Um pedaço de Saigon

por: Lucia Malla Ásia, Viagens, Vietnã

Emílio Santiago. Beira a vergonha o fato de que bastara o avião aterrissar no aeroporto de Ho Chi Minh City – antiga Saigon – para que esta fosse a música predominante na cabeça.

“Tantas palavras/ Meias palavras/ Nosso apartamento/ Um pedaço de Saigon…”

O caso é que escutei muito esta música durante a infância. Afinal, minha mãe é fã ardorosa de Emílio Santiago e adorava cantarolar estes versos pelos cantos da casa. Então, apesar da breguice descarada, a música me trazia boas memórias. E dela não conseguia escapar; afinal, chegara em Saigon.

Um pedaço de Saigon

Saigon ou Ho Chi Minh City?

Saigon é o nome antigo de Ho Chi Minh City. Meus amigos vietnamitas aqui do Havaí, muitos descendentes de famílias do sul do Vietnã que fugiram do horror da guerra antes da instauração do regime comunista em 1975, se recusam a chamar a cidade de Ho Chi Minh City. Para eles, Saigon ainda é (ou deveria ser) seu verdadeiro nome. Ho Chi Minh City, o nome que decidiu-se chamar a cidade em homenagem ao líder maior comunista do Vietnã, é motivo de olhares politicamente carregados entre meus amigos.

Para mim, cuja distância de vivência com a guerra do Vietnã é enorme, preferia reconhecê-la como Saigon por motivo bem menos politizado. Como a lembrança da minha mãe cantarolando. E, andando pelas ruas de Saigon – ou Ho Chi Minh City, a critério do cliente – estes versos melosos em português me acompanharam.

Mais: infelizmente só teria um dia na cidade. Portanto, teria que me satisfazer em conhecer apenas um pedaço de Saigon, como a música clamava. E que pedaço? Difícil escolher. Pois tudo que lia em fóruns e blogs sugeria que a cidade deveria ser aproveitada em mais tempo do que tínhamos disponível. #MaraturismoFeelings

Mercado Central - Ho Chi Minh City ou Saigon
Mercadão Central de Cho Ben Thanh.

Um pedaço no passado e outro no futuro

A existência dos 2 nomes não poderia ser mais simbólica. Afinal, dentro da cidade existem 2 cidades. Uma com os pés fincados no passado, e outra com um olho enorme para um futuro modernoso. Ho Chi Minh City foi por muito tempo a capital da República do Vietnã, a parte sul do país quando este ainda era dividido em norte e sul, antes da guerra. Ter sido capital está escancarado em muitos de seus prédios históricos e suas tradições.

Por outro lado, a cidade cresceu vertiginosamente na última década e seu desenvolvimento acelerado a torna uma destas metrópoles modernosas para a gente ficar de olho no futuro. Saigon hoje é, definitivamente, um pedaço em mutação.

Pho - prato tradicional vietnamita
Servidos de pho?

Um dia em Saigon

E, para aproveitá-la integralmente, mesmo em apenas um dia, precisávamos pincelar um pouco de cada lado desta moeda urbana. Começamos o dia com um café da manhã tradicional vietnamita: um pho, sopa típica sensacional de noodle com carne, numa das barraquinhas do Cho Ben Thanh, o mercadão central da cidade, um prédio de arquitetura francesa colonial com um pé no passado. Para acompanhar o pho, rolinhos primaveras sensacionais. E café vietnamita, cujo gosto é único, em nada parecido com outros cafés que já tomei. André pediu um suco de frutas maravilhoso, que repetimos sem piscar. Mal chegamos em Saigon e a cidade já nos pegava de jeito pela barriga, com sabores e muita água na boca.

Depois de andarmos pelo mercadão tradicional observando a incrível variedade de comidas e ingredientes à mostra nas barraquinhas, fomos começar nossa caminhada pelas ruas do Distrito 1 de Ho Chi Minh City. Estávamos munidos de um mapa e muita paciência silábica.

Primeira parada: Bitexco Financial Tower

A primeira parada foi no moderno observatório do Bitexco Financial Tower, o mais alto arranha-céu da cidade, à beira do rio Saigon.

Bitexco Financial - Saigon - Vietnã
Bitexco Financial Tower, em formato de flor de lótus fechada.

