O resto do mundo se prepara para a grande discussão que ocorrerá em Copenhague em dezembro. Então eis que hoje o primeiro escalão do governo federal das Maldivas anunciou o início de sua campanha engajatória “350”. O objetivo principal é ter como meta uma atmosfera com menos de 350 ppm de CO2 emitidos. Afinal, já estamos em 384.72 ppm – and counting.
Gráfico das emissões de CO2 per capita no mundo feito pela ONU (e retirado do site deles). Embora o Brasil esteja “clarinho”, isso é apenas reflexo de como esses dados foram gerados. Afinal, não levam em conta emissão de CO2 fruto de queima de biomassa, principal contribuição de CO2 para a atmosfera que o Brasil faz. Apenas consideram emissões derivadas de indústrias, produção de energia e transporte. Portanto, não temos motivo para comemorar.
Para atingir tal meta, o documento pede a colaboração de todos os países do mundo para que determinem um limite de menos de 350ppm de emissões. O detalhe mais bacana e criativo é que a reunião para assinar a campanha e torná-la oficial foi feita debaixo d’água. Simbolizando o que pode vir a acontecer num futuro próximo ao país.
Foto da AFP – Getty, tirada do NYTimes.
Durante a semana, os políticos maldivenses treinaram mergulhos com dive masters do arquipélago e hoje puderam finalmente descer ao fundo da laguna e ter seu dia oficial sub sem maiores problemas. O Presidente Nasheed mais a cúpula ministerial, todos debaixo d’água. Sem dúvida, é um dia histórico para as Maldivas, e (deveria ser…) alarmante para nós, população humana que compartilha o mesmo planeta com eles. Afinal, serão alguns centímetros de elevação que poderão fazer o país desaparecer, e há previsões que indicam que isso acontecerá em menos de 100 anos.
Ministros e presidente, antes da reunião oficial sub.
O gabinete sub. Olha lá os peixinhos presenciando esse momento histórico!
Presidente maldivense assinando o documento oficial da campanha “350”. (As 3 fotos acima são do press release da campanha, aqui para download gratuito.)
Das palavras do Presidente Nasheed:
“What we are trying to make people realize is that the Maldives is a frontline state. This is not merely an issue for the Maldives but for the world.”
Ou seu discurso em setembro passado na ONU:
As Maldivas há tempos vêm lutando mundialmente por uma postura mais rígida de emissão de CO2. Mostrando preocupação pungente, criaram em novembro passado um fundo monetário para comprar terras em outros países para seus refugiados climáticos. Isso porque o país será dos primeiros, junto com Tuvalu, a ser inundado pelo aumento do nível dos oceanos (causado pelo derretimento das calotas polares).
Por mais que adore mergulho, ver o gabinete todo embaixo d’água é uma cena que me surpreende, pelo tanto que ela significa. E pelo tanto que eu gostaria que a gente acordasse para não deixar isso acontecer. Porque acontecendo, significa que não só as Maldivas foram pro fundo do mar. Significa que nossa capacidade de contornar um problema grave também foi jogada aos tubarões. Se até lá eles ainda existirem… Triste.
Tudo de bom sempre.
Maioridade: 18 Anos do blog Uma Malla pelo Mundo.
Começo 2021 no blog resenhando um dos livros que mais me marcou em 2020, "Slavery…
Quando pensamos em receitas para uma boa saúde e longevidade, geralmente incluímos boa dieta e…
Eis que chegamos à maioridade votante. 16 anos de blog. Muitas viagens, aventuras, reflexões e…
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Genial.
Realmente é muito séria a questão das Malvinas. Já tão sofrida pelas disputas.
Gostei muito do teu blog, vou recomendar aos meus leitores.
“ Developed countries, with the money and technological know how, must lead the way in slashing emissions. But if the world is to avoid catastrophic climate change, it is clear that developing countries must rapidly halt emissions growth, including a rapid phase out of coal and an immediate halt to tropical deforestation.”
Vice-Presidente da República das Malvinas
Apesar da atitude criativa e engajada do governo, me parece que ocorreram debates tão centrados na meta de 350ppm que o deixou míope para refletir sobre pequenos detalhes que contribuem para grandes estragos (os impactos que uma reunião ministerial debaixo d’água pode causar ao habitat bem como aos animais em que lá vivem). Podemos pensar a princípio que os responsáveis pela organização do evento se comprometerão em “reorganizar” o fundo do mar. Contudo, é cabível refletir qual o grau de envolvimento que tais indivíduos possuem com a preservação da natureza. Como poderemos ter certeza de que realmente não restou um único resíduo sequer no fundo do mar? De fato, o problema do CO2 é inquestionável, mas a poluição não deve ser deixada de lado já que no longo prazo também traz muitos problemas.
Faz-se importante levantar questões como estas já que o país depende principalmente da pesca e do turismo e causar a poluição marinha provavelmente pode trazer conseqüências não apenas para o meio-ambiente, como também para sua economia.
Parabéns pelo post e por propagar a conscientização ambiental, Malla!
Abs,
Letícia
Innovia
nossa nem imaginava que dava pra escrever de baixo da agua...
e a não tenho email
Mai, escreve-se com lápis. :)