O nome dela verdadeiro é segredo de estado, mas seu pseudônimo na internet não poderia ser mais adequado: Viva. Porque está sempre de alto astral, emanando bons comentários pelos meios virtuais e reais mais diversos, cheia de humanidade e respeito pelo próximo. A Viva foi uma das primeiras pessoas do mundo blogueiro que eu conheci ao vivo, e logo de cara, ela me convidou pra uma visita deliciosa em sua casa no Rio, onde conheci seus “pimpolhos” adultos e tivemos um longo e agradável papo, quase uma entrevista. Humanidade é a palavra que a melhor define, e hoje é uma amiga que eu agradeço muito ter vindo nas ondas do blog. Desde essa visita ao Rio, reencontrei-a algumas vezes e estou no aguardo de sua visita a São Paulo para fofocarmos mais sobre o que gostamos: viagens, principalmente. A entrevista que fiz com ela pelo MSN, aliás, foi reveladora.
Por uma sorte da vida, a Viva desbravou o mundo com 13 anos, quando muitos ainda nem pensam em pôr o pé na estrada de verdade. Com uma experiência dessas no currículo, a curiosidade falou mais alto e eu tive que perguntar muito mais para a entrevista. Leiam abaixo a delícia de entrevista que rolou dia desses entre eu e ela numa esquina virtual.
Entrevista viajante: Marcia Viva
Você se considera mais ecoturista ou é mais adepta aos passeios urbanos?
Viva: Há uns 8 anos comecei a curtir mais os passeios de ecoturismo, embora ulitmamente eu tenha andado meio parada em termos de viagens. Gosto mesmo de viajar. Em geral, qualquer viagem me diverte.
Como você escolhe seus destinos?
Viva: Dicas de amigos ou do jornal… Disponibilidade financeira.
Houve algum lugar que você foi sem dica alguma e que adorou?
Viva: Não me lembro de nada assim que eu não tivesse dica NENHUMA. Mas certamente alguns lugares superaram minhas expectativas. Barcelona e Fernando de Noronha são dois exemplos. Embora eu já tivesse algumas dicas e já tivesse lido a respeito, me agradaram muito acima do que eu havia ouvido falar. Não sou do tipo de pessoa que pesquisa TUDO sobre o lugar previamente. Deixo pra ter alguma surpresa no local também.
Você falou de Barcelona e Fernando de Noronha como boas surpresas. O que te surpreendeu em cada um desses lugares que não estava em guias, livros, etc.?
Viva: Em FN, a tranquilidade de se andar pelas ruas a qualquer hora e deixar até a chave na ignição do carro sem se preocupar (acho que isso é fruto da paranóia de carioca, rs). A cor da água é indescritível. Mesmo quando você vê as fotos. A foto é só um quadradinho. Lá o azul esverdeado te envolve, te abraça. Assim como o laranja do pôr do sol. Acho que é isso, as cores te envolvem. São sensações que não se pode descrever, só vivenciar. Quanto a Barcelona, me encantou o “clima” da cidade, a alegria das pessoas. Nas Ramblas parece que todo mundo está eternamente de férias. Também adorei a arquitetura (que é uma coisa que curto muito observar no turismo urbano). Adoro observar estilos e detalhes de construção de prédios e Barcelona é um prato cheio pra isso.
Viva, que lindo isso que você disse sobre as cores que te envolvem! Barcelona, de uma forma urbana, faz o mesmo que Fernando de Noronha, te envolve em cores mesmo.
Viva: Talvez seja porque lá tem pouco relevo, então temos mais “contato visual” com o céu. Em Barcelona se respira arquitetura (ou sou eu que sou aficcionada? rs) É uma cidade que teve um desenvolvimento fantástico no início do séc. XX e investiu muito em urbanização e tem um estilo arquitetônico próprio, principalmente devido ao Gaudí. Recomendo fortemente fazer uma visita guiada a pelo menos um dos prédios dele. Cada detalhe tem uma explicação.
Quando estive em Barcelona, eu fiz um passeio chamado “Ruta del Modernisme”. Um passeio que te guiava por todas as construções do Gaudí, até aquelas menos conhecidas.
