Durante nossa ida a Itália em abril, passamos um dia por Ficarolo, uma cidadezinhazinha do interior da Comune de Rovigo e às margens do rio Pó. É dessas cidades pequenininhas, extremamente agrícolas, que têm 3 ruas, uma praça, a igreja e fim. Mas nem por isso deixa de ter seu charme – ou talvez exatamente por isso o tenha.
Ficarolo está a meio caminho entre Bologna, Rovigo e Padova, acessada em uma das saídas da A13. A cidade não possui nenhuma iguaria culinária típica – o que na Itália é quase um sacrilégio. Entretanto, a influência de Bologna já basta: há uma enorme quantidade de defumados vendida no mercado.
Chegamos em Ficarolo à noitinha. Sem muitas opções de estadia, terminamos nos hospedando numa pousadinha na beira da estrada muito simpática. Estrategicamente ao lado da pousada, um restaurante familiar. Decidimos encarar aquela experiência gastronômica.
E ainda bem que fomos. Pedi uma macarronada carbonara e André uma pasta de frutos do mar, tudo com um vinho da casa pra acompanhar. Não nos decepcionamos. A comida preparada era dos deuses. Na Itália, mesmo num restaurante de beira de estrada, a comida é deliciosa. (Ajuda muito o fato da gastronomia italiana ser a minha favorita, é claro.) Adorei.
No dia seguinte, ainda no café da manhã, ficamos sabendo do terremoto na região de Abruzzo. O jornal mostrava um verdadeiro caos em Roma. Ali, na pacatez do meio do nada, aquela notícia parecia distante. Café findo, fomos então conhecer Ficarolo. Chegamos cedinho no centrinho da cidade. Ainda da estrada, vemos a imponência da torre cívica da cidade, meio torta como a de Pisa.
Para chegar até ela, passamos por um portal, que na realidade é uma continuação da igreja central, toda construída com tijolinhos.
Visitamos também a parte interna da igreja e de lá, fomos dar uma volta pelo vilarejo.
Nessas viagens a lugares pequenos, gosto de entrar em supermercados. Minha sensação é de incorporação: ali está registrada um pouco da rotina das pessoas locais e ao observar o que elas compram em geral, os produtos que são vendidos, você passa a entender um pouco mais a dinâmica do local. Então fui ao mercado enquanto André fotografava a praça central – aliás, a Itália oferece um problema grave ao fotógrafo: tudo é fotogênico, lindo, histórico, “único”; então se você não se policiar, volta pra casa com dezenas gigabytes de imagens e depois para selecionar para um álbum é uma confusão. É claro que esse foi nosso caso.
A Igreja central e a Torre Cívica de Ficarolo.
Um prédio do governo (mas não é o Comune, já que este ficava em outro local e tinha uma aparência mais moderna).
Como não poderia deixar de ser, antes de tomar a estrada rumo a Ancona (portanto na direção para onde todas as ambulâncias, bombeiros e equipes de resgate seguiam para tentar ajudar as vítimas do terremoto), fui tomar um capuccino. Estando na Itália, minha fonte de hidratação passou a ser doses maciças de capuccino, a qualquer hora do dia – supostamente, um sacrilégio para os italianos, que só tomam capuccino de manhã cedo. O capuccino, como esperado, estava maravilhoso.
Partimos. E Ficarolo, com sua vidinha pacata de interior, deixou saudade.
Tudo de bom sempre.