Parque das Sequóias no inverno

por: Lucia Malla EUA, Parques Nacionais, Viagens

Visitar as “grandonas” sequóias era um pequeno sonho da minha infância. Quando criança, sempre imaginava o problema da proporção, uma árvore tão grande que muitos homens não conseguiam abraçá-la, etc. Essas viagens na maionese que as crianças espertamente fazem sozinhas. Apenas que: não imaginava ver as sequóias no inverno, em meio à neve.

Depois que cresci, meu interesse nas sequóias passou a ser estritamente biológico. Como chegava nutrição no último galho lá de cima? Por que o tronco à medida que cresce não afina como as demais árvores? Qual a vantagem de seu gigantismo? Como seria a competição por espaço entre as sequóias? Por que só existem lá na Sierra Nevada?

E foi com esse arsenal de perguntas, misturada à curiosidade infantil restaurada, que cheguei no Parque Nacional das Sequóias, no interior da Califórnia.

Primeira providência: pneus com correntes

Eram 3 da tarde, o parque fechava às 5, e logo na entrada do Parque, uma placa dizia: “We require tire chains”. Precisava ter correntes nos pneus para poder dirigir em determinadas áreas do parque, que estavam atoladas de neve. Conversamos com o guarda, que nos indicou uma lojinha uma milha pra trás, onde alugavam-se correntes. Fomos até a lojinha. O moço que nos atendeu, depois de fornecer um preço aviltante pelas correntes (que quase nos desanimou a empreitada), comentou. “Olha, eles não checam se você tem ou não corrente. Se perguntarem, diga que tem e vá até onde a neve deixar.” Por via das dúvidas, alugamos as correntes.

Voltamos à entrada do parque. Como dito pelo moço da loja, o guarda nada perguntou sobre correntes. Porque provavelmente assumiu que tínhamos as tais no bagageiro. Pagamos o ingresso e lá fomos atrás das sequóias.

 

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Parque Nacional das Sequóias no inverno – A neblina e a neve

A estrada que dá acesso às sequóias propriamente ditas estava em reforma, com um trecho considerável em pista única, e tivemos que ficar mais de 15 minutos esperando num sinal vermelho que permitiria continuar nosso trajeto. Já passava das 4 da tarde e a luz do dia daqui a pouco seria perdida – o que para tornaria inútil o esforço para fotografar sequóias. À medida que subíamos a Serra Nevada, o frio começava a predominar. Muita neblina. De repente apareceu um pouquinho de neve, mais um pouco, mais um tanto… E de repente estávamos numa área completamente branca, com muitas árvores secas e outras árvores gigantes e verdes ao nosso redor. Chegamos, enfim, nas sequóias.

Você não encontrará sequóia por boa parte da área do parque. Isto porque elas habitam apenas as regiões mais altas, mais frias e rarefeitas, que estão no centro do parque. Embora frio, o visual da estrada àquela hora da tarde com neblina e neve estava simplesmente mágico, lindíssimo. Fiquei admirada com a beleza mística que tomava conta dos arredores das árvores. A neve branca e nunca pisada compunha um cenário perfeito. Sequóias no inverno: mais fotogênico, impossível.

Estrada das Sequóias

Só faltava um urso aparecer para ficar mais surreal ainda.

Estrada das Sequóias no inverno

Cena da estrada do parque das Sequóias no inverno. O cenário estava realmente mágico com toda a neblina e o branco neve.

A grandeza da sequóia General Sherman

Não dava para fazer trilha alguma. Afinal, já era tarde do dia, não podíamos entrar no mato e correr o risco de anoitecer. Além do frio, é claro. Mas, mesmo assim, andamos um pouco até acharmos a sequóia General Sherman, considerada o ser vivo de maior massa do mundo.

General Sherman pesa cerca de 2000 toneladas. É a maior árvore do mundo. Sua idade, calculada por dendrocronologistas, é motivo de controvérsia, mas está estimada em cerca de 2500 anos. Aliás, boa parte das sequóias maiores por lá tem mais ou menos a mesma idade. São “jovens senhoras”. A árvore é muito alta (~90 metros) e, olhando debaixo, é difícil ver o final dela.

General Sherman

General Sherman, a maior sequóia do mundo: sem chance de uma vista dela completa. Repare na enorme cicatriz de incêndio que ela tem no tronco.

Sequóias

As outras sequóias

Entretanto, ela não é a sequóia mais bonita. Há muitas na beira da estrada que têm um colorido todo diferente nos troncos, e muitas habitam em grupos. Podemos perceber, por exemplo, que a competição por espaço é intensa, dado que nesses grupos, sempre tem uma ou duas árvores que são pequenas, não crescem adequadamente. Porque as gigantes irmãs simplesmente dominam o pedaço.

O tronco da sequóia é bem espesso, mas a madeira é mole, provavelmente a razão pela qual não foram utilizadas (e dizimadas) nos primórdios da civilização americana. Seu predador natural são insetos, fungos e bactérias – são eles que em geral matam a árvore, por doenças e herbivoria. Ou quando uma evento natural atua: uma tempestade derruba, um incêndio queima (curiosamente, em geral ela regenera de incêndios), um terremoto fragiliza o solo e ela cai. Mas quando cai, gera verdadeiras esculturas espalhadas pelo parque, e em uma dessas árvores “caídas”, foi construído um túnel, por onde passamos à pé. Muito interessante, porque vemos exatamente a estrutura interna do tronco e/ou da raiz nesses cortes.

Parque vazio = visita introspectiva

O parque estava praticamente vazio. Sentimo-nos sozinhos entre as gigantescas árvores, curtindo aquele visual mágico de neve e neblina. De repente, a sensação de estarmos em outro planeta, onde nós éramos as formigas e os seres maiores predominavam. Muito silêncio e introspecção. A neblina ainda predominava, quando enfim anoiteceu e chegou a hora de dar tchau às grandonas.

Parque das Sequóias no inverno

Parque praticamente abandonado, poucas pessoas andavam por lá, além de muitas das cabanas estarem trancadas. O banheiro estava funcionando, mas com chave para evitar que os ursos sejam atraídos.

Parque Nacional das Sequóias no inverno

Um pouco dos troncos de sequóia quando elas aparecem em grupos. Um colorido incrível no meio desse cenário branco. Totalmente Lord of the rings… Só faltou, aliás, um elfo saindo do bosque.

Ficou a vontade no fundinho do coração de que os humanos continuem não mexendo nelas. De que elas continuem embelezando a região por pelo menos mais 1000 anos. Além disso, a vontade de que um dia eu volte lá para visitá-las de novo e matar as saudades. 

Tudo de bom sempre.

P.S.

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