Viva: Ah, essa eu perdi… 🙁 Fiquei tão encantada com Barcelona que a considero uma espécie de Paris: uma cidade a qual se pode voltar várias vezes e sempre descobrir algo interessante. É um lugar em que eu moraria, certamente. E olha que não tenho vontade de sair do Rio.
Eu também moraria. Aliás, interessante você comparar com Paris, porque as 2 foram as cidades que quando visitei em meio ao meu mochilão pela Europa havia planejado ficar 3 ou 4 dias e terminei ficando 1 semana… As duas cidades pedem estadia longa, para serem bem-aproveitadas.
Viva: Sim. Tenho um sonho de algum dia passar 1 mês em Barcelona para aprimorar meu espanhol.
Quem sabe? Qual foi sua viagem inesquecível? Por quê?
Viva: Quando eu tinha 13 anos meu pai ganhou uma causa na justiça e resolveu fazer uma mega-viagem à Europa com a família (meus irmãos tinham então 10 e 9 anos). Passamos 59 dias passeando desde a África do Sul, Turquia, Grécia, Israel e as principais capitais da Europa. Tudo com hotéis, transfer e passeios agendados, foi uma viagem de sonho. Lembrando que naquela época era raríssimo as pessoas viajarem para o exterior e não havia esse culto à Disney e essas facilidades todas de hoje em dia.
Viva, você desbravou alguns desses destinos! Que barato saber disso nesta entrevista!
Viva: Acho que aquela viagem foi a melhor herança que meu pai deixou pra nós. Pra mim foi importantíssimo na compreensão do mundo, da História e da Geografia. Fizemos desde safari no Kruger Park na África do Sul até esquiar numa minúscula cidade da Suíça onde só se chega de trem. Acho que meu pai deixou esse gene viajante em mim, rs. Quando fiz 10 anos de casada fiz uma viagem de lua de-mel com meu marido pela Europa, que também foi super gostosa e romântica.
Mas, por causa daquela viagem que fiz na infância, eu tinha um sonho de levar meus filhos à Europa também (é claro que hoje em dia uma viagem daquela seria inviável economicamente). Infelizmente meu marido faleceu antes que pudéssemos realizar o sonho juntos. E eu me sentia “sem forças” pra fazer essa viagem só com eles. Mas ano passado minha filha ganhou uma viagem pra Israel e eu tomei coragem e levei meu filho e nos encontramos os 3 na Espanha (que eu ainda não conhecia) e depois fomos a Portugal. Foi uma viagem super-divertida, em que nos aproximamos ainda mais.
É muito legal a união que a estrada nos traz, né?
Viva: Sem dúvida! Não posso reclamar dos meninos, eles são muito companheiros e nunca tiveram reações típicas de adolescentes, como por exemplo, se afastar dos pais… epa, estou mudando de assunto! Rs Respondendo à pergunta inicial, no Brasil os lugares que mais curti foram Noronha, Bonito e Chapada Diamantina, nesta ordem. A natureza tem uma capacidade infinita de nos encantar, surpreender. Subir até o alto da cachoeira da Fumaça e vislumbrar aquele vale do Capão (Lençóis-BA) nos reposiciona no universo.
Bonito é um lugar que me deixou apaixonada. Aquela água é muito linda.
Viva: Demais! Era o meu lugar favorito até eu conhecer FN… rs aquelas flutuações, na água límpida até não poder mais! Inesquecível…
Acho que a gente gosta de cores, Viva… 😛
Viva: A gente tende a achar que TODO MUNDO gosta, né? Mas você que está entrevistando várias pessoas, deve perceber melhor as diferenças.
Percebo. E isso tem sido um barato, Viva. As experiências e visões das pessoas mudam muito. Eu, biologicamente, fico viajando de que esses “genes viajantes” são de herança quantitativa: cada um expressa uma certa quantidade deles… 😛
Viva: Tenho uma amiga que não gosta muito de sair do canto dela. Adora uma rotina (!). Ano passado fez uma viagem de 20 dias à França e Itália. Disse que gostou de tudo mas o melhor foi voltar pra casa…
Mas é essa perspectiva do outro que eu acho mais gratificante, não só num blog, mas na vida em geral. Perceber como somos diferentes em peculiaridades, apesar de todos da mesma espécie Homo sapiens. A sua amiga, por exemplo, tem outro tipo de visão de uma viagem, outra forma de absorver experiências. Acho muito legal aprender com essas as nuances.
