Era uma vez o tempo em que viajar de avião era sinônimo de glamour e conforto.
Considero um marco negativo na história das viagens de avião a notícia que li com tristeza no Gadling e depois no Rodrigo: a United Airlines vai passar a cobrar por refeições em seus vôos entre EUA e Europa a partir de 1º de outubro. Mesmo na 1ª classe, serão servidos snack box e uma refeição apenas.
Cobrança pela comida
É a primeira vez que ouço uma empresa cortar refeições em vôos internacionais, abrindo um precedente deprimente numa indústria ameaçada pelo aumento do combustível e pelos preços de manutenção cada vez mais altos. No caso da United, eu diria que é uma decisão drástica de desespero mesmo. Fazer turismo já não é mais a mesma coisa há tempos. Mas essa notícia só traz mais desânimo a viajantes menos empolgados. Ao invés de atrair mais clientes, a indústria parece os afastar cada vez mais.

E não é a 1ª vez que uma notícia assim chega aos ouvidos dos viajantes americanos. No último ano, o viajante-padrão foi bombardeado por notícias-regrinhas desse naipe. De empresas que passaram a cobrar pela água servida no vôo, pelo travesseiro e cobertor disponíveis até então de graça, pelas bagagens despachadas, que removeram coletes salva-vidas dos assentos ou os aparelhos que passam filmes para diminuir o peso e economizar combustível, que não aceitam mais dinheiro vivo para comprar tudo isso nos vôos… Isso tudo quando não entram direto com pedido de concordata mesmo.
Há quem adore esses cortes na comida de vôo: os lojistas dos restaurantes e fast-foods do aeroporto, que têm agora grandes filas pré-embarque e garantia de lucro. Mas há também quem esteja reclamando. Como, por exemplo, as empresas que fornecem comida pras companhias aéreas, é claro.
Mudança no paradigma de viajar de avião
Infelizmente o consumidor não deve se animar e achar que todos esses custos novos serão descontados dos preços de passagens. Afinal, eles continuam os mesmos ou maiores, até. O que estamos vendo no mercado americano – e um pouco respingando na Europa e no Brasil também – é uma verdadeira mudança gradual no paradigma de viajar de avião. O avião passou a ser o que originalmente nasceu sendo: transporte, puro e simples.
O preço do combustível é a espinha dorsal desse movimento de depreciação das viagens aéreas. Mesmo com o combustível nos EUA sempre ridiculamente mais barato que no resto do mundo. Agora, com o aumento do preço do barril de petróleo, as companhias aéreas americanas estão sentindo mais o baque. Não vêem a luz no fim do túnel tão cedo, e vão cortando mais e mais serviços que antes assumíamos estar inclusos ao preço do tíquete. Hoje, pagar uma passagem significa apenas o direito de ser carregado de ponto X a ponto Y. Todo o resto pode vir a ser cobrado, dependendo da companhia e de sua situação econômica geral.
Regionalismos
É claro, essa situação não é no mundo todo nem em todas as companhias. As companhais asiáticas, por exemplo, donas de um serviço impecável, têm crescido estrategicamente e atuado com menos perdas, apesar dos pesares do mercado. Mas independente desses respiros, o que percebo nitidamente é uma mudança da filosofia de viajar de avião da parte dos consumidores, calejados das trapalhadas sofridas por essa tenttativa de minimizar o custo por todos os lados. Aeroportos se transformaram em sinônimo de chateação para muitos, quando não de pesadelo. Uma pena.
Apesar do meu otimismo e da minha paixão por viajar intermitente, acho difícil que as empresas consigam sair dessa sinuca de bico sem se arranharem com o consumidor. A tendência que vejo é de só os mais insistentes (aqueles que amam viajar de verdade) e os que precisam viajar (negócios, emergências e afins) encararão tantas restrições sem muita frustração. O viajante casual tende, a meu ver, a se tornar mais casual ainda – ou optar por uma jornada por terra/navio. Realizar o sonho de visitar lugares nunca d’antes pisados requer agora doses extras de persistência. Se antes o glamour e o conforto das viagens de avião não era alcançável a todos por causa do preço, hoje, na era das low-costs/low-service, é a paciência de todos que não está ao alcance dos malabarismos das companhias. Aguardemos o que o futuro pode trazer.
Tudo de viagem sempre.
P.S.
- Hoje é o dia do Biólogo. A todos os amigos de profissão, meus parabéns!!! Meu presente é antigo, mas de coração: em 2005, escrevi um pequeno texto de que gosto muito, em homenagem a profissão que abracei com tanto carinho. Os biólogos que passarem por aqui na data de hoje, sintam-se por favor abraçados por mim na forma dessas letras antigas.