A maioria dos turistas que desembarcam em Hilo estão interessadas em visitar um lugar específico: o Parque Nacional dos Vulcões do Havaí. Para fazer a trilha do Kilauea, o mais perigoso vulcão dos EUA na atualidade. Hilo, na Big Island é a porta de entrada para essa maravilha, a lava do vulcão mais ativo do planeta.
Minha paixão por vulcões
Adoro vulcões. Da primeira vez que estive no Kilauea em 2002, a lava estava bem próxima da estrada principal na direção do mar. Não precisei andar muito, portanto, para chegar perto dos rios incandescentes subterrâneos. Verdadeiro delírio vermelho! O calor que saía de dentro da terra era inegavelmente insuportável. Kilauea escorre pro mar. Mas em 2002, em minha primeira visita, sua lava não estava sendo vista caindo na praia. Uma pena.

Por onde escorre a lava do Kilauea
Mas é o vulcão que escolhe sua passagem, não os humanos como provavelmente gostariam. Em 1990, por exemplo, a lava escorreu na direção do vilarejo de Kalapana, ao sul da Big Island. Engoliu tudo. Até hoje os moradores da área aguardam indenizações e esperam a reconstrução da cidade, desaparecida sob lava endurecida.
Pois a cada dia, a lava do Kilauea está despontando em um lugar diferente. Por isso é fundamental que ao chegar no parque, você pergunte a um dos guardinhas onde está a lava naquele dia. Senão pode perder o mais bonito do espetáculo.
Quando visitamos o parque em fevereiro passado, a lava estava há ~2 milhas do fim da estrada, caindo no mar. Uma oportunidade de ouro para ver um dos maiores espetáculos da Terra. Para quem nunca foi no parque, é preciso explicar: primeiro, a lava que escorre do Kilauea não tem velocidade rápida, ela é lenta e você pode acompanhar à distância seu movimento; segundo, a estrada que leva pros “campos de lava” foi sendo “devorada” pela própria aos poucos.
A trilha do Kilauea na Big Island
A trilha do Kilauea para ver a lava começa onde a lava cruzou a estrada. Daí pra frente, é tudo um terreno quebradiço feito sucrilhos, afiado. É aconselhável uma boa bota de caminhada e evitar cair no chão, porque qualquer encostada numa pedra pode te cortar. O solo recém-formado é afiado como vidro. Mas isso não desanima ninguém, porque é enorme o número de pessoas fazendo a trilha, inclusive com crianças. Basta ter cuidado, afinal. Porque a trilha não é difícil, apenas árida.
Visita à cratera Halemaumau
Chegamos no parque por volta das 2 da tarde. Deu tempo de visitar, no topo da montanha Kilauea, os diferentes pontos de erupção que explodiram em períodos diferentes. Muitas delas na década de 70. A maior de todas, onde está ao longe a caldeira ativa atual Halema’uma’u, tem um terreno típico de ficção científica, sem vegetação e de solo árido.
Um vento frio cortante, contrastando com a ebulição que sabemos estar embaixo dos nossos pés – afinal, estamos no centro nervoso do hotspot. Uma das sensações mais bizarras e inesquecíveis que já tive, principalmente porque me sinto “em casa” perto de vulcões e andar ao lado das crateras tem uma magia inexplicável. Kilauea é um lugar de sonho para mim.
Depois de percorrer todas as crateras já dormentes, é hora de encarar a lava de verdade.
O perigo do vog
Chegamos no início da trilha por volta das 4 da tarde. A trilha é aberta, não tem uma sombra sequer. Em dias de sol, o calor é escaldante e insuportável. O terreno é empretecido, o que colabora mais ainda pra uma sensação abafada. Pelo menos duas garrafas de água para cada um para não passar necessidade. Não pense que chover é a melhor saída pro calor. Porque a água da chuva reage com os gases liberados pelo solo, gerando os “vogs” (fogs de vulcão) de ácido clorídrico. Esta fumaça mata se respirada em grande quantidade. Felizmente, estava nublado no dia que visitamos.
Basta ver a enorme nuvem tóxica de vapor e fumaça enxofrada ao longe para saber o local exato onde a lava escorre no mar. À medida que fomos caminhando na direção deste ponto, percebemos a mudança do terreno. Quanto mais nos aproximávamos, mais o chão virava sucrilhos e mais instável. Os guardinhas põem uma corda delimitando a área até onde eles aconselham as pessoas a irem. Mas quem quiser pode prosseguir por sua própria conta e risco. Nós então continuamos.

Trilha do Kilauea: terreno instável
Detalhe: a instabilidade do terreno causada pela constante movimentação de lava há alguns meses fez com que uma área enorme caísse no mar, matando uma pessoa. Com essa informação em mente, não foi nada confortável saber que era justo nesse lugar “desaparecido” que a lava estava saindo dessa vez. Mas sabíamos também que a recompensa no final seria emocionante. E topamos, então, o desafio.


