Última atualização deste roteiro em Jeju, Coréia do Sul: 22/fevereiro/2020
Para os brasileiros, a Ilha de Jeju foi apresentada na Copa do penta, quando o Brasil derrotou a China na primeira fase no estádio da ilha. Estádio bem moderno, mas modesto em tamanho. Como eu já morava no exterior na época da Copa, não tenho noção alguma das asneiras ditas pelo Galvão Bueno sobre a ilha e seus aspectos turísticos ao narrar o jogo. Mas com certeza seria divertido hoje ver um replay desse momento globífero.
Essa foi minha segunda ida à ilha de Jeju, no sul da Coréia do Sul, destino número 1 dos coreanos em férias. A razão dessa predileção? O clima ligeiramente mais ameno que no resto da península, as atrações vulcânicas naturais, a cultura um pouquinho diferente da coreana peninsular, e o fascínio que ilhas despertam em geral nas pessoas. Nesse item, falo por mim, é claro. Além disso, Jeju é local de muitas conferências nacionais e internacionas, propiciadas principalmente pela imponência arquitetônica do Centro de Convenções.
Onde ficar na Ilha de Jeju?
Jeju tem duas cidades principais: Seogwipo (ao sul) e Jeju-si (ao norte). Estas duas cidades estão separadas pelo monte Halla, vulcão no centro da ilha. Interessantemente, a cratera do Halla é um lago e seu pico está quase sempre coberto de neve.
O mergulho na Ilha de Jeju
Quando fomos em maio/2004, ficamos em Seogwipo, pois fomos para mergulhar. De acordo com guias da Coréia do Sul, Seogwipo era o melhor ponto para tal aventura subaquática. E, certamente, as ilhas de Monseom e Seopsom são um espetáculo subaquático!
A água é estupidamente gelada, mas valeu a hipotermia. Porque a quantidade surpreendente de corais moles, a curiosidade de um peixe-leão, os coloridos nudibrânquios, as diferentes lulas e águas-marinhas… Foi um show de biodiversidade num pedaço onde achávamos antes estar completamente pescado/explorado, em condições quase de deserto submerso. Aliás, se você tem credencial de mergulho e um dia visitar a Coréia do Sul, não perca essa chance.

Leia mais: meu post completo sobre o mergulho na ilha de Jeju, Coréia do Sul.
Roteiro em Jeju: Visita à cratera do Ilchulbong e às cachoeiras
Em maio, final de primavera no hemisfério norte, passamos as manhãs embaixo d’água, e as tardes andando pela bucólica Seogwipo. Cidade de interior, com muito movimento pesqueiro, pouco trânsito de carros, e principalmente, muitas casas. Este layout urbano, aliás, é uma raridade arquitetônica na Coréia do Sul peninsular, onde temos a sensação de que todos moram em apartamentos.
Além disso, pudemos visitar a cratera do Ilchulbong à beira-mar com uma vista estonteante do mar do Japão.


Além disso, fomos conhecer duas cachoeiras especiais. A primeira, a cachoeira de Cheonjiyeon, dentro do Geolmae EcoPark, um local bem turístico.

A segunda foi a de Jeongbangpokpo, que derrama sua cascata principal direto no mar. De acordo com os coreanos, esta última é a única na Ásia a desaguar no mar. Entretanto, depois descobrimos que existem outras no Japão e na China.
(E um viva a Policarpo Quaresma e seu ufanismo exagerado.)

Parênteses não muito a ver
Jesús Soto, meu escultor atual predileto, morreu semana passada. Fiquei triste. Ainda tinha esperanças de vê-lo de perto. Uma pena, a arte perdeu um expoente lúdico. E ganhamos suas obras para a “eternidade” humana. Fecha parênteses.
Roteiro em Jeju: Na Cidade de Jeju dentro de uma caverna de lava
Na viagem do fim-de-semana passado curtimos o outro lado da ilha. Desta vez, ficamos em Jeju-si, e o tempo estava frio (~5°C), o que nos impediu qualquer contato com a água do mar. Além disso, no sábado choveu muito, melando alguns passeios.
Mas conseguimos entrar na caverna Manjanggul, uma caverna de lava. Essa confirmadamente a maior visitável do mundo: 13 km de extensão! Em alguns momentos, o diâmetro da caverna minimizava nossa existência, e em outros tornava-se claustrofóbico. Ao final da trilha que estava aberta – entenda-se sem desabamentos recentes ou outros inconvenientes – um pilar de lava de 7 metros de altura. Este pilar foi resultado de um buraco do solo que permitiu o gotejamento da lava que escorria por cima. Incrível.


