Eis que as Olimpíadas de Beijing se aproximam. A maior parte da civilização mundial começa a voltar seus olhos para o espetáculo do mês de agosto, aguardando ansiosamente os desdobramentos, recordes e heróis que surgirão. Muitos também se preocupam com as mazelas da China para a competição. E conjecturam sobre as consequências da abertura sócio-política proporcionada pelos Jogos.
Preocupações brotam. De Spielberg, que não mais coordenará o espetáculo de abertura dos Jogos por causa do posicionamento chinês sobre o conflito de Darfur, à corredora belga Veerle Dejaeghere, que insinua usar uma camiseta com a frase “Free Tibet” estampada. Mas o recorde de bafafá pertence sem dúvida ao Comitê Olímpico Americano. Testaram o ar dentro do velódromo e as galinhas do supermercado de Beijing – estão destrinchando o que podem na China. Tudo por medo de que esteróides caiam na circulação dos atletas por vias indiretas ou de que a capacidade respiratória dos mesmos atletas seja reduzida por conta do excesso de metais pesados do ar – afinal, convém lembrar, Beijing possui em média índices 5 vezes maiores de poluição do que o recomendado pela World Health Organization. Não é pouco e talvez a cautela valha a pena mesmo.
A China rebate às críticas, é claro, ao seu modo. Por um dia apenas (o último dia do ano de 2007), conseguiu alcançar as metas de qualidade do ar, silenciando as alarmantes reportagens que provavelmente já estavam prontas para virem à tona nas redações do mundo.
Olimpíadas de Beijing inovam ao levar a tocha pro topo do mundo
Mas, todas essas novelas notícias das Olimpíadas de Beijing nem se comparam ao evento relacionado que eu, Lucia Malla, estou realmente esperando: a chegada da tocha olímpica no topo do Everest. Será o evento da estação no Himalaia. Só isso já garante bons momentos de divertimento para maio/junho nos bat-sites e blogs montanhistas da rede. Supostamente, passará por lá em meados de junho.

Foto cedida pela agência oficial chinesa Xinhua, tirada por Ngawang Chagxi. Nela, os alpinistas chineses chegam ao topo do Everest com a tocha olímpica.
Há rumores de que a China limitará bastante nessa temporada o acesso ao lado tibetano do Everest para a escalada. Esta medida é para garantir a subida tranquila, sem percalços ou protestos de estrangeiros, como já aconteceu no passado. Os chineses já treinaram em 2007 a escalada com seus melhores montanhistas, de forma que para que nesse ano tudo dê certo, basta que haja um time com determinação à flor da pele – o que no Everest é o que não falta.
Quando o assunto é tocha olímpica, entretanto, levá-la ao topo do mundo não é a maior bizarrice. Lembremos que para as Olimpíadas de Sidney, a tocha acendeu debaixo d’água. Portanto, é lógico e previsível que ela chegue ao topo do mundo estando esse local geograficamente na fronteira da China – conturbada, mas ainda assim, fronteira. O problema imposto dessa vez é de ordem logística, porque a tocha tem que chegar ao cume no momento certo do dia certo, para que a filmagem consiga ser feita com ela acesa e um montanhista.
Tecnologia da subida com a tocha
Além disso, há também o problema tecnológico. Como manter uma chama acesa num local onde a quantidade de oxigênio chega a apenas 1/3 do nível do mar? Onde em tese nada queima, com uma pressão atmosférica baixíssima, ventos tufonescos e uma temperatura congelante?
Para evitar a interferência dos ventos fortes e demais contratempos climáticos, os chineses já instalaram potentes equipamentos meteorológicos nas encostas everestianas. Além disso, cobertura de telefonia celular já foi providenciada e está em funcionamento na montanha, facilitando a comunicação entre acampamentos. Ao menor sinal de tempo ruim, a equipe de alpinistas será prontamente alertada do perigo.
Para a manutenção da chama olímpica, a tocha contará com tecnologia especial desenvolvida pelo órgão de Ciência e Tecnologia Aeroespacial Chinês. Haverá um sistema backup para acender a tocha no Everest usando algo como uma lanterna chinesa caso as condições meteorológicas na montanha ofereçam resistência – ou seja, tudo foi pensado. Só nos resta mesmo aguardar pra ver o brilho do fogo olímpico conquistando o topo gelado do mundo.
Tudo de Everest sempre.
P.S.
Aos aficionados por Everest como eu, fica a dica: nessa semana saiu, depois de mais de 10 anos de investigação, o relatório final de Tom Holzel sobre a escalada de George Mallory e Andrew Irvine em 1924. Pôs fim ao mistério sobre se eles chegaram ou não ao cume. O trabalho de detetive de Tom foi primoroso.