Viva: Sem dúvida. Apurando o nosso olhar para o outro, ampliamos nossa maneira de ver o mundo.
Sim, e podemos começar a pensar em mudar coisas que não funcionam, percebendo os diferentes aspectos das visões pessoais.
Viva: Você, então, que viaja o mundo todo, é phd nesse assunto! 😉
Hahahaha!
Viva: Mas é claro que viajar não é condição pra isto. É que você é realmente antenada com as pessoas. Achei aquela sua experiência na Coréia do Sul fantástica (e a oportunidade que tive de conversar com você ao vivo, impagável)
Precisamos nos encontrar de novo, Viva…
Viva: Sem dúvida! Vou me programar pra ir a SP em breve. Quero visitar a bebê da Gabi, entre outras ótimas desculpas, rs!
Qual a comida mais exótica/estranha que já comeu numa viagem?
Viva: Embora eu goste muito de provar comidas típicas dos lugares, não sou muito de me aventurar em esquisitices. Mas uma vez em Zurique comi jacaré (acho que o mais exótico foi o fato de ser na Suíça).
Realmente, jacaré na Suíça é nada a ver.
Viva: Pois é… Na Argentina comi rins e outros miúdos de boi e detestei. Comi sapo quando fiz Projeto Rondon no interior do Mato Grosso. (Ou teria sido rã? Não saberia diferenciar.) O exótico aqui fica por conta de termos achado o bicho no poço de água da casa. Limpamos, assamos e comemos ali mesmo. Ah, e também comi uma cobra em Bonito. Infelizmente não me lembro qual.
Você tem alguma mania ao viajar?
Viva: Hmmm, acho que não. Mas a gente tem a tendência de achar que quando é conosco, é HÁBITO. Só os outros é que têm mania, né? rs… Mas minha mãe me ensinou a levar 3 coisas para QUALQUER LUGAR: biquini, casaco e guarda-chuva.
Guarda-chuva eu dispenso, mas o casaco nem pensar. E qual o souvenir mais exótico que já trouxe de algum lugar?
Viva: Quando estive no Caribe, com um casal de amigos, fiquei encantada com a cor da água. Falava nisso o tempo todo (olha a cor aí de novo!). Aí o meu amigo comprou pra mim uma daquelas garrafinhas com a “legítima água do Caribe” que obviamente é água com anilina, rs.
Eu nunca vi essas garrafinhas. Já vi com areia, mas não com água.
Viva: É similar.
Agora uma dica sua especial para esta entrevista, Viva.
Viva: A dica é o Cânion do Buracão, no Parque Nacional da Chapada Diamantina. Eu sou suspeita pra falar pois adoro um paredão de rocha. Mas este é realmente especial pois sua formação sedimentar dá a impressão de que dezenas de placas foram arrumadas para formar paredes (com cerca de 80 metros de altura!) de um corredor estreito e sinuoso. No meio do cânion corre o rio onde mergulhamos para chegar à cachoeira do Buracão, nadando contra a correnteza. É claro que o Parque todo merece uma visita de, no mínimo do mínimo, 5 dias pois tem muita coisa pra ver, pra quem gosta de ecoturismo. Mas aí eu estaria transformando esta entrevista em um guia turístico, rs.
A próxima viagem é para…
Viva: Rararara, pra SP! Tô brincando. Não tenho nada planejado para este ano. Realmente ando parada. Mas tem uma viagem que eu havia planejado fazer e ainda não coloquei em prática: ir de São Luís a Fortaleza por terra/mar/ar, passando por Lençóis Maranhenses, Ilha do Caju, delta do Parnaíba e Jericoaquara.
Ah, essa eu recomendo MESMO. É um novo Brasil que você descobre – entre tantos que já existem.
Viva: Você já fez assim? Com 4 x4?
Ano passado, fomos de Mamirauá (AM) até Fortaleza. Pulando o Pará, entretanto, e trasladando pelo MA e PI principalmente de pau-de-arara. Foi inesquecível.
Vá sem pestanejar, seja de jipe, de avião ou de carrinho de rolimã. 😛
E eu de antemão já te desejo um bom deslumbramento com as cores das lagoas dos Lençóis…
Muito obrigada pela entrevista, Viva! E boa viagem, Viva! 🙂
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