Visitar as “grandonas” sequóias era um pequeno sonho da minha infância. Quando criança, sempre imaginava o problema da proporção, uma árvore tão grande que muitos homens não conseguiam abraçá-la, etc. Essas viagens na maionese que as crianças espertamente fazem sozinhas. Apenas que: não imaginava ver as sequóias no inverno, em meio à neve.
Depois que cresci, meu interesse nas sequóias passou a ser estritamente biológico. Como chegava nutrição no último galho lá de cima? Por que o tronco à medida que cresce não afina como as demais árvores? Qual a vantagem de seu gigantismo? Como seria a competição por espaço entre as sequóias? Por que só existem lá na Sierra Nevada?
E foi com esse arsenal de perguntas, misturada à curiosidade infantil restaurada, que cheguei no Parque Nacional das Sequóias, no interior da Califórnia.
Primeira providência: pneus com correntes
Eram 3 da tarde, o parque fechava às 5, e logo na entrada do Parque, uma placa dizia: “We require tire chains”. Precisava ter correntes nos pneus para poder dirigir em determinadas áreas do parque, que estavam atoladas de neve. Conversamos com o guarda, que nos indicou uma lojinha uma milha pra trás, onde alugavam-se correntes. Fomos até a lojinha. O moço que nos atendeu, depois de fornecer um preço aviltante pelas correntes (que quase nos desanimou a empreitada), comentou. “Olha, eles não checam se você tem ou não corrente. Se perguntarem, diga que tem e vá até onde a neve deixar.” Por via das dúvidas, alugamos as correntes.
Voltamos à entrada do parque. Como dito pelo moço da loja, o guarda nada perguntou sobre correntes. Porque provavelmente assumiu que tínhamos as tais no bagageiro. Pagamos o ingresso e lá fomos atrás das sequóias.
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Parque Nacional das Sequóias no inverno – A neblina e a neve
A estrada que dá acesso às sequóias propriamente ditas estava em reforma, com um trecho considerável em pista única, e tivemos que ficar mais de 15 minutos esperando num sinal vermelho que permitiria continuar nosso trajeto. Já passava das 4 da tarde e a luz do dia daqui a pouco seria perdida – o que para tornaria inútil o esforço para fotografar sequóias. À medida que subíamos a Serra Nevada, o frio começava a predominar. Muita neblina. De repente apareceu um pouquinho de neve, mais um pouco, mais um tanto… E de repente estávamos numa área completamente branca, com muitas árvores secas e outras árvores gigantes e verdes ao nosso redor. Chegamos, enfim, nas sequóias.
Você não encontrará sequóia por boa parte da área do parque. Isto porque elas habitam apenas as regiões mais altas, mais frias e rarefeitas, que estão no centro do parque. Embora frio, o visual da estrada àquela hora da tarde com neblina e neve estava simplesmente mágico, lindíssimo. Fiquei admirada com a beleza mística que tomava conta dos arredores das árvores. A neve branca e nunca pisada compunha um cenário perfeito. Sequóias no inverno: mais fotogênico, impossível.
A grandeza da sequóia General Sherman
Não dava para fazer trilha alguma. Afinal, já era tarde do dia, não podíamos entrar no mato e correr o risco de anoitecer. Além do frio, é claro. Mas, mesmo assim, andamos um pouco até acharmos a sequóia General Sherman, considerada o ser vivo de maior massa do mundo.
General Sherman pesa cerca de 2000 toneladas. É a maior árvore do mundo. Sua idade, calculada por dendrocronologistas, é motivo de controvérsia, mas está estimada em cerca de 2500 anos. Aliás, boa parte das sequóias maiores por lá tem mais ou menos a mesma idade. São “jovens senhoras”. A árvore é muito alta (~90 metros) e, olhando debaixo, é difícil ver o final dela.
As outras sequóias
Entretanto, ela não é a sequóia mais bonita. Há muitas na beira da estrada que têm um colorido todo diferente nos troncos, e muitas habitam em grupos. Podemos perceber, por exemplo, que a competição por espaço é intensa, dado que nesses grupos, sempre tem uma ou duas árvores que são pequenas, não crescem adequadamente. Porque as gigantes irmãs simplesmente dominam o pedaço.
O tronco da sequóia é bem espesso, mas a madeira é mole, provavelmente a razão pela qual não foram utilizadas (e dizimadas) nos primórdios da civilização americana. Seu predador natural são insetos, fungos e bactérias – são eles que em geral matam a árvore, por doenças e herbivoria. Ou quando uma evento natural atua: uma tempestade derruba, um incêndio queima (curiosamente, em geral ela regenera de incêndios), um terremoto fragiliza o solo e ela cai. Mas quando cai, gera verdadeiras esculturas espalhadas pelo parque, e em uma dessas árvores “caídas”, foi construído um túnel, por onde passamos à pé. Muito interessante, porque vemos exatamente a estrutura interna do tronco e/ou da raiz nesses cortes.
Parque vazio = visita introspectiva
O parque estava praticamente vazio. Sentimo-nos sozinhos entre as gigantescas árvores, curtindo aquele visual mágico de neve e neblina. De repente, a sensação de estarmos em outro planeta, onde nós éramos as formigas e os seres maiores predominavam. Muito silêncio e introspecção. A neblina ainda predominava, quando enfim anoiteceu e chegou a hora de dar tchau às grandonas.
Ficou a vontade no fundinho do coração de que os humanos continuem não mexendo nelas. De que elas continuem embelezando a região por pelo menos mais 1000 anos. Além disso, a vontade de que um dia eu volte lá para visitá-las de novo e matar as saudades.
Tudo de bom sempre.
P.S.
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