Eis que me chegou à leitura, via um post da Bel no Facebook, uma reportagem/infográfico compilado pela Exame sobre os números do turismo brasileiro, feita pelo Ministério do Turismo do Brasil. Numa coincidência muito interessante, na mesma semana em que a ABBV divulgou os resultados da pesquisa com o perfil dos leitores de blog de viagem do Brasil. E por que interessante? Porque me parece que, finalmente, estamos encarando a indústria do turismo (e tudo que está ao entorno dela, como blogs) da maneira científica que ela merece ser tradada: com dados, pesquisas. Um belo “não” ao famigerado achômetro que muitas vezes permeia a brasilianidade.

(E se lembrarmos que até pouco tempo atrás, o ministério do turismo não sabia dizer quanto das chegadas internacionais eram pessoas retornando ao país e quantas eram turistas… Tivemos portanto uma melhora muito significativa na qualidade dos dados. Mais: já há até um site governamental dedicado só a esses dados disponível para todos.)
Enfim, fato é que a maioria dos turistas estrangeiros que vêm ao Brasil querem retornar um dia (95.4%). Isto porque o povo é hospitaleiro (97.6% acham isso) e porque a comida é de lamber os beiços de tão gostosa (95%). Para mais de 80% dos turistas, o Brasil atendeu ou superou as expectativas que tinham. Isso é para se comemorar, não?
O que os números do turismo brasileiro não mostram
Sim, mas ainda temos uma longuíssima caminhada pela frente para melhorar o turismo no Brasil. A começar pelo número de turistas em si. O país tem potencial para uma fatia muito mais significativa do mercado turístico mundial que os 0.55% demonstrados em 2009.
Só a título de comparação, o Brasil recebe ao total 5.4 milhões de turistas estrangeiros por ano. Só o estado do Havaí nos EUA recebeu em 2011 quase 7.3 milhões de turistas (dados daqui). E estes turistas deixam mensalmente cerca de 1 bilhão de dólares na economia. O estado d Havaí, lembrem-se, tem uma fração ínfima da área territorial do Brasil, pra não dizer das possibilidades de atividades voltadas para o turismo. (Embora os números do Hawaii incluam os turistas domésticos, que são quase 50% dos que visitam o arquipélago. Ainda assim sobram uns bons milhões que ainda põem o Brasil numa sinuca de bico.)
Onde melhorar os números do turismo brasileiro
Mas o próprio infográfico da Exame dá a dica do que precisa ser melhorado pro turista estrangeiro se sentir mais bem-vindo: sinalização, aeroportos, telefonia. Apesar de mais de 50% acharem que os preços também são um problema, o dado sinaliza que os problemas estruturais são bem mais complicados para o turista estrangeiro.
Nos dois anos que ficamos no Brasil entre-viagens (2007 e 2008), este também foi um item que nos chamou bastante atenção. Por exemplo, placas de trânsito para virar à esquerda que são colocadas na esquina que você tem que virar à esquerda, e não algumas boas centenas de metros antes, pro motorista se preparar. Falta de placas em boa parte das áreas do país. Além de sinalização que não significa muita coisa ou coisa alguma. Minha preferida neste quesito é “São Paulo tem “x” quilômetros de engarrafamento neste momento”. Me digam, em quê, além do “estou no sal”, um motorista se beneficia sabendo disso? Não seria mais eficiente uma informação do tipo: “Tempo aproximado de chegada na saída “y” da marginal neste momento: 1 hora e meia”, baseado na posição onde você viu a placa? Dá a informação de que o trânsito está um caos com um adicional que efetivamente ajuda o motorista a se planejar para a melhor rota.
E talvez sinalização seja, dos problemas estruturais apontados, o mais simples e fácil de se consertar. O que, aliás, já seria um excelente começo pro turismo como um todo.
Fluência em inglês
Acho que um outro índice não-mencionado na pesquisa do Ministério do Turismo e que precisa melhorar para sermos líderes em turismo é a fluência em língua inglesa – de acordo com uma pesquisa do British Council, só 5% da população sabem falar inglês. Em espanhol, acho até que estamos bem, pela semelhança da língua com o português. Mais: dado que a maioria dos que nos visitam são argentinos ou de outros países da América do Sul, isso realmente ajuda.
Mas se quisermos aumentar nossa fatia de turismo significativamente, e realmente atrairmos mais turistas estrangeiros, precisamos jogar fora o ranço com a língua inglesa que muitos ainda têm. Além de realmente abraçar a língua que o turista abraça. Vale lembrar que falar inglês não ajuda só os americanos e britânicos: é a língua de escolha em viagens de boa parte dos países que não têm o inglês como primeira língua, e que são exportadores de muitos turistas, como Japão, Alemanha, Suíça e China. Da melhora do inglês, podem brotar diversas outras, como a melhora dos websites de informação turística e do engajamento das pessoas com o turismo. Por isso, a importância de se investir em treinamento de inglês para a população geral, como fazem muitos países cuja língua nativa não é o inglês.
Ainda dá pra ficar melhor na fita
O fato de que houve uma pesquisa com dados sólidos compilados pelo governo brasileiro mostra que o Brasil vem melhorando bastante em termos de turismo. Mas ainda dá pra melhorar muito mais. Espero reescrever este post daqui a alguns anos, realçando o quanto melhoramos.
Enquanto esse dia não vem, é muito trabalho pela frente que ainda precisa ser feito. Nada desanimador, pelo contrário: acho que à medida que o brasileiro viaja mais e se depara com soluções bacanas em diferentes países para problemas que temos na nossa rotina e pro nosso turista, as idéias vão brotando. Torná-las realidade vira então uma questão de tempo (e investimento, em muitos casos). Mas já é um passo enorme pro futuro do turismo no Brasil: reconhecer o problema e sugerir idéias.
Acredito que a Copa e as Olimpíadas forçarão muitas dessas mudanças positivas, mas, depois destes eventos, a estratégia de atrair mais turistas precisa continuar forte, para deixar benefícios estruturais reais não só para a economia, mas para a sociedade brasileira como um todo.
Tudo de bom sempre.