Na última sexta-feira, dia 28 de março, o tradicional programa Globo Repórter, da Rede Globo, foi sobre o Havaí, este pedaço de terra no meio do Oceano Pacífico tão encantador. Fiquei sabendo sobre o programa de última hora, quando minha amiga Carol me avisou pelo whatsapp. Como não temos Globo Internacional em casa, assisti depois pela web aos pedaços de vídeo que estavam no site da Globo. Então resolvi dar meu pitaco sobre o Havaí do Globo Repórter. Porque afinal este blog é para isso. 😀
(Para quem quiser ver ou rever o Globo Repórter, os links estão no final deste post. O site da Globo, entretanto, não permite compartilhamento do vídeo dentro de outro site.)
O que achei ao ver o Havaí do Globo Repórter
Em primeiro lugar, minha opinião geral: eu gostei do programa. Achei que o foco foi bem diferente do Havaí tradicional, com diversas aventuras fora da rota da maioria dos turistas. Um Havaí, portanto, menos hypado, mais roots e pé no chão, digamos assim. A repórter Dulcinéia Novaes apresentou a maior parte das atividades em que se engajou de maneira fluida, sem grandes tropeços, como aliás se espera do bom jornalismo. Enfatizou várias vezes a enorme diversidade de paisagens das ilhas, principalmente nos costões e praias, e de microclimas, o que acho bem legal. Toda pinta de press trip bem elaborada e executada, portanto, né?
Em que a reportagem me incomodou
Entretanto, duas cenas do programa me incomodaram. Na primeira, a repórter está nadando em uma praia entre tartarugas, e toca o casco de uma delas. Isso além de mostrar no vídeo pessoas alimentando a tartaruga. Fiquei incomodada porque a tartaruga é um animal na lista de ameaçados de extinção, protegida por lei federal e estadual, leis estas que vedam o toque no animal ou alimentá-lo por causar stress e, potencialmente, configurar assédio. A repórter, portanto, transgrediu uma lei federal e pôs isso na TV. O que não é, em minha opinião, o melhor dos comportamentos para se dar num programa de audiência nacional.
Outra cena incômoda foi na visita da repórter ao Jardim dos Deuses (Garden of Gods, em inglês), em Lanai. O local tem uma paisagem lunar, onde as rochas avermelhadas sofrem constante erosão do tempo. O lugar (ainda) não é protegido por lei alguma. Mas ainda assim, achei desnecessário e não-educativo o que foi feito: coletar um pedaço de rocha de uma das esculturas naturais do terreno para mostrar o quão porosas elas são. Já pensou se cada turista que fosse lá fizesse o mesmo? É óbvio que o terreno está sendo erodido o tempo todo pela ação do vento e das chuvas. Mas uma coisa é a erosão natural. Outra é a erosão/destruição forçada de um pedaço da paisagem natural. Achei… deselegante.
Leia meu roteiro completo para visitar Lanai.
O que gostei da reportagem no Globo Repórter
Por outro lado, achei interessante a escolha da pauta. Quase não falou sobre surfe nem sobre praias famosas que constam em qualquer lista de melhores praias do mundo. Muito menos focou em Waikiki/Diamond Head. Deu uma breve pincelada, e só.
Mas comentou sobre a atração natural mais especial do Havaí, a lava contínua que o vulcão Kilauea expele. Apesar da repórter ter escolhido a forma mais complicada de ver a lava de perto, por trilha. Afinal, só a título de comparação, num passeio de helicóptero você chega bem perto do lago de lava da cratera e de onde ela estiver saindo na encosta do Kilauea sem se cansar. Imagino (ou melhor, quero acreditar) que se a lava estivesse escorrendo no mar no período em que a equipe de reportagem esteve aqui, eles teriam optado por um passeio de barco para ver a lava de perto, sem tanto sofrimento nem cansaço como o da trilha mostrada. Provavelmente, a escolha da trilha se deveu pelo comportamento da lava no dia. Que portanto deveria estar saindo bem longe, inacessível por caminhada simples.