Roteiro em Jeju: Na vila tradicional de Seongeup
À tarde, fizemos a visita a um vilarejo típico do povo indígena de Jeju: Seongeup. Esta vila é patrimônio UNESCO. Cada quintal da vila revela um aspecto do modo de vida secular das pessoas que por ali passaram.
Mais tarde, ao visitar o Museu Folclórico e de História Natural em Jeju-si, pudemos entender melhor como essas pessoas interagiam nos idos dos séculos passados naqueles locais. Uma casa era composta de várias “mini-casas”, cada uma com um ambiente. Nas mais simples, a cozinha estava próxima à sala de estar. Uma casa separada geralmente funcionava como quarto e banheiro. Outra casa servia de estábulo, e no meio do quintal, os potes com comida (leia-se kimchi) fermentando em pimenta durante o inverno. Mais coreano, impossível.


A jóia geológica do Costão de Jusangeollidae
Domingão, tempo melhor, pudemos andar mais ao ar livre pelo lado oeste da ilha. Primeira parada na encosta de Jusangeollidae. O lugar parece ter sido cortado por uma guilhotina de tão padronizado que é. Lindíssimo.

Esta foi a atração mais exótica que visitei em Jeju. Adorei os paredões recortados em hexágonos perfeitos. Em certas áreas, parecia que a prefeitura tinha pavimentado o costão de tão perfeito que as pedras/paralelepípedos eram! E foi a atividade vulcânica da ilha que permitiu a formação de tal estrutura. Só mesmo esse fogo mágico para gerar beleza tão indescritível no planeta… Eu sei, eu sei, tragédias humanas ocorrem também com as erupções vulcânicas, não esqueço disso aliás. Mas o que fica é tão bonito…

Roteiro em Jeju: No Parque de Cheonjiyeon
Após o costão, rumamos para o parque de Cheonjiyeon Ali, havia três cachoeiras: uma seca, outra fraca, e uma linda. Na linda, que dá nome ao parque e falei dela ali acima, tivemos direito a arco-íris e tudo. Tinha também uma ponte asiática e uma pagoda coreana ao final da trilha principal, pra ficar bem na foto. Cachoeiras mais que civilizadas, portanto, com escadaria de acesso e todo conforto possível.

Arte contemporânea ao ar livre
De lá, pro Parque de Esculturas de Jeju, uma surpresa no roteiro: sinal de arte contemporânea num local onde nos sentimos tão “parados no tempo”. As esculturas eram todas de artistas coreanos, com estilos ocidentalizados ou não. Bem a minha cara, o que eu gosto de ver em exposição. Gostei de uns ovos espalhados pelo jardim, achei a idéia interessante.

Pra fechar o dia com chave de ouro, fomos a um jardim de Bunjae (fala-se “bundjé”), comumente conhecido como bonsai. Aliás, bonsai é o nome japonês, e dada a rivalidade inerente entre Coréia e Japão, é claro que eles não iam manter o mesmo nome, afinal eles não mantém o mesmo nome nem pro convencionado Mar do Japão, que dirá literais pequenezas como bonsais!

Disputas à parte, o jardim foi um deslumbre. Em primeiro lugar, árvores de mais de 100 anos do tamanho do meu braço. Além disso, carpas coloridas fluorescentes, resultado de misturas genéticas frankestéricas valorizadas por aquaristas e afins. E uma paz incrível no lugar. Por último e não menos importante, verdadeiras frutas e flores nas árvores pequenininhas, impressionante!
Não entendo nada sobre bunjaes/bonsais, embora ache-os bonitos. Portanto, gostei de aprender que muito mais que manter uma árvore pequena, o bunjae/bonsai é a arte de manter a planta de uma forma esteticamente agradável. Sempre os galhos ordenados. Quando estes galhos se tombam todos para um lado enovelados, estão enfim entrando em harmonia plena. Onde a botânica encontra a arte oriental.

E depois desse refresco mental, nada como voltar pra casa e retomar com novo fôlego as preocupações do dia-a-dia.
Tudo de bom sempre.
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