Educação na era Google

por: Lucia Malla Ciência, Educação, Tecnologia

Nesse mês de julho que passou, o Roda de Ciência dedicou-se a conversar sobre o ensino básico em geral e sua participação no despertar da criatividade e curiosidade para a educação. Para variar, aos 45 minutos do segundo tempo, eu deixo aqui minha colaboração na discussão comentando sobre o google.

Educação na era Google

Educar não é tarefa fácil

…e educar para a ciência talvez seja mais complexo ainda. Digo isso porque há, sem percebermos, uma pressão para a especialização exagerada. Mesmo uma criança tende a virar e perguntar “Pra quê estou estudando isso?”. A resposta a essa pergunta não é fácil, e provavelmente muito professor já se cansou de ouvi-la.

Na infância, a percepção utilitarista da ciência é minúscula. E, não raro, indignamo-nos (e irritamos nossos pais) em aprendermos a taxonomia animal ou distinguir diferentes tipos de rocha. É mais simples a meu ver entender porque precisamos fazer análise sintática (para escrevermos melhor, algo que você exercita com frequência em todas as disciplinas) ou aprender equações trigonométricas (para saber calcular áreas e afins) que as questões que a ciência impõe.

Só que essa visão pragmática com a ciência, que vi em quase todos meus amigos de colégio, eu não compreendia. Porque desde sempre fui apaixonada por conhecimento. Se não para o vestibular, o desafio de aprender algo novo sempre me deixou de olhos brilhando – até hoje sou assim. Mas infelizmente, sei que esse comportamento não é um padrão, e sim a exceção. A regra, na atualidade, é muito mais triste.

A realidade da educação atual

Vários amigos meus trabalham no ensino básico. Eles são unânimes em dizer que há um desinteresse coletivo pelo aprendizado. Não sou professora, e vejo apenas de fora essa situação – talvez a falta de prática pedagógica no ensino básico torne um pouco tosca a minha análise. Mas para mim, há um desinteresse coletivo pelo ensino de modo geral. Incluindo aí a figura do professor, que recebe mal, trabalha muito, vive quase num sacerdócio para ser o que é. O aluno percebe esse desânimo/desinteresse e apenas rebate o que está recebendo.

Por outro lado, acho também que há um problema grave no método educacional em geral – e incluo aí de escolas públicas a privadas de elite, de brasileiras a coreanas. A sociedade mudou, a tecnologia avançou anos-luz, mas ainda temos o mesmo esquema be-a-bá, decoreba e cansativo para forçar o aprendizado. As crianças hoje têm acesso a um mundo de informação muito maior que há algumas décadas. E elas, em sua maioria, já chegam a escola “semi-educadas” – o termo não é bom, mas significa que elas já aprenderam algo valioso antes da escola. Cabe ao professor nesse caso filtrar e reorganizar esse “aprendizado caótico” que ela traz da experiência dela no mundo lá fora. Acrescentar o “conhecimento formal” inserido nesse novo contexto da criança, de forma que aguce sua curiosidade e interesse em aprender.

Giz e Google

Nunca se escreveu tanto como hoje – blogs, torpedos, scraps no orkut, emails, etc. Em miguxês, que o seja, mas escreve-se: desenvolve-se o hábito da escrita. Será que o professor não pode aproveitar esse hábito já cultivado e transformá-lo numa plataforma para o aprendizado da “norma culta”? E principalmente, no campo da ciência, trazer o confrontamento: a idéia de que nem tudo que se ouve ou lê é verdade absoluta.

Aprender a usar o Google de forma a não se enganar e sim, a acrescentar conhecimento. Saber buscar a informação correta, na fonte correta, entender o processo de formação do conhecimento. Em minha opinião, devíamos ser educados desde cedo a questionar, a formar hipóteses testáveis. A fazer ciência – em todas as disciplinas. Transformar esse ideal em realidade não é tarefa simples. Principalmente diante da situação caótica de falta de preparação pedagógica dos professores e de estrutura que vemos e vivemos. Mas quem disse que educar é tarefa fácil?

Tudo de bom sempre.



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