Eu sempre curto ver a cidade de cima, então uma parada no Skydeck do prédio era fundamental, principalmente num roteiro de um dia apenas. Mas tinha um componente adicional: a arquitetura contemporânea do prédio, em formato de flor fechada de lótus, era atraente demais para que fosse passada em branco. Eu amo uma arquitetura modernosa criativa, e amei ver de perto o prédio, que por causa da inspiração com o lótus, é de um simbolismo perfeito entre as duas realidades da cidade: o futuro e o passado tradicional. A subida ao Skydeck custa 200.000 dong, o que é ~9 dólares.

Vista do Skydeck - Bitexco Tower - Ho Chi Minh City
Saigon vista do alto do Skydeck do Bitexco Tower.

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Segunda parada: Prefeitura de Ho Chi Minh City

Depois da rápida visita ao Bitexco, continuamos a caminhada pela avenida Nguyen Hue até a Prefeitura de Ho Chi Minh City, outro prédio clássico em estilo francês. Veríamos, aliás, uma sucessão de influência francesa imperdível a partir dali. Em frente à prefeitura fica uma praça com jardins sensacionais, muito bem cuidados. Além da famosa estátua de Ho Chi Minh, o líder da revolução vietnamita. O calçadão é super-agradável, e ficamos ali um bom tempo, curtindo a vista e fotografando.

Prefeitura de Ho Chi Minh City - Vietnã
Prefeitura de Ho Chi Minh City, e a estátua de Ho Chi Minh, o líder da revolução comunista vietnamita.

A menos de um quarteirão da prefeitura, fica outro prédio clássico de Ho Chi Minh City: a Opera House de Saigon. Feita em 1897, não é um prédio tão grande. Mas sem dúvida adiciona charme numa cidade tão rica de arquitetura francesa.

Próxima parada: Catedral de Notre Dame e os Correios

Catedral de Notre Dame - Ho Chi Minh City - Vietnã
Catedral de Notre-Dame de Ho Chi Minh City.

De lá, fomos andando pela avenida Dong Khoi até a próxima parada, na Catedral de Notre-Dame. O nome não é coincidência com a famosa de Paris. Reflete portanto a influência persistente dos franceses na cidade até antes da guerra do Vietnã. A Catedral é considerada um dos símbolos máximos da cidade. Fica, aliás, numa praça bastante movimentada.

Correios de Saigon - Vietnã
Prédio dos Correios de Saigon.

Logo ali em frente, outra jóia arquitetônica: o prédio dos Correios de Saigon. Este prédio é reconhecido mais por ser um projeto de Gustave Eiffel. De novo, o nome não é coincidência. O arquiteto foi o mesmo que deu nome à torre famosa de Paris. O interior dos Correios é bacaninha, os vitrais são lindos e tal. Porém, confesso que não me impressionei tanto. Mas vale a visita, sem dúvida.

No Palácio da Reunificação

A caminhada continuou pelo boulevard de Le Douen, que termina num dos pontos mais importantes da história recente da cidade: o Palácio da Reunificação. Foi ali que as forças do norte conclamaram por fim a vitória na guerra do Vietnã em 1975. Depois de invadirem o palácio com um tanque de guerra e destituírem o então presidente do sul do Vietnã.


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Parênteses

O pai de uma das minhas amigas foi funcionário do palácio. Fugiu do país primordialmente por causa da guerra. Ela me contou que ele chorou muito ao rever o palácio e fazer o tour interno em março último, depois de mais de 40 anos deste dia fatídico. Fora a primeira vez que ele voltara ao país depois da guerra, afinal.

 

Palácio da Reunificação - Ho Chi Minh City - Vietnã
Palácio da Reunificação.

O Palácio em si é simples, de arquitetura bem década de 50-60. Mas sua localização num parque é agradabilíssima, um respiro de tranquilidade numa cidade tão movimentada como Saigon.

Rua em Saigon - Vietnam
Motocicletas em Ho Chi Minh City
Calçada pra quê?

No país das vespas, um tour de vespa

Aliás, a movimentação de Saigon era outro item fundamental na minha lista de “experiências para um dia em Saigon”. Porque eu já tinha lido que o Vietnã era o país das mobiletes e vespas. E que o trânsito lá era em sua maioria feito em duas rodas.

Mas, não adianta ler. Só quando você chega lá tem noção da pulsação louca que é o trânsito! O mais bizarro é que é um caos organizado no tráfego. Porque embora haja vespas por todos os lados, elas raramente se desentendem. Nos meus dias de Vietnã, vi apenas uma pessoa (provavelmente) xingando a outra por uma manobra mal-feita.

