Qual o futuro da China?

por: Lucia Malla Ásia, China, Política, Viagens

Todo mundo já deve ter escutado (se não já falou) que a próxima grande potência mundial será a China. Será, não: já é. Afinal, um país que passou da marca de um bilhão de habitantes exerce uma pressão danada em cima dos demais por recursos, sejam eles quais forem. E pode produzir muito mais, pois mão-de-obra a preço de banana é o que não falta. O futuro da China parece selado.

Futuro da China

Será que decola?

Ouvi uma vez alguém comentando que se você é um empresário qualquer e vende um produto a 1 dólar, se esse produto for necessário aos chineses, e você colocá-lo nas mãos de cada um de lá, você arrecada 1 bilhão de dólares. É… nada mal pensar assim, né? Os novos bilionários da China. (Tudo bem esquecer do dinheiro gasto pra produzir esses 1 bilhão de produtos, mas até lá, morreu Neves…) Acho que esse é o sofisma básico atrás de todo mundo que quer “fazer negócio” com os chineses.

A visão ocidental

Por outro lado, a China sempre foi um império, desde os idos de milênios atrás, quando seu território ainda expandia-se desde o norte da Rússia até a península coreana. E toda essa tradição que continua firme e forte, mantendo a máquina da modernidade que vem trabalhando sem parar por lá. A cultura chinesa é riquíssima, cheia de nuances e novidades aos olhos ocidentais. É um lugar a ser desvendado ainda.

Na mentalidade anti-americana vigente, é realmente muito bom que apareça uma super-potência imperialista para rivalizar com os EUA: um concorrente – e lá vamos nós de volta à era da Guerra Fria. Mas, não sei, acho esse pensamento muito ingênuo. A China não rivalizaria com os EUA; ela teria 2 opções na atual conjuntura: 1) juntar-se aos EUA e fazer um mega-império (coisa pra Hollywood divagar sobre) ou 2) sobrepôr-se aos EUA, e se tornar hegemônica. A existência de ambos como super-potências, a história nos mostra, é improvável.

Entretanto, por mais crítica à política, ao modo de vida, às surrealidades e idiotices bushianas que eu seja, eu tenho medo da China. Medo não, receio. Porque, para os chineses, existe uma certa flexibilidade geral, o mundo tende a aceitar melhor as besteiras que eles já fazem – “ora, eles têm que alimentar um bilhão! Ora, eles não são arrogantes como os americanos! Ora, eles trabalham duro! Ora, eles têm uma tradição milenar!” E em nome dessa tradição, me mostre: o que aconteceu?

Razões para desconfiar da China

Primeiro, eles praticamente extinguiram várias espécies de animais, entre eles o panda e outros ursos: porque “fígado de urso faz muito bem pra saúde! Come-se na China há tanto tempo!” Outro exemplo? A malfadada barbatana de tubarão. Os chineses usam, abusam e destróem o ecossistema marinho nas ilhas do Pacífico e adjacências (amparados por governos locais corruptos) para pescar os tubarões, porque “sopa de barbatana é afrodisíaco há mais de mil anos!”. E não é de se estranhar que o maior porto de chegada e comércio clandestino de animais raros e exóticos para consumo humano esteja na China – e que esse lugar seja o pesadelo de qualquer ONG ou instituição séria de defesa do ambiente.

Em segundo lugar, uma economia que se baseia na opressão à liberdade de imprensa me dá receio. Essa é a característica, aliás, que mais me incomoda. Daremos lugar a uma super-potência, mandando e desmandando nos caminhos do mundo (é isso que os EUA fazem hoje…) que controla a informação que flui no próprio país? E se um belo dia eles decidirem controlar a informação de outros lugares? Além do mais, como estão sendo formados os cérebros chineses? A sensação que dá é que esses estão espalhados pelo mundo, isentando-se da máquina opressora estatal.

Terceiro, a exploração dos recursos naturais acelerada, tudo em nome do progresso. Afinal, mais uma vez, a mesma história: precisamos dar boas condições de vida a todos os nossos 1 bilhão de chineses. Recentemente, vi uma reportagem da construção da maior usina hidroelétrica do mundo, que será na China. O lago da usina inundará uma área de preservação, inúmeras cidades ribeirinhas, e gerará um impacto ambiental inimaginável – mas eles precisam de energia, não é mesmo? Desculpe-me, mas essa mentalidade “malufista” é bem atrasada, alguns países da Europa já mostram formas alternativas de desenvolvimento sustentável muito mais limpas, sem prejuízo humano nem ambiental.

Jeitinho chinês

Assusta-me a falta de preocupação ambiental chinesa, a inflexibilidade da tradição milenar deles, o desrespeito latente quando o assunto é se dar bem. Eles estão reinventando o “jeitinho brasileiro”, multiplicado por seus 1 bilhão de habitantes. A China é hoje para o mundo o que o Paraguai foi há um tempo atrás para o Brasil: fonte de produtos piratas mais baratos, área livre para compra de contrabando.

Só indo para saber

Não sei, tenho todas essas questões em mente quando penso na China. Entretanto, nunca estive lá, e todas essas informações são advindas da minha curiosidade em ler, procurar saber, fuçar sobre o assunto e polemizar um pouco.

Mas a partir de amanhã, a história é outra. Dia 09/fev é o dia do Ano Novo Chinês, feriadão importantíssimo na Coréia e China. Enquanto os brasileiros se divertem atrás do trio elétrico, eu estarei embarcando nessa viagem milenar introspectiva de volta à “terra-mãe”, de onde supostamente quase tudo saiu, desde o macarrão até o futebol. Uma semana na China: não vai me responder todas as questões que já tenho em mente, mas vai me mostrar um pouquinho da realidade deles. Com certeza, vai me ajudar a formular melhor minhas opiniões sobre esse gigante.

E de quebra, me ensinar como é o verdadeiro Ano novo Chinês.

Tudo de bom sempre pra todos, e bom Carnaval pros que pulam!

Viajando na maionese…

  • Vale ressaltar que quando eu falo em China, eu penso na realidade em 2 países: China e Taiwan. Embora sejam considerados 2 países (brasileiros precisam de visto de entrada pros 2), a China continental não reconhece, e aí fica aquela confusão geográfica. Ok, pra efeitos de destruição ambiental, é tudo a mesma coisa: ambos destróem sem dó.
  • Se é pra ter uma potência populacional no comando do mundo (que papo mais vilão de desenho animado!), acho que eu prefiro a Índia, que já chegou também na casa do 1 bilhão de habitantes.
  • Para aqueles que estiverem sem fazer nada na manhã de quarta-feira de cinzas (7:00), assistam ao jogo da seleção brasileira de futebol X Hong Kong – um “clássico”. Se vocês enxergarem na arquibancada um pontinho azul pulando feito louca com uma camisa verde-amarela por baixo… sou eu de casaco! Existe uma remota possibilidade de que eu esteja lá vendo o jogo, tudo vai depender de conseguirmos ingressos a preços camaradas dos cambistas – viva a China.
  • Volto dia 14/fev. Até lá: Vanessa, Dmitri, Fernando e Vander: feliz aniversário!


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