Nos mercados de rua de Split

por: Lucia Malla Comes & bebes, Croácia, Europa, Viagens

Amanhecer em Split.

Fomos para a Croácia de ferry, saindo de Ancona na Itália, numa viagem de 10h de navio para atravessar o Adriático. A chegada foi no porto de Split, cidade grande localizada na costa central da Croácia. A travessia em si foi super-tranquila – o Adriático é, no geral, uma grande piscina.

Logo na chegada, o primeiro imprevisto: não tínhamos dinheiro. Kunas, especificamente. Erro nosso: como íamos ficar poucos dias, achávamos que com euros ficaríamos tranquilos. Sorvete na testa pra gente. (Só quando a entrada da Croácia na Comunidade Européia for oficializada o euro poderá se tornar moeda por lá. Por enquanto, as kunas reinam.) Depois de trocarmos euros por kunas – e finalmente podermos comprar um café da manhã – fomos conhecer um pouco da cidade.

A Torre do Sino da Catedral de Split.

A grande atração de Split é a parte antiga romana, onde se encontra o palácio de Dioclécio, área tombada pela UNESCO como Patrimônio Histórico da Humanidade. Construído entre os séculos III e IV d.c. quando a região era um estado do império romano, suas ruínas podem ser vistas numa caminhada deliciosa, com vários cafés para você sentar de vez em quando e se sentir um pouco dentro da história antiga, do povo que habitava o local centenas de anos antes de você estar ali (eu sempre “viajo” nisso quando estou num lugar histórico). Merece atenção na caminhada o Peristilo e as diversas esfinges que adornam o palácio, herança do encontro da civilização da Dalmácia com a civilização egípcia em algum momento da história. Há também o Vestíbulo, estrutura como o Panteão de Roma, com uma abertura central no teto, que merece ser visitado, apesar do seu estado de conservação estar aquém das demais áreas do palácio.

Hotel Bellevue, que fica dentro do Palácio de Dioclécio, e tem essa praça central sensacional.

Pelas ruas da cidade antiga de Split…

Assim que chegamos ao palácio, entretanto, nossa atenção se voltou para outro ponto rotineiro. Meu olfato começou a captar um cheiro forte de peixe. Como aqueles personagens de história em quadrinhos, fui seguindo o odor, até que chegamos num mercado de peixe, em plena área histórica. Era cedinho, a cidade mal acordara, mas os moradores locais já se entretiam nas negociatas daqueles montes de frutos do mar.

Barraquinhas do mercado de peixes de Split.

André e eu adoramos mercados. Praticamente toda vez que a gente viaja, seja pra onde for, terminamos parando num mercado, feira ou similar. Para mim, são nos mercados de rua que o povo se revela, suas tradições, curiosidades, modo de agir, costumes. Acho a maneira mais prática de entender a dinâmica de um lugar: visitar feiras. Sou fã.

E mercados de peixe em geral revelam um aspecto a mais no meu interesse pessoal: a relação daquelas pessoas com o mar. O que tiram dele pro sustento? Quais as espécies diferentes? Quanto o mar ali está dizimado? Passeando entre as bancas, essas e outras inúmeras questões são respondidas, no compasso dos seus passos. No mercado de peixe de Split, vimos inúmeras lulas, polvos, sépias (tudo com a tinta preta pingando) e um tipo de camarão que eu nunca havia visto antes. Adorei.

O camarão que eu não conhecia…

…e a sépia com a tinta à venda.

(Em Dubrovnik descobri por que a tinta preta era mostrada nas barraquinhas. Lá, almoçamos um risoto feito com essa tinta, cuja aparência era de arroz com feijão preto, mas o gosto bem distinto. Maravilha.)

Continuamos então nosso passeio pelas ruínas da cidade antiga. A cada esquina, um cenário de filme. Vários pátios centrais, já que o local era uma cidade fortificada, onde a elite morava no palácio enquanto a plebe se aglomerava nas casinhas ao redor – mas tudo fisicamente perto. Hoje, na parte da frente da cidade velha, foi construída uma passarela de pedestres que funciona como um calçadão, chamada Riva, cheia de cafés, lojinhas de souvenir e quetais, para o turista sentir a brisa do mar enquanto admira a fachada externa do palácio.

Na Riva de Split. De manhã cedo, só o caminhãozinho da limpeza por ali.

No dia seguinte, foi a vez da gente encontrar dentro da cidade antiga um mercado de verduras, legumes e afins. Como era próximo à Páscoa, várias barraquinhas vendiam ovos pintados. Um mar de folha fresca e cheirosa invadia cada ala. Poucos cogumelos, algumas berries e muito azeite de oliva feito por pequenos produtores, vendidos em garrafões tipo Sangue de Boi. Porcos inteiros à venda, expostos nas vitrines de açougues próximos – é costume croata assar o porco inteiro num espeto gigante. E no finalzinho da feira, uma ala só de roupas (!) baratas, perto de alfaces e flores. Não comprei nada, mas achei interessante.

Dentro da área tombada, a feira.

Ruínas do muro do palácio de Dioclécio.

Muitas cerejas e frutinhas da região.

Nos mercados de rua de Split

Hmmm… queijos! Eis minha “fraqueza” maior na Europa.

E aí, mais um momento lost in translation: como não entendemos uma placa de sinalização, terminamos estacionando em local proibido. Depois de andar na feira, ao voltar pro carro, descobrimos no para-brisas uma multa de poucas kunas. O pagamento da multa se faz na agência de correios, mas até a gente conseguir descobrir essa informação, foi um suadouro de mímica e alemão macarrônico por vários pontos da cidade. Guardamos o recibo da multa croata como souvenir/mancada de viagem. A multa foi nossa despedida de Split. De lá, fomos rumo a Plitvice, por uma estrada cheia de história. Que ficará pra cenas de um próximo post.

Tudo de bom sempre.

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Para viajar mais…

– Um bom site com dicas de viagem para Split.

– O artigo da Wikipedia em inglês sobre Split é bem rico em fotos. Vale dar uma olhada.

– Split é uma tradução estranha para o nome da cidade. Prefiro o nome em italiano: Spalato. Nome que, aliás, foi herdado pelo império romano, derivação latina da alcunha grega Aspálathos, dada quando a região era do império grego. Ah, a história…



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