Incorporando selênio

por: Lucia Malla Biomédicas, Ciência, Molléculas da vida

Nesses dias, estou extremamente ocupada escrevendo um artigo sobre selênio (símbolo: Se), esse elemento da tabela periódica tão importante em nossas vidas. O artigo refere-se ao meu trabalho antes de me infiltrar no campo da diabetes; portanto tive que dar uma boa recapitulada em vários tópicos para voltar a “pensar selenificamente”. É engraçado como quando estamos envolvidos com algum assunto a fundo, todo o resto do mundo parece girar em torno do nosso tópico. Foi assim com a soja, com a teoria do caos, com a tiróide, com a produção de calor… todos tópicos com os quais já lidei em algum momento na vida profissional. Um certo egocentrismo isso. Eu pelo menos acho.

E agora estou pensando em selênio. Para quem não sabe, uma dieta pobre em selênio pode gerar problemas de tiróide, pode aumentar sua probabilidade de desenvolver diabetes ou câncer, pode te envelhecer mais rápido, pode te dar arteriosclerose, pode gerar infertilidade masculina, pode ser que aumente sua chance de desenvolver Alzheimer – esse último “pode”, não muito claro para a ciência ainda.

Em geral, comemos bastante selênio normalmente – e NINGUÉM precisa se preocupar com isso. Os alimentos que mais concentram esse elemento são a castanha-do-pará (tão rica em selênio que é contra-indicado comer com freqüência), o alho, o brócolis, as folhas verde-escuras, e principalmente produtos animais, mais especificamente carne. Existe uma discussão sobre se o selênio da carne é melhor absorvido pelo nosso intestino – e se isso um dia for verdade, uma dieta 100% vegetariana é tudo que você NÃO quer na sua vida. Não vou entrar no mérito filosófico da questão, mas deixar apenas minha singela opinião de que uma dieta equilibrada sempre foi e sempre será a chave para qualquer pessoa saudável. (Vale também aqui aquele ditado: casa de ferreiro, espeto de pau. Minha dieta à base de café e poucas frutas não é nada saudável.)

Em geral, as plantas absorvem selênio porque crescem em solos ricos em selênio. E a maioria dos solos no mundo é bem rica. No norte da China e da Rússia existe uma região de solo pobre em selênio, e foi lá que os pesquisadores foram começar a estudar o que a falta de selênio pode acarretar nas pessoas.

Ao ler isso, por favor não vá na farmácia mais próxima e compre suplementos de selênio! Porque o excesso também é muito maléfico, e eu diria pior que a falta. Excesso de selênio pode dar uma sobrecarga nos rins, além de não significar de forma alguma que você estará imune às doenças que citei acima – pelo contrário, outros problemas maiores virão. Felizmente, nosso corpo e o dos demais seres vivos tem maneiras muito eficientes de regular a quantidade de selênio, sendo totalmente desnecessário que complementemos a nossa alimentação com cápsulas do mesmo.

E isso é algo que me espanta. Já vi sendo vendido por aí suplementos com quantidades absurdas de selênio. Os engambeladores aproveitam um buraco da legislação, e colocam no mercado essas “bombas” que literalmente te detonam. Uma coisa é ser uma droga aprovada pelo FDA (órgão americano que legisla sobre comidas e medicamentos) para comercialização. Outra coisa é você vender algo como “inofensivo” suplemento alimentar – não passa por um processo tão rigoroso para ser aprovado pra consumo. O selênio embarcou nesse último bolo, como suplemento. (Recentemente, vi algo parecido sobre o noni, uma fruta do Tahiti, e discuti isso com a Alessandra. De acordo com a propaganda do trambique, o noni soava bem milagroso também. É o mesmo caso: pra passar como suplemento é mais fácil. E mais facilmente você ganha dinheiro em cima dos trouxas.)

E como minha cabeça anda totalmente selenificada, eu espero não ter entediado ninguém com esse texto nerd, cuja única referência bibliográfica foi a minha curiosidade científica inata.

Tudo de bom Sempre.



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