Desde que Steven Spielberg iniciou a era do “monstro mais temido do planeta” ao lançar seu filme “Tubarão”, os tubarões, esses peixes cartilaginosos, vêm sofrendo ameaças e todo tipo de abuso. Spielberg, entretanto, admitiu nos anos 90 que não tinha idéia da proporção de devastação que esse filme traria. Se soubesse, teria modificado algumas coisas.


Habitantes do nosso querido planetinha azul há mais de 300 milhões de anos (lembre-se: nós humanos estamos aqui há cerca de 10,000 anos, portanto acho que eles mandam na parada), os tubarões nunca foram tão incomodados em suas vidinhas simples e pacatas como agora, ou pelo menos nos últimos 30 anos. De repente, de apenas mais uma espécie selvagem viraram o terror dos mares. E estão sendo exterminados.
Sou apaixonada por tubarões
Nas Filipinas, visitamos Malapascua apenas por causa do “thresher shark” (tubarão-raposa, em português), uma espécie que vive a cerca de 200m de profundidade. Em Malapascua, indivíduos desta espécie sobem para serem limpos por peixinhos. (A praia de areia branquinha e paradisíaca veio, portanto, de bônus da viagem, nosso interesse era o tubarão mesmo.) Esse comportamento de “limpeza” é raríssimo perto da costa.
Por isso, Malapascua é um destino imprescindível para qualquer mergulhador. E mergulhamos com esse tubarão às 5 da manhã. O mergulho é cedo porque a luz do sol atrapalha a visão (aliás, a ausência de visão, pois ele é quase cego) do tubarão-raposa, e ele quase não aparece durante o dia.

Os tubarões são a indicação de um ecossistema marinho saudável. Se você vai a um recife de coral e vê tubarões, isso significa que aquele ambiente está bem preservado, sem maiores perturbações. Portanto, tubarão é um indicador positivo. Deveria ser motivo de alegria! Mas hoje em dia não é assim, graças à sabedoria popular… Explico.
Tubarões massacrados
Os chineses (e asiáticos em geral) milenarmente utilizam vários elementos naturais em seus chás, infusões e cia. ltda. No mundo atual, com a super-população que temos, por causa desta tradição eles já quase exterminaram o panda, outros ursos, os mares deles (e muitos lugares no Pacífico) e sabe-se lá quantas outras espécies por acreditarem que algo do bicho “faz bem à saúde”. Acho, entretanto, que a ciência deveria antes pesquisar qual o princípio ativo presente nessa tradição e produzir sinteticamente o produto/remédio, e assim, liberar os bichos de serem a fonte única.
Portanto, o erro acontece dos dois lados, tanto da ciência e da população. Caso a ciência se mobilizasse mais haveria dois benefícios:
- Os bichos não seriam mais caçados;
- Um problema médico poderia ser solucionado.
Caso a população se mobilizasse e tentasse mudar esse costume:
- A indústria da pesca e caça predatória diminuiria;
- A biodiversidade e o ecossistema normal seriam mantidos.
Cartilagem de tubarão
E onde entra o tubarão nisso? Bom, todos provavelmente conhecem a LENDA de que cartilagem de tubarão ajuda a prevenir câncer (eu acho que é câncer, não tenho certeza). Por conta dessa LENDA a caça ao tubarão chegou a proporções inimagináveis, e hoje várias espécies que aqui reinaram por 300 milhões de anos estão ameaçadas de extinção. Pior, a LENDA diz que é a cartilagem da nadadeira. Aí os pescadores caçam o bicho, cortam a nadadeira e devolvem o bicho pro mar. O animal vai morrer porque não pode nadar direito = não pode caçar = não se alimenta = morre. Os pescadores acham que “não estão fazendo mal”. Afinal, o bicho nem morreu na superfície, não é mesmo? #ironia
Some-se a isso, a imagem de “predador e destruidor dos mares e das pessoas” que titio Spielberg construiu, e temos aí o prato perfeito para uma dizimação. A maior parte das pessoas hoje em dia tem medo de tubarão. Ok, eles são predadores mesmo (nós também somos…), são selvagens, e cada um tem direito a ter medo do que quiser (eu detesto baratas, por exemplo) mas… eles só comem quando estão com fome, e principalmente, só atacam quando se sentem ameaçados. Os famosos casos de ataques a surfistas em Recife (PE), na California, no Hawaii e na Austrália, embora sempre alardeados pela mídia como “ataques sem sentido”, quase sempre envolvem:
- Imprudência do surfista; ou
- Existência de um ecossistema nas redondezas que foi devastado, e por isso o tubarão teve que se locomover para conseguir seu almoço. Esse é o caso no Recife. Afinal, não se destrói um ecossistema sem se pagar de alguma forma, não é mesmo?
Surfista = tartaruga?
Existe uma teoria que diz que um surfista nadando em cima de uma prancha, visto de baixo, se parece com uma foca ou tartaruga, que são alimentos de tubarão – e assim, o animal se confundiria e tentaria comer o ser humano. Entretanto, nunca ouviu-se falar que o tubarão efetivamente comeu todo o ser humano, normalmente só dá uma mordida e vai embora. Por uma razão muito simples: nossa carne aparentemente não é apetitosa para ele. Veja bem, essa história de “confusão do animal” é teoria, não sei dizer se há fundamento científico. Principalmente porque o faro do tubarão é muito bom, e tenho minhas dúvidas se ele não utilizaria o mesmo para reconhecer a presa. O ataque ao surfista acontece mais por curiosidade do animal mesmo, pelo menos é o que eu acho. Não sou especialista em tubarões, apenas apaixonada por eles. 🙂
De qualquer forma, hoje acordei pensando no meu querido namorado mergulhando diariamente num atol remoto, num recife de coral lindo. E acho que sou a única namorada maluca que pensa assim: “Tomara que ele encontre muitos tubarões pela frente…”
Tudo de bom sempre. E proteja os tubarões.
Viajando na maionese dos tubarões
- Você pode ver um tubarão branco em cativeiro em tempo real nesse link do Aquário de Monterey Bay, EUA. Ele é o único tubarão branco em cativeiro do mundo, aliás, ela, porque é uma fêmea. E só para fazer um pequeno comercial, caso você visite Monterrey, nesse Aquário, que é considerado um dos melhores do mundo, no tanque das tartarugas, a foto demonstrativa que está exposta de uma tartaruga foi tirada pelo meu amorzinho… Vai lá e dê sua opinião, heheheheheh!!!
- Veja mais tubarões em cativeiro aqui.
- E veja mais fotos de tubarões nessa galeria da ArteSub.