Restaurando os recifes de coral

por: Lucia Malla Animais, Ciência, Corais, Ecologia & meio ambiente, Mudanças climáticas, Oceanos

Já faz um tempinho que li um suplemento especial da revista Science de 31 de julho de 2009 dedicado à Ecologia de Restauração. Este é um ramo da ecologia não tão recente (21 aninhos) que estuda como um ecossistema pode voltar ao seu estado de equilíbrio natural sem maiores perdas após ter sido degradado ou ter sofrido um grande impacto. Entretanto, a ecologia de Restauração vem ressurgindo com força na nossa atual realidade poluída. Afinal, lida com a recuperação dos ecossistemas que nosso desenvolvimento a qualquer preço deixa prejudicado. (Entenda-se boa parte dos recantos do planeta.) Queria pelo menos citar o artigo especial sobre projetos de restauração dos recifes de coral. Mas, enrolada que sou, terminei adiando…

Enfim, muitos meses depois, eis meu pitaco.

Projetos de restauração de recife de coral

Projetos de restauração dos recifes de coral

O artigo comenta basicamente sobre 4 projetos de restauração.

  • Na Laguna de Sekisei, perto de Okinawa, Japão.
  • Em Bolinao, nas Filipinas, num recife extremamente degradado pela pesca com explosivos.
  • “Silvicultura subaquática” testada em Eilat, no mar Vermelho e expandido para a Jamaica, Zanzibar, Singapura, Filipinas e Tailândia.
  • Replantio artificial em Palau.

Todos com um mesmo objetivo: recuperar áreas de recifes de coral que foram destruídos ou por causas naturais (tempestades e furacões, por exemplo) ou por causas humanas (poluição, sobrepesca, por exemplo). As ideias variam em preço, envolvimento da comunidade e tempo necessário para recuperação. O que reflete de certa forma a realidade bem diferente em cada um destes pontos do planeta. Mas a grosso modo, o que todos eles têm em comum é a manipulação dos corais. A manipulação é feita para aumentar a eficiência reprodutiva dos corais, levando portanto ao aumento da área de recifes em curto tempo.

Como é feita a restauração dos recifes de coral

A manipulação é feita de diferentes maneiras. Pode ser por quebra de pedaços, como no caso das Filipinas. Ou por fertilização em piscinas e posterior transplante, como é o caso em Palau. Ou ainda por “fazendinhas” de pequenas colônias protegidas de predadores que posteriormente podem ser replantadas em outro ponto, como em Eilat. Em todos os casos, é uma intervenção direta em áreas sub para equacionar resultados positivos.

Todas as idéias expostas no artigo são bacanas. São pequenas ações, sem dúvida. Mas que se renderem bons resultados localmente (o que parece que já está acontecendo em alguns casos) podem representar boas alternativas para recuperação de muitas áreas submersas do planeta. Principalmente para aquelas que ainda não chegaram num ponto irreversível de recuperação. Porque construir um recife de coral inteiro leva algumas centenas de anos. Portanto, o processo artificial de replantio ou transplante pode tornar o processo um pouco mais rápido (pelo menos no que concerne à facilitar sua reprodução).

Amplificar a restauração a partir de pequenos casos é uma estratégia simples. Além disso, de acordo com o estudo da Science, relativamente eficiente. Talvez até barata, envolvendo a comunidade local como no caso das Filipinas. Ou ainda usando materiais e/ou sistemas baratos, como em Palau e em Eilat. Isto é válido principalmente se pensarmos no preço que pagaremos ao não preservar. É importante, afinal, testar e validar idéias em pequena escala. Idéias que inspirem no futuro breve experiências de restauração em larga escala que possam resolver problemas mais graves como o excesso de poluentes jogados nos recifes.

A maior ameaça aos recifes de coral na ecologia de restauração

Entretanto, não custa lembrar que uma das maiores ameaças genéricas ao recifes de coral atualmente é a acidificação dos oceanos. Contra esta ameaça, somente a diminuição dos níveis de CO2 na atmosfera é a solução. Ou então o desenvolvimento de um mecanismo de captação de CO2 que não acidifique tanto o mar… É a saúde dos recifes de corais do mundo uma das muitas pautas que está em jogo na mesa de discussões em Copenhague nesta semana na Conferência de Mudanças Climáticas da ONU.

Restaurar o ecossistema dos recifes de coral de maneira eficiente vai necessariamente passar por atitudes ainda mais abrangentes. Principalmente, atitudes que enfrentem esta realidade acidificada.

Tudo de bom sempre.

P.S.



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