Sobre a hora do planeta

por: Lucia Malla Comportamento, Ecologia & meio ambiente, Faça a sua parte

Parece que há uma campanha mundial para que se apague as luzes hoje, sábado, por uma hora. Li comentários sobre a iniciativa por tudo quanto é lugar na internet. Embora aqui no Havaí, por uma coincidência interessante, não tenha ouvido nada. (Ou talvez não prestei atenção o suficiente, vai saber. É a tal “hora do planeta”.

Sobre a hora do planeta

Acho uma iniciativa louvável, confesso. No papel, pelo menos. A intenção de mobilizar tantas pessoas a apagarem as luzes – e se tocarem da importância e do gasto de energia pessoal – são a meu ver bastante inspiradoras. Seria o simbolismo do efeito formiguinha multiplicado, mostrando que dá certo. Mas confesso também que há algo na iniciativa que me incomoda. Um quê de utopia; de hipocrisia até. Foi a Fal quem melhor definiu a situação, há alguns dias:

“Lá vai a classe média aplacar a consciência pesada apagando luz por uma hora num sei quando. Depois volta a usar carro pra ir pra padaria.”

A Hora do Planeta na prática

Nesse texto da Ana Freitas, a exata dimensão do que o movimento na prática é, infelizmente:

“Mas as pessoas são mesquinhas, e mesmo que muita gente entre na onda da Hora do Planeta, a maioria esmagadora dela vai fazer isso pra aplacar um pouco da culpa por nunca ter feito nada e depois vai voltar pra vida normal.”

É exatamente por essa dimensão apaziguadora que fico triste. Porque o ideal, óbvio, seria que o fulano que nunca se preocupou com isso, a partir dos resultados da “hora do planeta” (se é que serão divulgados…), tornasse energia uma preocupação real na sua vida. Porque o ideal seria que todos se interessassem em “apagar as luzes” todos os dias, voluntariamente. Melhor dizendo, economizar energia, um recurso que é um verdadeiro jogo de xadrez político mundial, gerador de conflitos sociais e tensões econômicas, mas que a maioria de nós take it for granted e não parece se importar em seu cerne de existência de onde ele vem ou como é consumido.

As pessoas deveriam ficar felizes ao diminuírem o consumo de energia, até do ponto de vista do próprio bolso. Eu pelo menos fico, quando a conta de luz cai. Mas não: é preciso marcar dia e hora para que haja um esforço. Que, por isso, soa quase sobre-humano. Esforço que leve um indivíduo racional, Homo sapiens, com polegar opositor e telencéfalo desenvolvido, a fazer algo que deveria ser tão natural quanto escovar os dentes ou andar.

Meu ceticismo a essa estratégia

Para aqueles que nunca se preocuparam com energia, talvez a “hora do planeta” seja uma interessante primeira motivação para atitudes mais ecoconscientes no futuro. Talvez. Mas infelizmente, dado o estado que a banda toca no geral, ando cética. Acho que a maioria vai se sentir tendo “feito algo” e fim. Ponto final na história toda de “se preocupar com o ambiente”. Na próxima hora, depois de acenderem as luzes, voltarão a ser os mesmos esbanjadores de energia. (Muitos ainda dirão de boca cheia: “porque sou eu que pago a conta, ora, então deixa eu ligar a luz na hora que bem quiser”. Quando obviamente o ponto de toda a questão energética não é bem esse. Ou seja, em que esse indivíduo foi educado sobre energia depois de participar da hora do planeta?)

Sorry, galera, mas pra mim, hora do planeta é 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Hoje, manterei o mínimo de luzes acesas, tentarei gastar o mínimo de energia, economizarei água, como faço todos os dias da minha vida. Se não for assim, pelo menos para mim, não adianta a brincadeira.

Tudo de bom sempre.

P.S.

Esse post é a resposta a um questionamento amigo da Liliana, madrinha e inspiradora deste blog, deixado nos comentários do último post. Aliás, Lili, que bom que você está de volta! Saudades dos seus “desejos do dia”. 🙂



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