Em janeiro, estive pela primeira vez em Lanai, a chamada “ilha exclusiva” do Havaí.
O apelido faz sentido: é a ilha do turismo de alto luxo, reservada aos endinheirados do mundo. Foi ali que Bill Gates se casou, por exemplo. Afinal, 98% do território de Lana’i são privados. Pertencem afinal ao tec-bilionário dono da Oracle Larry Ellison. A fortuna de Ellison é calculada em cerca de $42 bilhões de dólares (dados de set/2013). O que transformam em trocado os $550 milhões de dólares que ele pagou pela ilha de Lanai, na que foi considerada a maior transação imobiliária da história recente.
O reinado de Larry Ellison
Logo depois de adquirir Lana’i, Ellison comprou a empresa aérea de vôos interisland para Lana’i – e para outros destinos havaianos -, a Island Air. Deu uma melhorada significativa na companhia e a diferença de serviço já é bem notável. Era uma empresa pequena, de aviões menores e ainda com um certo charme antropológico, mas não foi mais aquele festival de desencontros e olhares arregalados que foi quando voei em 2009.
UPDATE: A Island Air foi vendida em 2017 e não mais existe. Leia aqui as empresas aéreas que oferecem vôos até Lanai.
Mas, apesar de todas as cifras enormes que envolvem Lana’i, a ilha é de uma simplicidade rústica sem fim. Super-pacata, Lana’i vive uma grande contradição: parece cidade de interiorzão, parada no tempo, sem trânsito e onde as pessoas se conhecem e se cumprimentam na rua com sorrisos fartos.
Lanai – exemplo de sustentabilidade
Mas, pelo olhar (e conta bancária) de Ellison, está à beira de uma grande transformação: será a ilha mais antenada com o futuro próximo em termos de sustentabilidade. Ellison quer transformar sua propriedade em um grande laboratório de vida sustentável, totalmente abastecida por energia renovável e com absolutamente todos os aspectos de negócios pensados primeiro em termos de sustentabilidade. (Ellison é um grande doador de dinheiro para empreitadas científicas, e essa reviravolta na ilha não é a primeira vez em que tenta algo bem ousado e a longo-prazo para a “humanidade”.)
Aos meus eco-olhos, só essa perspectiva já transforma Lana’i num interessantíssimo destino. Daqueles a ser seguido de perto em seu progresso rumo à economia 100% sustentável. Principalmente em tempos tão sinistros como os de agora. Não sabemos quando isso acontecerá. Mas a contar pelas palavras (e, sempre lembrando, a conta bancária) de Ellison e pela animação da população local, não levará muito tempo, afinal.
Alguns moradores locais são contrários às turbinas de energia eólica. Apesar disso, muitos dos quase 4000 moradores locais ainda parecem interessados em outras formas de geração de energia limpa, como solar (a ilha já conta com uma usina de geração fotovoltaica) e até das ondas do mar. E principalmente, interessados na oportunidade de incentivarem e desenvolverem o turismo sustentável. Tudo isso aliado a uma agricultura 100% local. Querem acima de tudo participarem desse movimento verde de maneira prática.
Em conclusão
Há complicações na instauração desse modelo, claro. Um deles é que muito do que é consumido ainda precisa ser trazido para a ilha. O que se traduz em frete via barco ou avião. E sabemos que ambos ainda não são exemplos de transporte “sustentável”. Mas esperemos. Porque a torcida para que todo o projeto dê certo é definitivamente maior que os possíveis obstáculos a serem ultrapassados. Um pequeno experimento revolucionário. Para ficarmos de olho e, quem sabe, expandir para outras paragens.
Tudo de futuro sustentável sempre.