Se as malas falassem, o que diriam?
Malas, mochilas, bolsas e afins viajam com você para todos os cantos do planeta, e se pudessem falar, provavelmente contariam histórias engraçadas sobre diferentes linhas aéreas, porta-malas de carros e viajantes “mala”. Eu tento cuidar bem das minhas companheiras de viagem, pois confio a elas uma parte da responsabilidade de sucesso numa jornada turística. Se as malas não quebram ou desaparecem, sinto-me tranquila para encarar os desafios do caminho.
Muitas histórias. Já tive mala que saiu de Honolulu com destino a Vitória (ES) e que foi parar em Singapura. Já presenciei uma mala ser aberta e seu dono (meu tio) ficar estupefato ao ver que haviam trocado a sua de roupas por outra que só tinha livros e enciclopédias dentro – numa viagem de férias a Aracaju, isso custou aos meus tios o uso de roupas de parentes por 30 dias. Já vi uma mulher desconhecida pegando por engano a minha mala na esteira do Galeão e saindo na boa – se não fosse eu gritando igual uma louca que aquela mala era minha, teria perdido a danada. Já vi minha mala sendo a primeira e a última a sair na esteira. Já tive que comprar mochila de última hora numa cidade desconhecida porque minhas “comprinhas” super-lotaram a mala primária. Já viajei com um gato como “bagagem”, que foi despachado e chegou na esteira, zonzo de ficar rodando. Já perdi as contas de quantas vezes tive que abrir mala, mochila ou bolsa para alfândega – e nunca me esquecerei de que perdi minha preciosa garrafa de vinho tinto de Macau para um policial do Mao da alfândega em Beijing. E o pior de tudo: já ganhei uma mala acreana sem alça verde-abacate de um professor da faculdade, num amigo secreto de presentes de sacanagem. Posso dizer que tenho em casa a legítima mala-sem-alça-sem-rodinhas-de-zíper-quebrado. Verdadeira viagem de Malla com malas.
Tive uma mala bege, tamanho “médio a grande”, da Primicia (uma marca que sempre associei à adorada Turma da Mônica), que durou 6 duros anos, mas não suportou a vida de viajante pós-11 de setembro, e sucumbiu aos percalços da imigração americana no verão de 2003. Estava um desconsolo já: as rodinhas travavam a qualquer movimento, o zíper quebrado na parte da frente, o forro totalmente amassado, quase a ponto de precisar ser amarrada com uma corda para fechar. Era hora de aposentá-la, e em 2003, saí à procura de uma nova companheira de viagem.
Estava no Brasil no Natal de 2003, e uma das missões a que me incumbi foi comprar uma mala decente para mim que juntasse os três “B”s fundamentais: boa, bonita e barata. Queria uma mala grande, que coubesse bastante coisa, que comportasse 32 kg de bagagem sem problemas, e principalmente, que fosse fácil de carregar. Geralmente não viajo com 32 kg de bagagem, sou muito compacta ao preparar uma mala, mas como esse é o limite das companhias aéreas, é esse valor máximo que uso como parâmetro. Depois de rodar por várias lojas no Espírito Santo, consegui achar uma que se adequasse aos meus sonhos, e comprei: cinza, grande e de largas rodinhas.
Malas são objetos inexplicavelmente caros. Não acho que custe muito dinheiro para produzir uma mala numa fábrica chinesa da vida, mas posso estar errada. Afinal, nunca conversei com um fabricante de malas nem sei as dificuldades do mercado malístico. Enfim, ao encontrar essa mala cinza, estava disposta a pagar um valor X não muito alto, e a cinza, barata, foi algo como “amor ao primeiro orçamento”. Paguei.
Essa mala cinza me acompanhou em quase todas as aventuras de maior duração que fiz nesses 2 anos (menos para a Nova Zelândia, quando levei minha excelente mochila alemã “pau-pra-toda-obra” de 50 L, adquirida em 1997 por míseros 10 dólares). Na última viagem de volta das Filipinas, a mala cinza chegou em Seul com o puxador arrebentado e o forro amassado (o zíper já estava quebrado de uma viagem anterior). E eu nunca tenho tempo suficiente para reivindicações com a polícia imigratória; então deixei pra lá, e fui para casa. Mas a mala ficou inutilizável, e hoje, saí para comprar outra.
Escolher mala é difícil. As grandes são desajeitadas, mas cabem tudo que você quer. As pequenas… bem, fica aquela dúvida cruel de que elas serão insuficientes para viagens mais longas. (Eu geralmente começo a viajar na maionese na loja delirando coisas tipo “e se aparecer uma viagem pra Antárctica de última hora?”) Tem as malas de tecido impermeável, que são mais flexíveis, cheias de compartimentos, mas também podem amassar e rasgar. Tem as duronas, de metal ou fibra, que não aumentam um centímetro de tamanho mas pelo menos não estragam tão facilmente. Nunca tive uma dessas malas duronas, então não sei bem as vantagens e desvantagens desse sistema. Depois, tem a decisão do tipo de zíper – que eu nunca consigo sacar qual é o melhor. E por fim, a decisão mais supérflua e mais importante: a cor. Vi uma amarela que me fascinou, mas era minúscula, para bagagem de mão, e eu precisava comprar uma grande, e óbvio que não tinha dinheiro para as duas. Devolvi a mala amarela para a prateleira com dor no coração.
Após muita divagação na loja, arrebatei uma mala preta, de tecido, cheia de bolsos e compartimentos. Rodinhas supimpa. Tem um lugarzinho especial até para um cabide! Agora é começar o exercício de colocar coisas dentro dela e principalmente, ver se parte dos equipamentos de mergulho podem ser compactados dentro. Viajar com equipamentos de mergulho é complicado, porque na volta, muitas coisas ainda estão meio úmidas, e meu sonho de consumo um dia é ter uma daquelas malas perfeitas que cabem todos os apetrechos molhados mais as minhas roupas secas, sapatos, cremes e bobajadas, sem mistura de cheiros, e por um preço razoável. Será que existe?
Tudo de bom sempre.