Um passeio pelo Aquário de Gênova

por: Lucia Malla Animais, Aquários & Zoos, Crianças, Educação, Europa, Itália, Viagens

Quando estivemos na Itália em abril passado, passamos 2 dias em Gênova, visitando uma amiga que trabalha vendo todos os dias os tubarões no Aquário de Gênova – sortuda… 😀

O Aquário de Gênova é o 2º maior da Europa. Está localizado na área costeira do píer de Gênova, próximo ao cais do porto, e foi inaugurado em 1992, como parte das celebrações dos 500 anos da viagem de Cristóvão Colombo de “descoberta” das Américas durante a Expo 92. Colombo era um navegador/explorador genovês – ou seja, um orgulho da cidade.

Há tempos eu ouvia falar do Aquário de Gênova, considerado um dos melhores do mundo entre alguns especialistas. Como eu adoro aquários, visitar Gênova logo entrou na lista de “must-go”, especificamente para ver o Aquário. Assim que chegamos, já de tarde, fomos recepcionados pela nossa amiga no píer, animadíssima com nossa visita. Depois da matação de saudade inicial e muitos abraços, fomos guiados pelos corredores da exposição principal, ela contando as histórias sobre o trabalho ali e sobre as espécies mais divertidas (tubarões, claro!).

Tanque com focas. Elas adoram brincar e se empolgam nadando perto do público.

Passei meus olhos por todos os tanques abertos ao público. Há um especialmente dedicado à fauna e geologia do parque marinho de Cinque Terre, que fica ali perto e é das atrações mais visitadas da Itália. Algumas espécies endêmicas estão enfatizadas e minha amiga comentou já ter visto quase todas mergulhando pela costa genovesa. Há também tanques representando o ecossistema do Mediterrâneo e de águas frias. Essa, aliás, é uma tendência dos aquários em geral, a de destacar a paisagem sub do local onde estão, educando o público para o ambiente mais próximo de seu cotidiano. Acho excelente e importantíssimo para a conservação eficaz.

Entretanto, o tanque que mais gostei foi o dos grandes peixes pelágicos. Ali curiosamente há um tubarão-galhudo (Carcharhinus plumbeus) com uma barriga enorme. Fiquei observando as pessoas observarem o animal: todas sem exceção assumiam que era uma fêmea grávida. Achei fascinante, porque na realidade, o animal é um macho com um problema de coluna grave, o que gerou tal curvatura bizarra. Por conta dessa “curvatura”, a barriga parece crescida; daí a confusão. Acho que eles precisam esclarecer melhor nos painéis explicativos…

Tubarões-serra descansando no fundo do aquário. No mesmo tanque, estava o tubarão-galhudo corcunda, que não aparece nas fotos.

Um dos tanques mais populares é o do “Nemo”. Na verdade, é sobre os peixes dos recifes de coral e no painel explicativo, as espécies do filme “Nemo” aparecem desenhadas e identificadas. As crianças aprendem sobre os “personagens” do filme na prática, vendo-os nadando dentro do tanque. Um barato.

Aprendendo sobre o Nemo e seus amigos de recife.

Há ainda 2 “chavões” de aquários: um tanque cheio de piranhas brasileiras (provavelmente do Pantanal…) e um aberto com arraias. Este último, bem raso, permite que o visitante interaja com inúmeras arraias, tocando-as quando elas passam próximas a você. Este display me gera mixed feelings. Explico: as arraias são animais naturalmente tímidos que, ao ver outro animal “desconhecido” (no caso, nós, humanos) tende a se enterrar na areia ou se afastar. Acontece que o objetivo daquela exposição é justamente a interação. Então para que seja bem-sucedida, as arraias precisam estar em número elevado num espaço pequeno, o que causa stress. Mas se são colocadas em número que não sejam estressadas pelo espaço, aí elas não interagem, apenas fogem – e o público reclama. Um dilema educativo. No final das contas, a intenção é boa, e qualquer educador sabe que essa interação física ajuda muito a fazer as pessoas se preocuparem com a causa marinha em geral, mas por outro lado, o animal não está tranquilo, o que não é legal mesmo. Um equilíbrio entre educação e conforto animal ainda precisa ser alcançado, em minha opinião.

Interação “educativa” com arraias: vale o stress?

Outro deslize educativo que achei: na exposição dos tubarões, cita-se muito superficialmente a questão do finning. O cartaz fala que os animais estão ameaçados de extinção, mas não explica direito por quê – não vai ao cerne da questão, como evitando a reflexão mais profunda. Claro, quis entender o por quê daquela relutância, e nossa guia especial respondeu que os responsáveis pelos cartazes são de outro departamento, mais relacionado a educação e público. Estes, para não melindrar os turistas asiáticos (grande fonte de vi$itas), acharam melhor deixar tudo meio “nas sombras”. Não gostei disso, sinceramente. Aqui no Aquário de Waikiki, por exemplo, na parte de tubarões fala-se com clareza sobre a matança de tubarões, o finning e o por quê da prática, assim como qual o mercado consumidor principal destas barbatanas (a China) e a questão “cultural”. Sem pudor algum nem rodeios, deixando o gancho saudável para discutir a questão ambiental de forma clara. (E olha que a maior parte do turismo havaiano vem da Ásia…) É muito mais eficiente para educar, em minha opinião.

As piranhas, arroz-de-festa de quase todos os aquários que já visitei.

Depois do passeio tradicional, fomos para o passeio não-convencional: pela parte interna do aquário. Ali, não há glamour nem carpetes nem iluminação especial; apenas bombas de água, filtros, molhação e canos. Nossa amiga estava cuidando de 2 tubarões-de-recife que tinham chegado há pouco. Um deles com uma infecção enorme causada pelo outro tubarão: os dois brigaram e um deu uma mordida avantajada no outro. Antes de nos recepcionar, ela tinha dado antibiótico ao tubarão infeccionado, que estava separado do outro por uma rede enorme. Vimos os dois da parte de cima do tanque dos tubarões, que os visitantes normalmente vêem de baixo.

Tanque dos tubarões visto das passarelas por onde os tratadores mergulham para alimentá-los.

Outra curiosidade foi ver os berçários para alguns peixinhos e águas-vivas. Eles são cruzados no próprio aquário. Os filhotinhos fofos minúsculos… uma graça. Adorei a visita.

Aliás, no geral, gostei muito do Aquário de Gênova. Tenho minhas considerações, que obviamente expressei para minha amiga mais tarde em volta de uma mesa de jantar repleta de parmeggiano e vinho. Mas, considerações à parte e independente de qualquer questão, o Aquário continua sendo um passeio excelente para quem vai a Gênova, principalmente para as crianças, que têm a oportunidade de ver diversas espécies diferentes e aprender muito sobre o ambiente marinho. Eu aconselho sem pestanejar.

Terminado o passeio pelo Aquário, saímos então para conhecer a cidade. Mas isso é papo para outro post…

Tudo de bom sempre.



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