Então nesta cidade de dualidades até no nome, achei que fazer um passeio de vespa por Saigon era a única maneira de realmente sentir o pulso desta cidade. E entender por certo esta dualidade, enfrentando o trânsito caótico e organizado estando dentro dele. Achei num fórum a empresa de um havaiano que fazia tours de vespa por Saigon. A empresa chama-se Vespa Adventures.  Embora a gente não tenha marcado com antecedência, resolvemos aparecer de sopetão na loja deles e ver se ainda dava para fazer um passeio de vespa pela cidade.

Vespas em Ho Chi Minh City - Vietnã
Na espera do sinal verde.
Vespas - Vietnã
Driblando o trânsito de Ho Chi Minh City e suas vespas.

Funcionou. Conseguimos marcar um passeio à tarde. A empresa oferece almoço, portanto comemos no Café Zoom deles. Estávamos em 3 pessoas e depois do almoço cada um subiu na sua vespa com um guia, e começamos a aventura! E que aventura!!!

Na garupa da vespa

Tour de vespa - Ho Chi Minh City - Vietnã
Uma Malla na vespa.

Não tenho palavras para explicar o quanto recomendo esse passeio. Tirando a visita a Halong Bay, foi o tour que mais curti fazer no Vietnã inteiro. A cidade se revela completamente diferente quando você está no meio daquele trânsito de vespas. Aliás, é muito diferente de estar num carro.


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Monumento a Thich Quang Duc

Monumento a Thich Quang Duc - um pedaço de Saigon
Monumento ao monge budista Thich Quang Duc.

A primeira parada do vespa tour é na praça onde está o Monumento a Thich Quang Duc, monge budista que em 1963 protestou contra a perseguição comunista ao budismo tacando fogo no próprio corpo em meio ao movimentado cruzamento das avenidas Cach Mang Thang Tam e Nguyen Dinh Chieu. A foto deste evento tirada por Malcolm Browne venceu o World Press Photo daquele ano, e dá um frio na espinha de olhar, realmente impressionante. Hoje, neste cruzamento, há a praça com um jardim lindo. Além disso, a estátua extremamente simbólica do acontecido, que homenageia o ato de bravura do monge.

Loja de flores - Ho Chi Minh City - Vietnam
Mercado de flores em Ho Chi Minh City.

A Pagoda dos 10000 Budas

Dali continuamos zipando as ruelas de Saigon pelo mercado de flores (lindo demais!!!) até o bairro de Chinatown. Em Chinatown, ocorreu a segunda parada do vespa tour, na Pagoda dos 10.000 Budas (Chua Van Phat). Este templo fica num beco sem saída escondido no distrito 6 (na rua Nghia Thuc) com templinhos diferentes em cada andar. São 8 andares ao total.

Pagoda dos 1000 Budas - Saigon - Vietnã
Haja Buda!…

A cada escadaria, uma nova surpresa. O templo é muito incrível. Há ali milhares de estátuas de Buda de todos os tamanhos possíveis e imagináveis. De bônus, do terraço da pagoda ainda temos uma vista muito boa de Saigon. Além de um jardim de ervas e frutas muito simpático em meio a urbe.

Pagoda - Ho Chi Minh City - Vietnam
No terraço da pagoda… outra pagoda. #Inception

Cruzando a Rainbow Bridge

De volta à vespa, fomos cortando caminho pelo distrito 2, entre casebres, vielas e muitos barracos, até a ponte de pedestre em Cau Mong, ou Rainbow Bridge. Esta ponte é, aliás, outra obra arquitetônica de Gustave Eiffel em Saigon. Da ponte, tem-se uma vista do Bitexco Tower sensacional. O dia de céu azul foi o toque adicional de lindeza no nosso passeio. O guia da vespa nos deixou então de um lado da ponte e nos buscou do outro. Afinal, poderíamos assim atravessar à pé a ponte.

Vista - Rainbow Bridge - Saigon - Vietnã
Parada na Rainbow Bridge.

Depois dessa parada, era chegada a hora do fim do passeio. Como íamos para o aeroporto continuar viagem, os guias nos deixaram no hotel, de onde nos despedimos. Com uma a sensação de felicidade e animação extrema por ter sentido os dois lados dessa cidade de dois nomes de uma maneira foi inesquecível. O entardecer já chegara, o dia em Saigon acabava. E eis então que Emilio Santiago ressonou de novo em minha cabeça:

“Anoiteceu!
Olho pro céu e vejo como é bom
Ver as estrelas na escuridão
Espero poder voltar
Pra Saigon”

Tudo de bom sempre.

P.S.

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