Pipai. Quando a gente é criança, em geral vê os pais como os grandes heróis de nossas vidas. Eles são aqueles que estão sempre ali ao redor, para te proteger de toda e qualquer ameaça. Não sou psicanalista, mas imagino que isso seja o padrão mais comum.
E quando eu era criança, tive a imensa sorte de ter um pai cuja cabeça estava em eterno espírito de jovialidade e brincadeira. As outras crianças o “invejavam” porque, diferente dos pais intelectuais e ocupados da maioria dos meus amiguinhos, ele esquecia o mundo lá fora e entrava na roda infantil com a cabeça de um moleque, sem preocupações ou receios, ensinando a rodar o pião com a unha, a jogar bolinha de gude “vera” (a mais difícil de todas) e soltar pipa; tudo junto com a gente, como se ele voltasse aos seus tempos de criança no Rio. Pipas, aliás, eram sua especialidade: montava a intricada armação de bambu com papel de seda colorido, fazia rabiolas enormes coloridas, tudo na medida certa para alcançarem o céu dos nossos sonhos mais azuis em malabarismos fenomenais.
Aí a gente cresce
Aí a gente cresce, e começa a ver que o mundo não é um eterno parque de diversões. E percebe que o herói que soltava pipa com a gente era na realidade um batalhador, que suava para se dedicar a uma carreira e à família, para pagar a escola e ainda arrumar tempo para brincar com a filha e os amiguinhos dela. Mas que conseguia fazer tudo isso com um sorriso feliz, como se cada pipa no ar fosse a reafirmação vital do seu jeito moleque de ser.
Hoje, apesar da minha idade, meu pai continua sendo meu “pipai”. Assim como eu provavelmente não cresci pra ele, ele também continua o mesmo herói – só que agora com toques de mais realidade e menos fantasia. Mas a pipa continua no ar. E entre altos e baixos, tropeços e festejos, o céu azul ainda é o limite dos nossos sonhos, seguros que estamos pelo mesmo carretel de linha. A felicidade da existência mútua.
Feliz aniversário e longa vida, papai!
Tudo de bom hoje e sempre pra você, o melhor pipai do mundo!
P.S.
- A foto que ilustra o post é da década de 90, do meu pai soltando pipa na praia de Farol de São Tomé, em Campos (RJ). Atrás dele, um moleque que não faço a menor idéia de quem seja. Meu pai tem um magnetismo natural com crianças inacreditável. Presenciei esse “fenômeno” inúmeras vezes. Afinal, basta ele chegar num lugar para as crianças em poucos minutos o circundarem e a brincadeira começar da forma mais natural e infantil possível. Ele realmente consegue se comunicar muito bem com a molecada. Não à toa, hoje ele investe seu tempo e disposição em campeonatos de futebol-mirim, onde é unanimemente a alegria da criançada.