Criador e Criatura.
Como falei num post anterior, minha relação com a Disney sempre foi ultra-gelada. Mas desta vez, hospedada em frente ao Downtown Disney e com mega-descontos na entrada (cortesia de participar de um congresso científico), tive que me render aos apelos mickeymouseanos: passei um dia na Disneyland.
Não doeu nem tirou pedaço, claro. Mas entrei naquele mega-parque com uma sensação de traição aos meus próprios princípios infanto-juvenis – a sensação mais patética que se pode ter numa situação dessas, que se entenda. Mas de Pateta a Disney entende, então estava tudo bem. Resolvi me dar um auto-pito e desencanar de vez. Estava na Disney, paraíso da fantasia infantil. Tinha mais é que resgatar a criança dentro de mim por um dia e curtir. Decisão tomada.
Mallices ou Patetices?
Vale ressaltar que fui com duas amigas do trabalho. Elas, bem mais novas, ainda curtem bastante, principalmente os brinquedos mais radicais e estavam muito mais escoladas em Disney affairs. Me senti uma caloura completa, já que elas pareciam ter o mapa da Disney decorado na cabeça.
Logo de cara, fomos na atração do Star Wars (onde vi o R2D2 e o C3PO dourado falando pelos cotovelos) e de lá partimos para o Space Mountain, montanha russa no escuro, cheia de luzinhas que simulam estrelas. Eu curto montanhas russas, mas há muito tempo não andava em uma e tinha acabado de tomar café da manhã (!) – receita para problema. Durante o trajeto super-veloz do Space Mountain, senti meu estômago dar todas as voltas. Por sorte, saí intacta (e limpa). Pelo menos, este mico não paguei.
Para relaxar um pouco e amenizar as reviravoltas que meu estômago dava, fomos pro brinquedo do Nemo, um submarino amarelo que afunda numa “laguna” de (supostamente) água salgada onde veríamos os personagens do desenho. Eu fiquei empolgada achando que a laguna teria uns peixinhos coloridos pra gente ver mas… nada. A laguna é vazia de vida (tem uns bonecos de peixe e humanos espalhados) e o que vemos do Nemo são reproduções na caverna, com o Bruce, a Dory, etc. O passeio de submarino vale pelo descanso, mas decepcionante – e aí eu me dou um reality check: Lucia Malla, você está na Disney, a terra da fantasia! Claro que eles vão abusar dos efeitos mágicos. Enfim.
Submarino amarelo do Nemo.
O dia continuou, e nós fomos em praticamente todos os brinquedos – só não fui no Splash Mountain (porque não estava a fim de me molhar com o vento frio do fim da tarde) e no MatterHorn, que estava fechado para manutenção.
Castelo da Disney num dia considerado vazio.
A vantagem de não ter crianças a tiracolo foi poder agilizar entre um brinquedo e outro, e poder aproveitar ao máximo em um dia apenas. Vantajoso também ir ao parque em um período não-férias, não-spring break, não-feriado: as filas estavam super-tranquilas e basicamente em todos os brinquedos a gente pode entrar quase de imediato. O que, pelos relatos que ouvi da maioria, é uma raridade.
Na hora do almoço, estávamos perto da área de “Western salons” e entramos num restaurante qualquer que mais parecia um teatro antigo de um filme de meio-oeste. Numa ótima surpresa, mal eu pedi a comida e começou um show de “old Alabama”, com um piano tocando músicas do Sul e um carinha fazendo piadas. Foi inesperadamente divertido, almoçar vendo uma atração.
O brinquedo que mais curti foi o mais inesperado, a Casa Mal-Assombrada. Curti pelas inserções em 3D dos fantasmas, inclusive dentro do nosso carrinho. Um barato. E o mais chatinho que achei foi o passeio pelo Small World, com aquela musiquinha neurótica over and over, e aqueles bonequinhos sorridentes que me lembravam filmes de terror. Achei freaky, por incrível que pareça.
Mas o mais emocionante (e o que vale mais a pena) é sem dúvida ver a cara das crianças (e das crionças…) quando o Mickey, a Minnie, o Pluto, o Pateta ou quem quer que seja aparece pelo parque. O Mickey principalmente. Há um fascínio genuíno, uma emoção infantil, um sorriso inexplicável que faz o coração da gente amolecer. As crianças respondem aos estímulos do mundo da magia esbanjando felicidade e brilhos no olhar. É realmente um sonho realizado para os pequenos, emocionante de se ver.
Mas o mundo da magia e da fantasia é também o mundo do consumo. Vender tranqueiras Disney é o que movimenta o mercado para eles, o que dá o lucro efetivo. A existência de pelo menos 3 lojas de alguma coisa ao redor de todos os brinquedos atesta tal hipótese – e os preços salgadíssimos de todas estas tranqueiras ali dentro. Ok, as crianças estão de férias, querem mais é curtir. Mas há um exagero nítido, uma ostensividade desagradável. O poder de conquistar o consumidor infantil é o que mais me incomodou por todo o dia, confesso. Porque é impossível (pelo menos eu não vi) uma criança sair ilesa dali, sem pelo menos comprar uma orelhinha que seja. E haja meninas pedindo vestidos, maquiagem de cabelo de princesa – a produção completa não sai por menos de 100 dólares. E meninos querendo espadas, roupas de Indiana Jones e afins. Fora as indefectíveis orelhinhas de Mickey e Minnie, em todas as cores, estilos e variedades possíveis e imagináveis, a preços a partir de 15 dólares (e a sensação que tive foi de que eu era a única a andar por ali sem uma. Faça as contas.)
Parada Disney no fim da tarde. Foi o único momento em que vi o Pato Donald, mesmo assim só inflável – devia estar de férias… 😀
À parte o problema do consumo exagerado (que eu acho um grande problema mas), tudo o mais na Disney é realmente divertido, principalmente se você veste a camisa da brincadeira. Ao fim da tarde, assistimos o tradicional desfile dos personagens, que agora, por questões de orçamento curto, só é finalizado com fogos de artifício nos finais de semana. Fomos numa 4a feira, e a parada acabou e fim, nada de show iluminado no castelo.
Olha a havaiana Lilo!
Na saída do parque, depois de rodar nas xícaras de chá da Alice e me esbaldar com o Pateta, fui passear pelo Downtown Disney, uma área aberta de lojas, restaurantes e bares – mais uma chance de gastar dinheiro, porque afinal, você quase não as teve no parque, né? [ironia]. E tirei minha carapuça de criança para voltar a ser a pessoa “séria” que sempre fui. Ou não. 😉
Tudo de fun sempre.