por:
Lucia Malla
Comportamento, Ecologia & meio ambiente, Faça a sua parte, Memes, listas & blogagens coletivas
Publicado
22/04/2008
Hoje é o dia da Terra. E nós, do blog Faça a sua parte, estamos coordenando uma blogagem coletiva sobre essa data, que é considerada sem dúvida uma das mais importantes do calendário ambientalista. Neste mesmo mês, coincidentemente, o blog Roda de Ciência decidiu discutir sobre o papel do cientista nas decisões éticas da sociedade. E aproveito então a dupla oportunidade surgida para compartilhar algumas reflexões randômicas minhas, relacionadas à ética ambiental, neste dia da Terra.
O conceito de ética
O conceito mais simples que achei de Ética é:
“Um ramo da filosofia que estuda os valores e costumes de uma pessoa ou grupo, incluindo a análise de conceitos como bom e ruim, certo e errado e de moral e responsabilidade.”
É um conceito amplo e termina sendo utilizado em outros contextos por diversas áreas do conhecimento que lidam minimamente com responsabilidade e moral. Há, portanto, a ética dos negócios, a ética científica, a ética social, a bioética, e por aí vai. Todos englobam a postura humana perante os demais e/ou o ambiente intelectual ao redor.
A ética ambiental
Ultimamente, entretanto, é o conceito de ética ambiental que vem martelando na minha cabeça. Na definição mais abrangente possível, ética ambiental é “a parte da filosofia que aborda as questões éticas entre humanos e o ambiente natural que os circunda“. E é aí, com efeito, que meu cérebro começa a dar nó.
Porque se analisarmos com cuidado e ao pé da letra, percebe-se logo que os valores e costumes do grupo humano em relação ao ambiente natural ao redor (nosso querido planeta azul) vêm sendo de uma falta de responsabilidade absurda. Portanto, não-éticos. Poluímos, extinguimos espécies, aquecemos o planeta, sujamos os mares, nos importamos egoisticamente apenas com o conforto da nossa própria espécie. Tudo, aliás, em tamanho extra-large.
Só que, em contrapartida, o planeta não cresce em tamanho extra-large para acompanhar e aguentar toda a irresponsabilidade do Homo sapiens onipotente-onipresente-oniinconsciente. O planeta continua com o mesmo tamanho geográfico de quando foi formado há alguns bilhões de anos. Ou seja, recursos limitados e uma espécie que não quer nem pensar em ter limites soa, em contrapartida, como a receita perfeita para o fracasso. Que é o que estamos presenciando, sem dúvida, o início de um grande desastre ambiental.
O desastre que vem por aí
Recentes pesquisas apontam para um crescimento de 1.5m do nível do mar até 2100 – e não os 59 cm imaginados antes. O mar já estará sem peixes até lá, graças à fome de muitos e ao lixo exagerado que jogamos nele. Calotas polares se partem perante os nossos olhos. Grupos inteiros ameaçados de desaparecer para sempre. E o que a maioria dos seres humanos que compartilham o planeta faz, aliás, para evitar tudo isso? NADA. Absolutamente nada.
Será essa uma atitude ética, no mais amplo sentido da palavra? Será que nossa noção humana do que é “certo” ou “errado” em relação ao ambiente é de cunho minimamente responsável?
A meu ver, a resposta é um sonoro “não”. Triste isso, inegavelmente.
Informar e educar, sempre
Para (tentar) ter ética ambiental, é necessário primeiro que as pessoas entendam o que vem a ser “certo” e “errado” com o planeta para diminuir os danos já sofridos. E, nesse sentido, o único caminho plausível que vejo é o binômio educação/informação. São essas duas armas que podem inegavelmente mudar a atitude humana.
A base da educação e da informação, entretanto, deve ser projetada pelos que entendem um pouco mais do assunto: os cientistas, das mais diversas áreas envolvidas com problemas ambientais da atualidade. São eles que deveriam ter a responsabilidade moral de informar o público (ou pelo menos repassar de forma clara e pragmática) sobre a realidade que os dados vêm mostrando.
