A beleza da ciência

por: Lucia Malla Arte, Artes Plásticas, Ciência, Molléculas da vida

Tenho investido boa parte do meu tempo e beleza ultimamente tentando aprender proteômica. A proteômica é um ramo emergente da biologia que estuda em larga-escala as proteínas ou grupo delas, em sua função e estrutura. É um ramo poderoso e promissor, por olhar direto no fenótipo da célula: suas proteínas. E em minha opinião, uma progressão natural depois da era da genômica e do transcriptoma.

O proteoma é definido como o conjunto de proteínas de um determinado sistema, e podemos ter proteoma do sangue, proteoma do coração, proteoma dos glóbulos brancos, etc. Infinitas possibilidades, muitos dados sendo gerados e perspectivas esperançosas. Um admirável mundo novo, cheio de desafios para cada cientista colocar sua criatividade em prática.

A beleza da ciência

Mas, não é sobre proteômica que quero pincelar. Na realidade, esbarrei com um artigo numa revista científica em que os autores fazem uma análise proteômica de pinturas renascentistas. A partir de quadros famosos, conseguiram extrair microgramas de proteínas e analisar em cada quadro a técnica utilizada para pintá-lo e envernizá-lo. Achei muito interessante a utilização de tal ferramenta para construir um pouco da história cultural. Afinal, se desvencilha um pouco da história natural a que os biólogos estão de certa forma “presos”. Uma bela conjunção de artes.

Arte e ciência, ambos trabalhados na beleza

Frequentemente, percebo uma dissociação incômoda entre ciências naturais e ciências humanas, principalmente das artes. Há uma certa hostilidade vinda de ambos os lados. Talvez por desconhecimento, desinteresse ou ignorância, muitas bobagens sejam faladas – vide toda a besteirada falaciosa sobre o “Intelligent design“.

Estou, por força da profissão, de um lado dessa dicotomia. E confesso que poucas vezes presenciei a união de naturalistas e artistas plásticos publicamente – uma delas na X Documenta de Kassel, Alemanha, onde um escultor apresentou várias maquetes de fósseis do Cambriano, e outra na Bienal de São Paulo de 1996, quando géis de sequenciamento de DNA ganharam as paredes do Pavilhão da Bienal em todas as cores possíveis e imagináveis. Ambas experiências inesquecíveis. (Atualização em 2018: e infelizmente bem menos na Documenta de Kassel de 2017.)

Talvez seja por gostar tanto da ciência E de artes em geral que isso me incomode. Gostaria de ouvir mais músicas que comentem sobre ciência. Gostaria que as pessoas encarassem a ciência de uma maneira mais integrada ao mundo delas, que entendessem melhor o processo e a metodologia científica. Fossem mais curiosas. E não se deixassem levar pela idéia de uma atividade isolada, feita por um grupo de nerds que falam coisas que só meia dúzia compreendem.

Assim como os cientistas deveriam ser mais curiosos para entenderem um pouco mais de artes. Gostaria que as pessoas entendessem melhor que a ciência é bela em sua capacidade lógica, experimental, desafiadora dentro da esfera humana, e que onde há beleza, há expressão artística pedindo para ser revelada. Basta ser curioso com o mundo ao redor.

Que venha mais arte na ciência, e mais ciência na arte!

Tudo de bom sempre.

Para viajar mais…

  • Uma coluna do Marcelo Gleiser que é pura poesia foi postada há algumas semanas no Alfarrábio do Bicarato. Vale a pena dar uma lida.
  • O blog/jornalzinho Science Creative Quarterly tenta unir a ciência com a arte, de uma forma bem criativa. Uma boa dica que vale a viagem.
  • A fotografia é, em minha opinião, a arte que melhor expressa a beleza da ciência – principalmente da Biologia. Para percebermos o quão próxima ela é, basta seguir esse link com fotos microscópicas (via “Esperto Tom de Azul”). Ou então navegar pelas fotos marinhas do meu fotógrafo predileto.


770
×Fechar