Fiquei sabendo da notícia esta semana via twitter do TheRightBlue. Nauru, um país-ilha do Pacífico cuja história recente desastrosa contei antes, é a primeira nação a apoiar mineração nas profundezas do mar. Isto mesmo: escavar o fundo do mar. A notícia me soou bizarra a princípio; depois de pensar um pouco mais, me soa desesperada.
O país investiu tudo que possuía numa estratégia financeira dependente de um recurso não-renovável, a mineração de fosfato. Depois de literalmente acabarem com a ilha – ou melhor, exportarem-na na forma de jazidas menores para diversos pontos do planeta – , sobrou em Nauru uma população que basicamente só sabe viver de mineração. Esta população foi educada a escavar e minerar. Principalmente, desaprendeu seu passado de pescadores e cultivadores de ilha e cuja base alimentar hoje depende quase que estritamente de importação de junk food.
Nauru no fundo… do poço
A base de sua economia hoje? Ajudas da Austrália e aluguel de imóveis pelo mundo. O país é dono de um condomínio de apartamentos aqui no Havaí, por exemplo, que alugam e cuja renda é parte substancial da economia do país. Nauru soa bizarro por si só. Mas pode ser considerado o laboratório natural mais impressionante do ciclo de economia baseado em fontes não-renováveis e falta de estratégia política-econômica que provavelmente existiu na nossa história.
E agora, com recursos humanos que só sabem falar a língua da mineração, uma empresa “local” (com boa parte de capital estrangeiro, entenda-se) quer reempregá-los no que sabem fazer (ao invés de educá-los para um futuro ambientalmente mais coerente…) numa empreitada que me soa muito complexa, a de tentar extrair jazidas minerais das profundezas do mar. A exploração de jazidas terrestres já gera um mega-impacto ambiental na superfície da área “seca”. Imagine, então, no fundo do oceano, onde as condições são muito mais delicadas e difíceis de serem asseguradas…
Escavar é possível?
Aliás, há tecnologia para isso? Sei que para gás natural e petróleo sim. Sei que um “Código de Mineração Marinha” ainda está em estágio embrionário na Autoridade Internacional do Fundo do Mar. E sei que provavelmente deve haver gente pesquisando um jeito de fazê-lo, já que logo muitas das jazidas de minerais que usamos no nosso dia-a-dia vão expirar. Mas, e demais minerais? Só exploração de petróleo já gera sozinha dores de cabeça mais-que-consideráveis (vide Golfo do México…). Imagine todo o leque de minerais adicionado a essa lista…
Por outro lado, que estratégia alternativa o governo de Nauru possui? Precisa dar emprego a seu povo. Precisa tirá-los do marasmo cotidiano em que entraram. Precisa ter capital circulando no país. Precisa de garantias econômicas e sociais. Mas… será que esta é a melhor solução? E educação, passou por um segundo sequer no planejamento do país?
Nauru é uma pequena ilha no meio do nada. Um pontinho no mapa, com uma população numericamente minúscula. Mas nos ensina tanto com as prezepadas a que se propôs no passado e as que propõe para o presente e futuro… Nauru, em seu sistema isolado facilmente extrapolável para tantas outras situações que vemos nos jornais nossos de cada dia, só confirma o que minha vó sempre dizia: o mundo não é mesmo para principiantes.
Tudo de questões sempre.