Eis então que este blog acorda de um longo período de “rebeldia” silenciosa para celebrar um marco internético: maioridade blogueira. 18 anos de Uma Malla pelo mundo, mallificando a internet brasileira.
A chegada aos 18 anos do blog vem como a maioridade da vida da gente, depois de um período intenso de questionamentos e desobediência aborrescente – desobedeci as “regras do jogo” de manter este espaço ativo. Nestes quase 2 anos sem nenhuma postagem por aqui, também me rebelei contra as redes sociais, e praticamente só perambulo hoje pelo twitter. Do resto, dei log out e saí pra vida offline.
Questões dos 18 anos
Os questionamentos são muitos, brotados aos 16 anos de blog e agora mais solidificados com a chegada da maioridade. O primeiro de todos é o mais óbvio: pra quê mais conteúdo? Vivemos um paradoxal momento de excesso de conteúdo raso e escassez de conteúdo reflexivo, profundo. Acha-se que dá pra entender uma conjuntura geopolítica complexa (ou insira aqui qualquer tema relevante) depois de ler um ou dois fios de twitter. Spoiler: você não vai entender, apenas começar a se familiarizar. Muitas vezes essa superficialidade é necessária; afinal, (felizmente!), não dá pra sabermos profundamente tudo na vida. Nossos neurônios entrariam em curto-circuito com tanta informação. Mas muitas vezes também, a superficialidade é sintoma de um imediatismo opinioneiro preocupante, que logo mais é substituído pela próxima treta ou tema.
E me peguei pensando nestes 2 anos de silêncio que não mais gostaria de contribuir de forma tão proativa pra essa cacofonia de conteúdo. Quero sim, continuar a escrever. Mas nos meus termos. Quando escrevo, organizo meus pensamentos e detalho minha vivência, e esta é a função primária deste blog. Pra me ajudar a refletir sobre temas da vida viajante que levo – viagens reais, virtuais e na maionese, como foi estabelecido desde 2004, quando comecei naquela noite fria de outono em Seul. Com o novo componente: se posso trazer ou perceber uma perspectiva nova, diferente, vale a pena colocar no papel virtual. Caso contrário, o silêncio prevalece.
Mas aí vem o segundo questionamento que os 18 anos me trouxe: pra quê mais conteúdo da vida de uma pessoa? Sinto um excesso de “pessoalidades” pela rede. É bacana que a internet permite que cada um se expresse à sua maneira, que haja esta oportunidade a quem queira. Mas daí pra se transformar – de novo – numa cacofonia de conteúdo irrelevante que só cansa o cérebro é um pulo pequeno. (E estamos todos cansados desse excesso.) Será que as pessoas precisam mesmo saber que fui ali tomar um sorvete no shopping? Ou com isto estou apenas contribuindo pro super-barulhento ruído de fundo?
O que é relevante?
Mas dela vem outro questionamento: o que é relevante? Afinal, algo que seja relevante pra mim pode não ser pra você. E vice-versa. Pode ser que alguém queira uma dica de sorvete no shopping. Como escolher? Acredito que as palavras-chave sejam: auto-crírica e parcimônia. Mas, sobre esta questão, confesso que ainda não cheguei a uma conclusão pessoal. Porque vejo muita coisa irrelevante pra mim que parece interessar a maioria – e vice-versa, de novo. Então, enquanto reflito mais um pouco, ajo de forma conservadora: evito aumentar o ruído. Permaneço na irrelevância. E a página do post novo do blog continua em branco.
Hoje vejo também um valor histórico muito grande neste blog. Diversas vezes nos últimos 2 anos voltei a ele para relembrar um detalhe que tinha escrito mas que meu cérebro já tinha encaixotado e lacrado num sótão escuro. Então há um serviço de registro de 18 anos de detalhes que faz a diferença para minha memória pessoal. E talvez alguns destes detalhes também ajudem a alguém que por aqui passe, a resolver sua viagem, dar uma risada gostosa, ou refletir sobre alguma questão climática ou tubaronística. Se for para continuar com essa faceta dos registros, ainda vale a pena sentar num sábado à tarde de chuva e escrever. Registrar detalhes sob o meu olhar, caso este traga algo interessante pra contar.
Por fim, como na vida da gente, a gente acorda um dia com 18 anos de blog e pensa: “Virei adulta, e agora? O que vou fazer?” O peso da responsabilidade de escrever sobre as minhas viagens, que já era grande, parece que aumentou mais ainda. Mas a gente, que já passou pelos 18 anos na vida offline, sabe que a maioridade é apenas mais um começo. Os primeiros passos de uma nova caminhada, de novas experiências e aventuras. Só que agora evitando a cacofonia. Com mais maturidade e discernimento pra avaliar o conteúdo a se compartilhar: o que se deve falar e o que se prefere calar.
Que comece então essa nova jornada da maioridade blogueira.
Tudo de bom sempre. Há 18 anos! E sem medo de ser feliz. 🙂
P.S.
- Desde que me dei uma pausa de blog e rede social, vi e vivi momentos incríveis – algumas fotos destas andarilhações mallísticas tardias estão distribuídas aleatoriamente neste post. Um dia, talvez elas estarão registradas neste endereço virtual também. Por enquanto, adivinhem as locações…
- Todos os posts de aniversários do blog.
- 2022 está sendo o ano de ler – e reler – George Orwell. Tem sido um outro tipo de jornada, pra lá de interessante. Alguém aí interessado nessa viagem também?