Distância é relativa
Digamos também que irrelevei o fato da reportagem ficar pulando de ilha em ilha como se entre elas a distância fosse pequena. Afinal, não é; precisa pegar avião para ir de uma a outra. Talvez um mapa das ilhas havaianas sinalizando onde os momentos principais da reportagem se passavam facilitaria o telespectador. Mas isso é uma escolha da edição, vai além do trabalho da repórter. Então, para ajudar os leitores do blog, fiz um mapa para facilitar a visualização das distâncias entre os passeios mostrados no Globo Repórter.
Mesmo sem mapa, deu pra ter um gostinho de ilhas bem menos visitadas, como Moloka’i. Achei super-interessante a reportagem sobre os pássaros coloridos, por exemplo. Não sabia da existência dessa atividade, e fiquei curiosa pra ver de perto. Deve ser liiiindo!
A descida ao Parque Nacional Histórico de Kalaupapa – que fica numa península, não numa ilha, como a reportagem diz – é uma aventura divertidíssima, no galope de uma mula. É feita, principalmente, por quem tem interesse em turismo histórico e/ou religioso, por conta da colônia de leprosos que o Padre Damien (canonizado a poucos anos) ajudou a manter. O leprosário de Kalaupapa ainda tem pacientes, apesar da doença estar praticamente extinta. Hoje, os estudantes de Medicina da Universidade do Havaí a visitam como parte das atividades de uma das disciplinas de curso. Mas, mesmo que seu interesse em história ou religião seja ínfimo, a inacessibilidade de Kalaupapa ainda preserva praias lindíssimas desertas e uma paisagem espetacular, que já valem muito o passeio.
Leia meu roteiro para visitar Molokai.
Brasileiros no Havaí do Globo Repórter
E curti também os brasileiros que foram mostrados na reportagem, porque estão mais ligados ao legado brasileiro dentro da cultura havaiana. A comunidade brasileira no Havaí não é muito grande. Apesar dos surfistas predominarem nos meses de inverno, eles não estão aqui o ano todo, como enfim os capoeiristas estão. Além de serem alvo de diversas controvérsias com a comunidade surfista local.
O capoeirista Japa (que foi chamado pelo nome verdadeiro, Leonardo) mora aqui há muitos anos. Aliás, conheci-o em 2002, por exemplo. O Japa é provavelmente o brasileiro mais conhecido de toda a comunidade, além de grande divulgador da capoeira praticada no estado. O programa de rádio de música brasileira da Sandy, aos sábados à tarde, também é marcante e bem reconhecido. Uma divulgação bem-sucedida da nossa cultura para os demais havaianos, aliás. Achei a escolha destes “personagens” muito adequada, bacana mesmo.
(Talvez ainda acrescentaria a Cris, dona do trailler de coxinhas e pastéis de feira no North Shore, como outra “personagem” bacana de ser entrevistada. Pelo legado culinário aos havaianos.)
Conclusão
Por fim, é sempre bom – pelo menos para mim – ver o lugar que a gente mora retratado de uma maneira tão “paradisíaca”. Eu falo sempre aqui que paraíso é um conceito pessoal, que independe de lugar, que o “Havaí-paraíso” é fruto de décadas de marketing bem-sucedido, que aqui tem diversos problemas etc. Mas, querendo ou não, quando a gente percebe que outras pessoas, que têm seus próprios paraísos, acham que o Havaí também pode ser adicionado ao conceito de paraíso delas, dá um certo orgulho e conforto em, apesar dos problemas, estar vivendo esse aloha spirit on a daily basis. 🙂
Tudo de aloha sempre.
P.S.
Links para os vídeo da reportagem do Globo Repórter:
- Astronomia no topo do Mauna Kea (também já comentei antes e talvez a parte do programa que mais gostei, por motivos de: sou cientista! 😀 )
- As tartarugas verdes pelas praias (que têm comportamentos peculiares no Havaí)