Gravidez e diabetes: qual o perigo?

por: Lucia Malla Ciência, Diabetes

Faço parte de uma comunidade de mídia social super-dinâmica chamada Diabetes Brasil. E lá na comunidade, no burburinho de assuntos relacionados a diabetes, um dos temas mais polêmicos é o perigo da gravidez das diabéticas.

Não é para menos. A diabetes é uma patologia crônica, que requer cuidados diários e constantes para a manutenção estável da glicose. Portanto, é preocupante a princípio que uma mulher diabética engravide. Por vários motivos: as mudanças bioquímicas e fisiológicas no corpo da mulher durante a gravidez são enormes, os hormônios se alteram (a placenta produz muitos hormônios que perturbam os níveis de cortisol e insulina) e esses hormônios podem alterar a glicemia. A glicose da mãe passa pela placenta pro bebê. Mas, interessantemente, a insulina materna não passa. Portanto, é o próprio bebê que produz a insulina dele. E ninguém quer um bebê com taxas alteradas de glicose, afinal.

Os cuidados necessários de uma gravidez com diabetes 

Se a glicose do feto está alta, ele pode nascer com tamanho avantajado dificultando o parto. O feto pode também começar a produzir muita insulina para normalizar tanta glicose que está chegando até ele. Dessa forma, o bebê pode iniciar um quadro de resistência insulínica. Um quadro assim aumenta a predisposição do bebê no futuro a ser obeso e desenvolver diabetes tipo 2, além de aumentar suas chances de desenvolver problemas respiratórios.

Se a glicose da mãe está baixa demais (hipoglicemia), o bebê também fica hipoglicêmico. Isso pode afetar o desenvolvimento pleno da criança. Portanto, é fundamental para uma diabética que, ao engravidar, ela passe a ter controle rígido da taxa de glicose em seu organismo. Que siga um plano pré-natal regradíssimo, incluindo pelo menos um endocrinologista, um obstetra e um nutricionista. Ou que faça com frequência exames. Que seja acompanhada por um profissional em seus resultados, dieta e tudo o mais.

Controle glicêmico é fundamental

É exatamente pela falta de controle do açúcar que o perigo e as complicações de gravidez apresentadas por muitas diabéticas acontecem. Durante a gravidez, é provável que a diabética tenha que usar mais insulina para manter a taxa de glicose normal, mas não pode usar tanto que gere o perigo de uma hipoglicemia. Uma sintonia fina, difícil de calcular. Porém, fundamental para a boa saúde tanto da mãe quanto do bebê. Mas, e no início da gravidez, quando a mãe tem vontade de comer certas comidas, muitas vezes cheias de açúcar?

Alimentação correta sem prejuízo pro bebê

É devido aos “desejos” no início da gravidez, principalmente no primeiro trimestre quando o feto está se desenvolvendo muito e crescendo pouco, que uma diabética deve ser acompanhada por uma nutricionista. Este profissional deve lhe indicar alternativas alimentares eficientes. Por exemplo, uma das diabéticas grávidas da nossa comunidade comentou que teve desejo de bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Ela comprou todos os ingredientes diet, fez um bolo, comeu um pedaço, mediu a glicose, tomou insulina. E matou, afinal, seu desejo sem gerar perigo ao bebê.

Quando a mulher é previamente diabética, o controle começa praticamente no momento da concepção. Isto permite que toda a gravidez seja acompanhada, cuidada e no fim, nasça uma criança sem problemas. Mas às vezes uma mulher saudável, não-diabética, pode desenvolver a diabetes durante a gravidez, a chamada diabetes gestacional.

Diabetes gestacional

A diabetes gestacional em geral aparece no segundo ou terceiro trimestre. É quando o bebê já desenvolveu boa parte de seu organismo e está apenas crescendo e especializando seu organismo. Não se sabe até hoje o que inicia o processo. Acredita-se que o excesso de progesterona possa aumentar a produção de insulina pela mãe. Isto levaria à resistência insulínica periférica (em tecidos como músculos e fígado) que a mãe apresenta.

Aproximadamente 40% das mulheres que desenvolvem diabetes gestacional, se não controladas nem tratadas, podem morrer e matar o feto por consequência. Isto por causa da alta do açúcar (hiperglicemia) materna. Entretanto, um teste simples de curva de glicose durante o segundo trimestre da gravidez pode salvar a vida tanto da mãe quanto da criança. Entre 5 a 10% das grávidas previamente não-diabéticas desenvolvem diabetes gestacional. Embora a taxa seja pequena, o índice de mortalidade quando não tratada é alto. Por isso, o teste de glicose é um dos primeiros da lista do pré-natal.

Como tratar a diabetes gestacional

Gravidez e diabetes - qual é o perigo
Imagem de Mliu92 sob licença, via Wikimedia Commons.

O tratamento da diabetes gestacional é simples: dieta equilibrada e exercícios físicos, na maioria dos casos. Mas deve ser seguido à risca. Se essa mudança comportamental não é suficiente para manter estável as taxas de glicose, então a mãe precisa tomar insulina.

Embora a diabetes gestacional seja classificada como um tipo “especial” de diabetes (depois da gravidez, em geral ela desaparece), ela de certa forma se assemelha mais a diabetes tipo 2 (forte resistência periférica à insulina) que a tipo 1 (doença auto-imune que destrói as células beta do pâncreas). A diabetes tipo 2, no início, é tratada com medicamentos orais. Entretanto, não se sabe o perigo e os efeitos desses medicamentos orais no bebê. Este é o motivo pelo qual estes medicamentos costumam não serem recomendados para as gestantes. Ainda.

E depois que o bebê nasceu?

Depois que o filho nasce, a mãe que teve diabetes gestacional deve, por precaução, continuar controlando a glicose por pelo menos uns 2 meses. Se a glicemia volta aos níveis normais, ótimo. Se não volta, a mãe precisa continuar o tratamento. Afinal, sua diabetes gestacional pode ter sido uma indicação do começo de uma diabetes tipo 2. É importantíssimo que a mãe mantenha o controle glicêmico, para evitar futuras complicações na saúde dela própria. Assim, ela poderá aproveitar plenamente todos os momentos impagáveis que a maternidade traz.

Mas há outro ponto que quero deixar claro aqui. O fato da mulher ter diabetes (previamente ou durante a gravidez) não a impede, em geral, de ter filhos. Muito menos indica que seu filho será diabético também. Quando bem controlada e bem tratada, a diabetes não oferece perigo nem à mãe nem ao bebê. Portanto, o bebê nascerá saudável como todo bebê deveria ter o direito de nascer nesse “mundão sem fronteira”.

P.S.

  • Hoje é o dia Mundial de Luta Contra a Mortalidade Materna. A Denise organizou uma blogagem coletiva sobre o tema, que é difícil de ser abordado. Com este post, apenas toquei de leve no assunto. 
  • Leia mais sobre os tipos de diabetes aqui.
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