Sobre o Manifesto dos Blogs de Viagem

por: Lucia Malla Antigos, Blogosfera & mídia social, Publicidade, Tecnicalidades do blog

Nos idos de 2007, um dos assuntos mais discutidos na blogosfera brasileira era a tal monetização dos blogs. Os blogs, ainda nascentes e moleques, engatinhavam para o palco da internet. Na mais figurativa lógica dialética, havia a tese do blog-diário pessoal e a antítese do blog profissional. Um saudoso e histórico Manifesto, inclusive, escrito ainda em 2005, defendendo a liberdade dos blogs acima de tudo, de serem o que quiserem, quando quiserem. Muitos embates históricos travados entre posts e listas de discussão. Mas, nesse longínquo 2007, depois de muito papo em mesa de bar, quase ninguém definiu uma síntese – e pedimos todos outra rodada de cerveja.

O tempo passou, os tempos mudaram. O boteco fechou as portas.

Mas a profissionalização dos blogs ainda é motivo de discussão, agora em reuniões menos informais. Esperava-se que 5 anos depois tal assunto já estaria esgotado, ou pelo menos parcialmente elucidado e que as partes inclusas na querela, blogs e empresas, já teriam chegado a tal da síntese dialética acima desejada.

Infelizmente, a minha caixa de emails diariamente contradiz tal polianismo. Porque nem algumas empresas nem alguns blogs entenderam – ainda! – o que é ser profissional em tempos de internet, e continuam, 5 anos depois, enviando as mesmas propostas vazias e não-profissionais que pedem divulgação de release de produto/destino em troca de mariola ou iogurte estragado. Então que a Jana, cansada de ouvir a mesma ladainha, desabafou um dia e a discussão começou a pegar fogo no grupo do Facebook chamado Rede Brasileira de Blogs de Viagem. E saiu dessa discussão um documento, escrito pela própria Jana com co-autoria da Elisa Araújo, sócia e diretora comercial do querido VnV, e assinado/apoiado por vários blogueiros. Um manifesto, algo como “Marketing de empresas para blogs de viagem 101”, que tenta catapultar de uma vez por todas tal discussão, trazendo algumas diretrizes básicas desta vez focadas para os blogs de viagem e turismo, com os quais me alinho em parte – já que este cantinho também vive de falar de outras viagens menos reais e mais maionesísticas.

Há uma sensação de déjà-vu enorme em vários pedaços do documento. Discordo de partes, concordo muito com outras. Mas neste momento, pouco interessa minhas concordâncias e discordâncias. Interessa a organização de um grupo, a coesão. Interessa o tempo: gasto respondendo diariamente a emails sem-noção de empresas/agências de publicidade mais-sem-noção ainda – porque tento ser educada, respondendo a todos nem que seja com duas linhas simples, e isso infelizmente consome tempo. Daqui pra frente usarei em meus emails-resposta o link para o post anterior, porque ele traz a força de um grupo, que vivencia e agora se posiciona quase-oficialmente perante as mesmas questões. E usarei também para economizar meu precioso tempo e sobrar mais horas para me dedicar, no mais nostálgico estilo pela liberdade e democratização da opinião, ao que realmente curto no blog: escrever, compartilhar, fazer ressoar minha (calma e pausada) voz na multidão dos bytes.

Mas no fundo, bem no fundo, o que meu otimismo poliana gostaria mesmo é que as empresas e agências de publicidade lessem com carinho e finalmente entendessem cada linha e entrelinha do documento. Se isso acontecer, todos os 5 anos de discussão de profissionalização terão valido a pena – porque a alma nem o aprendizado não foram pequenos, parafraseando o poeta.

Tudo de bom sempre.

(E muito obrigada, Jana e Elisa, por escreverem e organizarem tão bacanamente tal manifesto.)

“E se hoje a informação é o poder, nunca ele esteve tão próximo de cada um de nós, livre e democraticamente.” (Daqui, com saudades.)



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