Nesse mês de julho que passou, o Roda de Ciência dedicou-se a conversar sobre o ensino básico em geral e sua participação no despertar da criatividade e curiosidade para a educação. Para variar, aos 45 minutos do segundo tempo, eu deixo aqui minha colaboração na discussão comentando sobre o google.
…e educar para a ciência talvez seja mais complexo ainda. Digo isso porque há, sem percebermos, uma pressão para a especialização exagerada. Mesmo uma criança tende a virar e perguntar “Pra quê estou estudando isso?”. A resposta a essa pergunta não é fácil, e provavelmente muito professor já se cansou de ouvi-la.
Na infância, a percepção utilitarista da ciência é minúscula. E, não raro, indignamo-nos (e irritamos nossos pais) em aprendermos a taxonomia animal ou distinguir diferentes tipos de rocha. É mais simples a meu ver entender porque precisamos fazer análise sintática (para escrevermos melhor, algo que você exercita com frequência em todas as disciplinas) ou aprender equações trigonométricas (para saber calcular áreas e afins) que as questões que a ciência impõe.
Só que essa visão pragmática com a ciência, que vi em quase todos meus amigos de colégio, eu não compreendia. Porque desde sempre fui apaixonada por conhecimento. Se não para o vestibular, o desafio de aprender algo novo sempre me deixou de olhos brilhando – até hoje sou assim. Mas infelizmente, sei que esse comportamento não é um padrão, e sim a exceção. A regra, na atualidade, é muito mais triste.
Vários amigos meus trabalham no ensino básico. Eles são unânimes em dizer que há um desinteresse coletivo pelo aprendizado. Não sou professora, e vejo apenas de fora essa situação – talvez a falta de prática pedagógica no ensino básico torne um pouco tosca a minha análise. Mas para mim, há um desinteresse coletivo pelo ensino de modo geral. Incluindo aí a figura do professor, que recebe mal, trabalha muito, vive quase num sacerdócio para ser o que é. O aluno percebe esse desânimo/desinteresse e apenas rebate o que está recebendo.
Por outro lado, acho também que há um problema grave no método educacional em geral – e incluo aí de escolas públicas a privadas de elite, de brasileiras a coreanas. A sociedade mudou, a tecnologia avançou anos-luz, mas ainda temos o mesmo esquema be-a-bá, decoreba e cansativo para forçar o aprendizado. As crianças hoje têm acesso a um mundo de informação muito maior que há algumas décadas. E elas, em sua maioria, já chegam a escola “semi-educadas” – o termo não é bom, mas significa que elas já aprenderam algo valioso antes da escola. Cabe ao professor nesse caso filtrar e reorganizar esse “aprendizado caótico” que ela traz da experiência dela no mundo lá fora. Acrescentar o “conhecimento formal” inserido nesse novo contexto da criança, de forma que aguce sua curiosidade e interesse em aprender.
Nunca se escreveu tanto como hoje – blogs, torpedos, scraps no orkut, emails, etc. Em miguxês, que o seja, mas escreve-se: desenvolve-se o hábito da escrita. Será que o professor não pode aproveitar esse hábito já cultivado e transformá-lo numa plataforma para o aprendizado da “norma culta”? E principalmente, no campo da ciência, trazer o confrontamento: a idéia de que nem tudo que se ouve ou lê é verdade absoluta.
Aprender a usar o Google de forma a não se enganar e sim, a acrescentar conhecimento. Saber buscar a informação correta, na fonte correta, entender o processo de formação do conhecimento. Em minha opinião, devíamos ser educados desde cedo a questionar, a formar hipóteses testáveis. A fazer ciência – em todas as disciplinas. Transformar esse ideal em realidade não é tarefa simples. Principalmente diante da situação caótica de falta de preparação pedagógica dos professores e de estrutura que vemos e vivemos. Mas quem disse que educar é tarefa fácil?
Tudo de bom sempre.
Maioridade: 18 Anos do blog Uma Malla pelo Mundo.
Começo 2021 no blog resenhando um dos livros que mais me marcou em 2020, "Slavery…
Quando pensamos em receitas para uma boa saúde e longevidade, geralmente incluímos boa dieta e…
Eis que chegamos à maioridade votante. 16 anos de blog. Muitas viagens, aventuras, reflexões e…
O ano de 2020 tem sido realmente intenso. Ou como bem disse a neozelandesa Jacinda…
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Ver Comentários
Lúcia você está coberta de razão.
Fiz magistério por pressão, nunca exerci.
Também noto que muitos professores não tem o conhecimento necessário de informática para passar aos alunos, como você propõe.
Em geral, os alunos sabem mais de Internet e PC do que quem os educa.
Já ouvi professor dizer que tem horror a computador, fica difícil ensinar assim, né?
O ensino no Brasil precisa passar por uma reforma estrutural muito profunda, a começar pelos educadores.
As instituições ensino bem que poderiam atualizar o corpo dicente com cursos de Internet, pesquisa, comunicação online. Afinal de contas a web veio pra ficar. Cabe a nós aceitarmos a evolução e apontar os mouses para o presente e o futuro.
Vera, acho que o educador não pode negar o computador. Pq sua tarefa como educador é entender o processo e acompanhar os progressos q vêm sendo, já q o objetivo final de seu trabalho é... educar. Se educação hj passa pelo computador, cabe ao professor se adequar, e não fazer birra contra.
Bjs.