Ser viajante em tempos de aquecimento global

por: Lucia Malla Ecologia & meio ambiente, Faça a sua parte, Mudanças climáticas, Viagens

Como é ser viajante em tempos de aquecimento global?

Ser viajante em tempos de aquecimento global

Sabemos que aviões consomem uma quantidade fenomenal de combustível, necessárias para manter toneladas de metal no ar. Esse combustível todo, é claro, termina na atmosfera sob a forma de CO2, colaborando para a ciranda de problemas climáticos que vemos na atualidade. Principalmente aquecimento global.

Uma medição da temperatura atmosférica nos 3 dias consecutivos ao 11 de setembro de 2001 quando todas as aeronaves nos EUA estavam obrigatoriamente em solo, mostrou que a variação térmica diária era muito maior, ou seja, mais temperaturas baixas apareciam na escala do que a situação que vivemos diariamente, com os aviões cruzando os céus.

Alternativas à aviação

Felizmente, já existem pessoas e empresas procurando alternativas a esse problema, tentando construir um avião ecologicamente correto. Entretanto, a maior parte dessas alternativas ainda são idéias pro futuro, não imediatas. Na prática, o que podemos fazer hoje é sermos bons consumidores e tomar medidas para diminuir as emissões de CO2 relacionadas a viagens.

A mais drástica delas para um viajante apaixonado é deixar de viajar de avião. Ou tentar viajar apenas quando estritamente necessário. Nesse caso, procurar empresas com melhores ofertas (onde os vôos provavelmente estarão mais cheios e a eficiência de transporte é maior) ou que sejam mais “ecologicamente corretas” – embora o avião em si não o seja, a empresa responsável por ele pode ter planos de diminuição de CO2 em ação, incentivar projetos ambientais, etc. Afinal, o avião ser um agente poluidor ainda é reflexo de um problema tecnológico de modelo – a “eterna” e errônea dependência do petróleo.

Parênteses

Um amigo meu inglês está nesse momento viajando da Inglaterra ao Tibet de trem, para evitar exatamente o uso de avião. Vários dias na estrada. Esse é talvez o maior exemplo de pessoa preocupada com o ambiente com que já me deparei. Fim do parênteses.

O valor das viagens

A questão, entretanto, que martela em minha cabeça é outra. Não viajar, ao mesmo tempo que beneficia o ambiente, é um problema para a melhoria da sociedade como um todo, porque no extremo do raciocínio, estaríamos fadados a conhecer apenas nossos arredores, e não o mundo – experiência que eu garanto, é impagável na formação de uma mentalidade global.

Não há internet nem fotos possíveis que tragam o barulho das mobiletes nas ruas de Taipei, os miados dos zilhões de gatos que andam à deriva em Honolulu, ou o cheiro (deliciosamente desagradável, por sinal) das bolhas de sulfa nas crateras de Rotorua, na Nova Zelândia. Essas experiências sensoriais fazem parte do “estar em um local” e elas enriquecem a visão de mundo, nos tornam de certa forma pessoas mais flexíveis, adaptáveis. Elas colaboram para sua visão aberta de horizonte, e te mostram o quanto a diversidade étnica, de idéias e de ecossistemas é um bem de valor inestimável. E isso no final colabora para a existência de cidadãos mais preocupados com questões globais. Uma roda-viva.

Viajar em tempos de aquecimento global

Penso muito nessa contradição, e me dói. Afinal, sou viajante inata, amo viajar. Pelos meus últimos cálculos, precisaria plantar 111 árvores para compensar as 16.7 toneladas de CO2 que ajudei a deixar na atmosfera apenas em 2006, resultados de tantas viagens de longa distância – só as viagens transpacíficas já estourariam qualquer limite aceitável. Preciso começar a fazer como Dave Matthews e Al Gore, que “compram” árvores antes de viajar na tentativa de (tentar) neutralizar a emissão própria. Ou, pelo menos, amenizar. Sugestões mais eficientes para este problema são bem-vindas.

Tudo de bom sempre.

 P.S.



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