O pôr-do-sol foi chegando, e a nuvem-guia se aproximando. Eis então que vimos um grupo de estudantes da UH-Hilo, admirando o horizonte. Olhavam para a lava. Ela escorria feito rio embaixo da gente, a uma distância de menos de 70m. Além disso, a área onde estávamos tremia à beça. André teve uma idéia brilhante nesse momento. Nossa visão era maravilhosa ali em cima do penhasco. Entretanto, se andássemos para uma das laterais, poderíamos ver efetivamente o rio incandescente caindo no mar.
À noite, a visão do fogo
Fomos. O terreno ficou melhor, mais estável. E a visão… Inacreditável. Várias cachoeiras de lava a 1,140ºC. Ao se encontrarem com as ondas do Pacífico, estas cachoeiras imediatamente viravam pedra ou explodiam.
Verdadeiro show de fogos de artifício natural. Terra nova sendo formada a cada segundo. A ilha crescendo debaixo dos nossos olhos. O planeta se renovando. Emoção sem igual. Delírio inesquecível.


Havíamos levado uns sanduíches, e jantamos ali, com a lava escorrendo ao fundo, em mais um momento mágico da nossa lua-de-mel aventuresca. Poucas pessoas ao redor. Já era noite alta quando encaramos a trilha de volta. Aos poucos, a luz incandescente do fenômeno ficou pra trás. Nossas lanternas passaram então a dominar o caminho. O mais interessante foi perceber a quantidade de pessoas que vai para essa trilha contemplar a lava à noite. Que é exatamente quando a iluminação vermelha-fogo daquele rio caudaloso fica ainda mais linda. Impressionante.
Sobrevôo do Kilauea de helicóptero


Mas a trilha do Kilauea não havia acabado ainda para a gente.
Na manhã seguinte, eis que sobrevoamos de helicóptero a área do vulcão. Dessa vez, para ter noção da dimensão do que é um vulcão em erupção. Primeiro, o helicóptero sobrevoou a engolida cidade de Kalapana no sul da Big Island. A gente vê casas “ilhadas” por um mar de lava ao redor. Além de cenas bizarras como uma placa de “stop” no meio da lava, resquício de uma estrada que se foi.
Depois o helicóptero começa a sobrevoar o atual campo de lava. Este escorre feito calda de chocolate da montanha-bolo, chegando até o mar, no mesmo local onde estávamos no dia anterior. Só que de cima, a nuvem sulfurosa é mais perigosa ainda, pois o helicóptero passa muito próximo dela.
A cena de cima é linda e nos dá a exata noção do quanto a água do mar naquela área é influenciada pela lava. As medições mostram que a temperatura do mar ali é de quase 100ºC.
Cratera Pu’u’o’o em atividade
E para terminar o passeio de helicóptero com chave de ouro, eis que o momento mais esperado chega. Quando a gente vê de cima a caldeira Pu’u’o’o, ativa, gerando lava. Que cena!!!! Aqueles borbulhos de fogo que, ao invés de serem expelidos em explosões no local, vão por tubos de lava subterrâneos e terminam no mar. Melhor visão, impossível.


Depois de tanta experiência mágica com na trilha do Kilauea, dá para entender perfeitamente porque o vulcão é o ponto turístico mais famoso para quem vai a Hilo. A força da natureza em ação é inigualável.
Tudo de bom sempre.
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Mais sobre o Kilauea e outros vulcões
- No Havaí, existe toda uma mitologia por trás de cada vulcão. A deusa dos vulcões, por exemplo, mora no Kilauea. Pela tradição, seu nome não deve ser pronunciado à toa, apenas quando estritamente necessário. Aqui há uma boa explicação sobre o mito.
- Para lembrar: Dizem que se alguém carrega um pedacinho de lava que seja para casa, a vida dele entra numa espiral de problemas sem fim. Há inclusive um local de devolução das pedras pelas pessoas infortunadas. Por lei, nenhum pedaço de vulcão pode sair do Havaí, sob pena de multa e apreensão. Portanto, o mito nesse caso veio bem a calhar…
- O Havaí fica em cima de um “hotspot”. É portanto um lugar onde o magma flui com mais facilidade por um buraco da crosta devido a anomalias térmicas. Existem ~50 hotspots no mundo. O mais estudado é o havaiano, mas recentemente outro foi descoberto: em Samoa. O parque de Yellowstone também está num hotspot, e é considerado na realidade um super-vulcão, que pode acordar a qualquer momento.
- Os jornais estão sempre noticiando vulcões que entram em erupção. Visto que o magma está sempre ativo dentro do planeta, não é uma novidade erupções sejam comuns. Recentemente, o vulcão Karimski, um dos maiores do Kamchatka, acordou. O Kamchatka, aliás, é uma área na Rússia com uma das maiores atividades vulcânicas do planeta. E um dos meus destinos-sonhos de viagem.
- Em Honolulu fica a cratera do Punchbowl. Dentro da cratera há um memorial aos soldados veteranos de guerra. Essa é a visão panorâmica de dentro da cratera. Vejam neste mesmo link ainda mais a praia de Hanauma Bay, que fica, aliás, dentro de uma das crateras do vulcão Koko Head.
