Não há muito o que falar sobre Macau, pois fiz apenas um day trip para lá, a partir de Hong Kong. Portanto, minhas impressões podem estar bem equivocadas. Afinal, foram coletadas rapidamente, em um dia. Mas aí vão elas, de qualquer forma.
Primeiras impressões de Macau
Ao chegar em Macau de ferry boat, é inevitável a comparação com a “prima-rica” Hong Kong: afinal, a rica HK era entreposto comercial inglês até bem pouco tempo atrás, e a “prima-pobre” Macau foi entreposto lusitano. E lusitano, no mais sarcástico humor, é a melhor definição para o clima geral de Macau.

A arquitetura de influência portuguesa no centro de Macau, e principalmente o português presente no estilo relaxado e bucólico das pessoas em Macau, exemplificado pelo costume de ficar sentado em pracinhas jogando conversa fora como nas boas cidades do interior brasileiras…
A influência portuguesa
A influência portuguesa é vista em cada esquina, em cada placa, em cada recanto da cidade: na arquitetura, nos costumes alimentares, no ritmo da cidade. MAS… são chineses (!!), estamos na Ásia, e a maioria das pessoas nem português direito fala! Inusitado, pelo menos. De acordo com o que um brasileiro em Macau disse, o governo chinês está contratando pessoas que tenham como primeira língua o português para lá trabalharem. Esta é uma tentativa final de revitalizar a língua que dominou as trocas comerciais nos últimos séculos. Mas só as trocas comerciais, pelo visto. Qualquer tentativa de comunicação em português por lá foi logo descartada. O inglês é a língua universal, ora pois.
Mesmos erros?
E isso tudo gera uma certa confusão na cabeça da gente, principalmente daqueles que vêm de um país dominado por tanto tempo pelos mesmos portugueses. A sensação que eu tive foi que os mesmos erros de visão e administração que os portugueses tiveram ao lidar com o Brasil (e onde os ingleses tiveram sucesso nas colônias do Norte) é repetido na comparação Hong Kong/ Macau.
Eu sei, é uma visão ultra-super-simplista da situação. Mas é tão gritante a olhos nus que Macau foi “usada e abusada” como entreposto, e nunca pensada como um lugar oficial para os portugueses. Portanto, infelizmente essa visão simplista toma conta e obscurece qualquer outra razão que possa ter existido. E se tivéssemos mantido a língua dos indígenas que aqui habitavam? Como dizia Oswald de Andrade, e se fosse um dia de sol quando os portugueses chegaram no Brasil? Será que o português também teria esvaecido, como aconteceu em Macau?

Uma Malla em Macau. Aí estou eu, ao lado da placa de um largo no centro de Macau. Todos os sinais e placas da cidade são bilíngues, embora a população chinesa pouco saiba de português.

Pra dar risadas: uma loja de “quinquilharias” – o velho armarinho “vende-tudo” do Brasil…

Igreja de São Paulo, com o detalhe de um galo em frente à mesma (resquício de celebração do Ano Novo Chinês).
As ruínas da Igreja de São Paulo
Entretanto, além das observações de “cidade”, deu pra passearmos em alguns pontos turísticos de lá, como as ruínas da Igreja de São Paulo, no largo da Companhia de Jesus. Uma igreja muito similar as de Ouro Preto e afins, embora apenas a frente tenha sobrado. Existe também uma fortificação portuguesa ao lado dessa igreja, onde hoje funciona o museu de Macau, e de onde canhões no passado miravam o porto tão valioso. Hoje apontam pro vazio, para a ausência de disputa e futuro.

Um pedaço do largo em Macau. Estamos ou não em uma Parati da Ásia?
Feijoada em Macau

Minha feijoada em Macau!! I couldn’t believe!!!

Um passeio pelo calçadão central de Macau, onde uma feira de produtos para o Ano Novo Chinês estava acontecendo: não parece que estamos no centro do Rio antigo?

Um templo budista chinês. Macau: onde a cultura do dominador não prevaleceu tanto assim entre o povo.
De qualquer forma, fomos a Macau para sentir essa “estranheza”, e eu, particularmente, fui lá para comer feijoada. Sim!!! Meu prato predileto, servido com toques da culinária macauense, simplesmente perfeito! Tracei a feijoada sem dó nem piedade. Acho que só quem já morou no exterior sabe das dificuldades para se encontrarem alguns ingredientes simples para brasileiros. Portanto, comer uma feijoada é um prêmio que prezo muito. O mesmo para o pastel de pizza da feira da Mourato Coelho. Mas aí já é outra história…
Tudo de bom sempre.
P.S.
- Devo dizer que andar por Macau é como andar por Parati ou Ouro Preto. Mas com traduções em chinês para todos os lados. Achou estranho? Vai lá conferir essa doideira. É de dar nó no cérebro…