Procura-se: líder em educação

por: Lucia Malla Antigos, Educação

Ontem me caiu em mãos um editorial do NYTimes [link infelizmente só para assinantes…] dessa semana com uma notícia interessante: a Harvard vai propôr um novo programa de doutorado em “Liderança de Educação”. Até aí nada demais, porque afinal é de se esperar que uma instituição educativa tome atitudes assim. Mas o recheio do bolo da notícia foi o que me chamou a atenção. O doutorado será totalmente gratuito e anuncia-se como uma resposta da conclamada universidade à crise educacional nos EUA.

Talvez isso não seja bem compreendido pela maioria da população no Brasil, já que em geral não se paga quase nada pra fazer um doutorado em universidades brasileiras – e os estudantes brasileiros de certa forma take it for granted. Mas nos EUA, estes programas custam muito dinheiro, dependendo do ramo e principalmente da universidade. Num bolo onde todas as universidades são pagas (e muito bem pagas), mesmo as estaduais, o doutorado é um marshmallow premiado para muito poucos, e o preço elevado reflete essa ideia.

O que mais me impressionou no editorial, escrito por Bob Herbert, foi o entendimento quase visionário – e correto – do modelo educacional que a instituição de ensino tem. E o quão importante é o envolvimento destas instituições nesta discussão.

Pensando fora da caixa

Veja bem, a Harvard é a universidade mais conceituada dos EUA, quiçá do planeta. E uma das mais caras também. O simples pensamento que a escola de Educação desenvolveu de que, por motivos econômicos (sem dinheiro para pagar, entenda-se), eles estariam perdendo mentes brilhantes que poderiam trazer revoluções positivas ao sistema educacional americano como um todo (e por consequência ao futuro do país) os incomodou a ponto de criarem o tal doutorado, que interrompeu uma pausa de 74 anos da universidade sem criar curso “novo” algum. É notável, sem dúvida. Porque é um gesto que mostra a fundo o que uma instituição de educação de ensino superior deve fazer: criar cérebros que alavancarão mudanças significativas na sociedade. Os estudantes deste doutorado terão a oportunidade de liderar, testar (ou criar!) modelos alternativos, que gerem melhores resultados na sociedade atual tecnológica, com todos os novos paradigmas e cacoetes.

A priori, o doutorado da Harvard em Liderança de Educação terá apenas 25 estudantes, e o tempo total de curso é 3 anos, sendo o último completamente no “campo”, trabalhando junto a organizações educacionais, ONGs ou comunidades distritais, elaborando inovações que melhorem o resultado educativo dos americanos de colégio elementar e médio. Faz sentido restringir: é uma conta ($$$) que a Harvard vai arcar sozinha, por enquanto. Mas se um desses estudantes trouxer um retorno altamente positivo, já valeu a pena o investimento, e é nessa mentalidade pró-educativa que a Harvard está investindo suas forças.

O modelo brasileiro de educação

E aí eu penso no modelo brasileiro de educação. Que tem n+1 falhas grotescas. (Sendo a que mais me choca pessoalmente é o desprezo pelos professores públicos dos primeiros anos de escola de uma criança. Eles que são o fundamento para a construção de um cidadão. Mas não cabe aqui essa discussão. Ainda.)

Procura-se: Líder em Educação

Com suas inúmeras universidades também privadas, acho que há no Brasil ambiente para que as universidades privadas que estão por todas as esquinas tenham seus lucros diretos vindos dos cursos de graduação que têm. Poderiam, então, investir e fornecer ajuda financeira substancial em pesquisas de ponta para a pós-graduação, principalmente nas chamadas “soft sciences”, as humanidades, onde o custo de uma pós-graduação não é tão elevado – mas o resultado social de um maior número de cabeças pensantes seria um lucro ao país como um todo. Afinal, desenvolver bons pensadores pode trazer um reflexo geral benéfico a todas as demais ciências, a longo prazo.

Só falta uma coisa: compromisso honesto de tais universidades com a educação e o futuro do país. Que é o que a Harvard demonstrou de uma maneira tão prática. Sei que estou sonhando alto, mas abro espaço ao meu polianismo e reflito: não custa a gente começar a semear ideias boas na nossa estrutura também, não? A tal da espiral pra cima. É uma esperança.

Tudo de bom sempre.



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