ou cozida, considerada “medicinal”. Principalmente, os cachorros utilizados são criados em fazendas de abate específicas para tal, assim como o gado ou as galinhas que consumimos. A tradição é milenar, e os mais antigos ainda o fazem – há quem queira inclusive maior aceitação mundial. (Existem muitos restaurantes que servem carne de cachorro na Coréia, mas pouquíssimos deles acessíveis a estrangeiros, por sua localização “escondida” ou indecifrável grafia. Em geral, não escrevem no menu a existência da carne.)

Entretanto, os coreanos mais jovens repudiam a idéia, e consideram que a fama de “comer cachorro” que os estigmatiza pode trazer consequências “deploráveis” para a imagem do país, e deve ser mudada. Muito se faz para tentar reduzir o consumo. As associações de defesa dos animais ficam em cima de fazendas de criação de cachorros, e, ao menor sinal de problema, fazem escândalo na mídia ou protestos nas ruas. Entretanto, são notícias como essa, pinçada do Marmot’s Hole, que, quando chegam na mídia, jogam por água abaixo muitos dos esforços.

Os coreanos pretendem, em 2008, enviar o primeiro astronauta para o espaço. A empreitada será nos mesmos moldes do caroneiro brasileiro Marcos Pontes, via estação russa. Se Marcos levou apetrechos brasileiros para orbitar em volta da Terra, adivinha qual será o “souvenir” coreano na ausência de gravidade? Isso mesmo, o primeiro “kimchi espacial” está sendo especialmente desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa de Energia Atômica da Coréia. É, não são só os brasileiros que enviam experimentos esdrúxulos pra passear em volta da Terra, não…

(E não posso esquecer de mencionar a reclamação de um pesquisador brasileiro especialista em Antárctica sobre o gasto exagerado com o astronauta Marcos. Lamentável. Principalmente se lembrarmos das condições financeiras em que a ciência brasileira está no momento.)

Enquanto isso, a China continua “exportando” chuva ácida pros vizinhos… e poeira amarela. Sem dúvida, o futuro de um mundo menos poluído passa obrigatoriamente pela China.

Se eu fosse um pouquinho menos medrosa e mais empolgada em vulcanologia, viajaria agora para ver o Merapi, na Indonésia. Depois de tanto alarme, finalmente entrou em explosão piroclástica. Deve estar um espetáculo maravilhoso de se ver. E um perigo mortal de se respirar.

A última notícia asiática vem do Nepal – de onde mais seria, né? O neozelandês Mark Inglis, amputado das 2 pernas, chegou hoje ao topo do Everest. Mark, que perdeu as pernas por congelamento em outro acidente montanhista, decidiu não desistir de sua paixão pelo alpinismo por causa de sua deficiência. Pôs próteses nas 2 pernas e aprendeu a escalar com elas. Hoje, do topo do mundo, mostrou a todos que um objetivo, se realmente almejado com esforço e dedicação, é sempre alcançável. Uma prova sobre-humana da nossa extrema capacidade de realizar nossos sonhos a todo custo.

Tudo de Ásia sempre.

UPDATE

No mundo do mergulho, sempre que os maiores especialistas no assunto fazem aquelas “listas” de melhores locais para mergulho, incluem Sipadan. Esta ilhota na Malásia, no meio do maior centro de biodiversidade marinha do planeta, é uma das mecas sumarinas do mundo. Mais especificamente, o mergulho na Barracuda Point. Este lugar, de acordo com quem já esteve lá, é mais que sensacional e inesquecível.

Pois ontem, aquele que é considerado um dos mais lindos recifes de corais do planeta foi completamente destruído por uma balsa descontrolada. A balsa carregava materiais de construção. Embora Sipadan seja uma área de proteção ambiental, onde é proibida a construção de qualquer edificação desde a década de 90, o acidente aconteceu, devido à força dos ventos na área. A pergunta então é: o que a balsa fazia lá, em área tão rasa, sendo que é proibido construir na ilha? Enquanto investiga-se, o jeito é lamentar e esperar algumas centenas de anos para a área revigorar de novo. Vejam as fotos desse link, do antes e depois da tragédia. Não sobrou nada do recife para contar a história. De cortar meu coração.



460
×Fechar