Uma das curiosidades da viagem que fiz aos EUA em fevereiro de 2007 foi a ida de carro até a costa do Oregon.
Digo curiosidade porque não nutria grandes esperanças de ver algo interessante por lá além de um sem-fim de florestas de coníferas. Mas André insistia, dizendo que existiam as “tide pools“. Mas piscinas de maré existem pelo mundo todo. Por que ali seriam especiais? Eu continuava sem esperar muito do lugar.
A paisagem da costa do Oregon
Enganei-me feio, ora pois. A subida pela costa já é um espetáculo à parte. Se o Big Sur, ao sul, é mais dramático, com penhascos gigantes e um recorte do litoral de sonho, a costa norte da Califórnia continua essa paisagem, mas de forma um pouco mais “abrandada”. Há as coníferas. Há penhascos, mas eles não são tão altos. Há pedras, e elas surgem como totens de dentro do mar. Há mais praias de areia, com possibilidades de encostarmos o pé no mar gelado. Brrrr!!
E foi isso que fizemos.
Pela Highway 101
Tínhamos dormido em Arcata, cidadezinha minúscula perto de Eureka – aliás, recomendo o restaurante italiano da praça principal de Arcata, muito bonzinho. Saímos cedinho rumo ao norte. A última cidade que passamos na Califórnia foi Crescent City, refúgio surfista e de estudiosos da biologia marinha. Mas a cidade tinha um ar meio de “assombrada” àquela hora da manhã – achei tudo muito vazio, estranho. Paramos no píer de Crescent City, brincamos um pouco com as gaivotas que ali estavam e caímos de novo na estrada rumo norte.
Logo chegamos na costa do estado do Oregon. O dia estava ensolarado quando cruzamos a fronteira. A primeira cidade ali é Brookings, um vilarejo com um belo píer e muitos RV’s (aqueles ônibus-casa móveis que os americanos tanto adoram). Parada estratégica para algumas fotos e seguimos em frente na highway 101.
Pela costa do Oregon, é praticamente impossível andar mais de 5 milhas sem parar para tirar fotos, tamanha majestade da paisagem super-recortada, com parques e mais parques de coníferas, penhascos e rochas-totens. Com o céu azul e o mar mais azul ainda que estavam, íamos a uma velocidade de passeio total, despreocupados com o tempo.
Parada no Parque Samuel Boardman
Mais a frente, paramos no parque Samuel Boardman, que são 20 milhas pela costa com uma vista belíssima da Rocha em Arco, que desponta do mar. De lá, seguimos para Gold Beach, uma cidade que foi um grande entreposto comercial em épocas passadas, principalmente devido à atividade baleeira. Hoje, uma pacata cidade costeira na foz do rio Rogue.
No píer, uma lembrança da época em que as baleias caçadas ali aportavam: um antiguérrimo barco baleeiro, atracado (ou quase semi-naufragado) para sempre ali no píer, recordando a todos que passam por ali um tempo em que Gold Beach floresceu comercialmente. O navio cortou o Pacífico por 97 anos, o barco de vida útil mais longa da história dessa costa americana e a última vez que navegou foi em 1978, quando foi finalmente aposentado ali, no píer de Gold Beach.
Ainda se pesca muito na região, mas bem menos que no passado. Ainda assim, o rio Rogue é um dos rios onde os salmões sobem para se reproduzir, e esse peixe também é o forte da culinária local. As baleias que antes eram caçadas agora movimentam um turismo de “whale watch” ao passarem pela região em sua migração anual.
Era domingo, e o escritório de informações turísticas estava fechado (?!?!).
Rumo a Lone Ranch Beach
Nossa intenção no Oregon era achar uma boa praia com piscinas de maré, para fotografar os estranhos seres que habitam esse ecossistema em movimento, e sem as informações do escritório, tivemos que improvisar. A idéia inicial era dirigir até Coos Bay, mas já era tarde, então decidimos perguntar a uma jovem de uma lojinha de badulaques qual lugar ela indicaria. Ela nos disse dois lugares, Harris Beach e Lone Ranch Beach, e nós decidimos ir até Lone Ranch (5 milhas norte de Brookings), que parecia mais fotogênico.
As piscinas de maré da costa do Oregon
As piscinas de maré ficam na beira-mar. São áreas rochosas cobertas pelo mar na maré alta. Mas acumulam água salgada em “piscininhas” durante a maré baixa, quando aparecem expostas as rochas que as compõem. A existência dessas piscinas é totalmente dependente do ritmo das marés. Portanto, nada mais lógico que os animais que vivem nessa “fronteira” também o sejam. Ocorrem no mundo inteiro, mas a fauna de cada local varia. E todo um ecossistema diferente se desenvolveu ali, muito resistente a condições adversas para a maioria dos seres: muito vento, ondas fortes, sol torrando, rochas.
Entretanto, os animais dos tide pools (a maioria invertebrados) adaptaram-se ao vai-e-vém da água do mar e a essa tripudiação. Então, agarram-se bem às rochas. No dia em que lá estivemos, olhamos a tábua de marés e sabíamos que a maré ia começar a baixar em torno das 15:00. E que o auge da maré baixa era no pôr-do-sol, lá pelas 17:30.
Parênteses
É fundamental você verificar a tábua de marés para visitar os tidepools. Em primeiro lugar, porque se você chega na maré alta, você não vê nada, está tudo coberto pelo mar. Em segundo lugar, porque o mar no litoral do Oregon é muito violento, e no momento em que a maré começa a subir você precisa se retirar de onde estiver – há avisos pela costa inteira de que você deve respeitar os horários de maré baixa, e evitar se segurar em troncos de árvores caso o pior aconteça, porque esses troncos são jogados contra as rochas com toda a violência. O mar ali realmente amedronta, pela força e pela quantidade de rochas pontiagudas. Fim do parênteses.
A fauna da praia de Lone Ranch
Eram quase 15:00, então nos encaminhamos para a praia escolhida. Já víamos as piscinas antes mesmo de parar o carro. Afinal, elas reluziam a água do mar. Rochas enormes seguravam o splash das ondas.
Um frio cortante passava pelo meu rosto. Não tive coragem de tirar sequer o capuz, quiçá entrar no mar gelado. André, mais animado, pôs a bermuda e foi. Eu fiquei explorando o local sem encostar o pé na água, só de cima. O que, aliás, é o recomendado, para não danificarmos as formas de vida ali existentes. Ele se aventurou colocando a mão e a máquina dentro d’água com cuidado. O resultado são as fotos que vocês vêem neste post, da fauna exótica e resistente que habita esse ecossistema limítrofe do mar.
O sol já descia quando saímos da praia, e o frio piorara muito. Um vento absurdo congelava minhas extremidades. Um grupo de adolescentes acendeu uma fogueira na praia e começou a assar salsichas. Apesar do frio, resisti bravamente, e assisti ao pôr-do-sol belíssimo que se sucedeu, com a paisagem de rochas à beira-mar emoldurando o tom amarelo-alaranjado que tomava conta de tudo. A maré começava a subir, e as piscinas aos poucos desapareciam do horizonte. Deixavam saudade…
Anoiteceu e era hora de dirigir de volta para a Califórnia. Onde mais aventuras nos esperavam.
Tudo de bom sempre.
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