Principalmente, informar os políticos, para que eles sejam capazes de tomar decisões lúcidas sobre os problemas ambientais que surjam. Tanto público quanto políticos, por certo, têm a responsabilidade moral de se dispor a querer entender esses problemas. De tentar apaziguar e/ou encontrar soluções que não ponham em risco o equilíbrio populacional de outros indivíduos, seja de que espécie for. A partir dessas responsabilidades assumidas, podemos finalmente demonstrar um mínimo de ética ambiental.
Infelizmente não é isso que vemos. E, às vezes, a sensação que tenho é de caos total. Cientistas que parecem falar pras paredes, em linguagem ininteligível. Governos que não fazem a mínima questão de ouvir quem entende do assunto. Ou, quando ouvem, fingem tomar atitudes esdrúxulas. Pessoas leigas desorientadas, sem saber pra onde correr, nem que atitude tomar.
Como ser ético no ambiente atual?
A ética ambiental requer uma postura mais “ativa” de todos no planeta. Não adianta só uma meia dúzia de gatos pingados se dispôr a reciclar. Porque o planeta Terra já está quase atingindo o chamado tipping point. Ou seja, um ponto em que será impossível controlar a reversão da situação ambiental para os níveis adequados à sobrevivência confortável nossa e de tantas outras espécies. É preciso uma mobilização em massa para reverter esse quadro. Com um investimento relevante em educação e informação sobre ambiente e uma tomada de atitude ontem, em síntese.
Só assim poderemos nos vangloriar de sermos ambientalmente éticos. Deixaremos, enfim, um planeta decente para as futuras gerações viverem.
Pela ética sempre. De todos e para todos, por fim.
P.S.
- Este post é um duplo-cross. Faz parte da blogagem coletiva do dia da Terra e é a minha contribuição do mês para os debates no Roda de Ciência. Exercite sua responsabilidade ambiental: informe-se e participe das discussões deste dia da Terra sem pudor.
- Você não sabe o que fazer sobre o aquecimento global? O 1001 Gatos de Schroedinger liberou para este dia da Terra um esquema divertido e simples de como fazer a sua parte. Ações simples e eficazes para começarmos a demonstrar um pouco de ética ambiental.
- Foi escolhida pela blogosfera gringa a semana de 27 de abril a 02 de maio como a “Semana dos Recifes de Corais” – no Ano Internacional dos Recifes de Corais. Alguns blogs em inglês envolvidos com causas marinhas postarão durante a semana toda sobre o tema. Pretendo, portanto, fazer em português o mesmo por aqui. Vai ser uma semana de festa aberta a todos: sintam-se convidados a participar. 🙂
Blogs participantes da blogagem coletiva do Dia da Terra
Ana Cláudia Bessa (O futuro do presente)
André Marmota (Marmota mais dos mesmos)
Andréa N. (Brazil Nut e In other worlds)
Andréa Poça (Dicas de ciências)
Branco Leone (Um blog sem conteúdo)
Carla do Brasil (Enquanto seu blog não vem)
Carla do Brasil (Recanto da deusa doméstica)
Cidão (Chronicles & Tales unlimited)
Clarisse (Clabrazil nas Zuropas)
Cristiana Passinato (Pesquisas de Química)
Denise Rangel (Sturm und drang!)
Fátima Queiroz (Blogosfera solidária)
Flávio Prada (Lixo tipo especial)
Jugioli (…Só poesia e outros itens…)
Lucia Freitas (Ladybug Brasil)
Lucia Malla (Uma Malla pelo mundo)
Luma Rosa (Amigos da Blogosfera)
Madalena Barranco (Letras de morango)
Maria Augusta (Le Jardin Ephémère)
Projeto Jogo Limpo (Blog do Jogo Limpo)
Ramos (Ramos Forest Environment)
Silvia D. Schiros (Faça a sua parte)