Sexta Sub: cadê os machos de tartaruga?

por: Lucia Malla Animais, Mudanças climáticas, Sexta Sub

Parece incrível: não consigo passar uma semana sequer sem ler/saber de alguma notícia triste/deprimente sobre o futuro dos oceanos. E olha que tento procurar pontos de esperança, mas… Às vezes fica complicado, infelizmente.) A notícia triste desta semana vem de um estudo feito na Austrália com participação do NOAA-Havaí. Foi publicado no Current Biology e comentado neste artigo da National Geographic. Primordialmente, em um dos maiores pontos de desova de tartarugas-verdes do mundo, as tartarugas que vêm nascendo são em sua maioria – e põe maioria nisso! – fêmeas. Isso mesmo. Vai começar a faltar machos.

Cadê os machos de tartaruga?

Mudanças climáticas e a falta de machos

A razão para tal fenômeno não é novidade… O aquecimento global, enfim. As mudanças climáticas, ao aumentarem a temperatura oceânica e atmosférica, favorecem o nascimento de fêmeas. Isto acontece porque o sexo destes répteis é determinado pela temperatura em que seus ovos são expostos dentro do ninho. Sem temperaturas brandas, menos machos.

A constatação principal deste estudo já é desastrosa. Afinal, que população biológica sexuada não-partenogenética pode se sustentar no futuro apenas com fêmeas? Mas mais absurdo ainda é a informação que está mais pro final do artigo. A de que este fenômeno vem acontecendo já há uns 20 anos. Portanto, as tartarugas de águas mais quentes do Pacífico sul já são mais de 85% fêmeas.

A falta de machos é um problema até contornável artificialmente. Pode-se chocar os ovos em cativeiro, por exemplo, apesar de requerer uma trabalheira daquelas e uma grana razoável. Além disso, até agora este é um problema constatado apenas nas populações próximas da Austrália – o que já gera a pergunta imediata de quanto feminilizadas estão as demais populações de tartarugas de outros oceanos do mundo, incluindo a enorme população havaiana.

Mas confesso que a constatação (de novo!) de que nosso “futuro do presente” aquecido já está interferindo na vida de um réptil tão carismático de maneira quase irreversível é a mais difícil para processar. Me deixa de coração encolhido.

Adoro tartarugas. Vê-las calmamente nadando em sua quase-dança aquática ou descansando na praia é das visões mais marcantes e tipicamente havaianas que tenho.  Das visões, aliás, que não me canso. É o tipo de memória que eu adoraria que as futuras gerações também tivessem. Mas pelo visto, isto é wishful thinking. 🙁

Tudo de mar sempre.



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