
Gêiser Pohutu e seu terraço.
No início de dezembro passado, fiz um post sobre minha viagem para a Nova Zelândia, e desde então me prometi dedicar um post inteiro à região que mais me chamou a atenção naquele país: Rotorua. Chegou a hora de colocar pra fora antes que a minha desmiolada memória esqueça de detalhes interessantes.
Rotorua fica na região central da ilha Norte da Nova Zelândia. Não é uma cidade muito grande, mas é turisticamente importante devido às fontes geotermais e gêiseres da região, que me deram a surpresa da novidade que tive ao chegar – nunca havia visto um gêiser antes na vida. Como fiz uma viagem curta, passei apenas 2 dias em Rotorua. Muito pouco! Deveria voltar lá e ficar pelo menos uma semana. Entretanto, foi o que deu pra fazer, e eu fiz.
Lama em ebulição, uma constante em qualquer aventura por Rotorua. Esses lugares são na Terra mesmo, você não está vendo uma foto da NASA de Marte ou Plutão.
Aquarela do Artista, em Wai-o-Tapu, e colocando a mão na água quente do rio em Waimangu – temperatura em torno de 50C. Minha frase entre-dentes nesse momento: “Tira essa foto rápido!”
Cheguei lá em um ônibus de mochileiros, e a hospedagem foi obviamente em um albergue da juventude. Nada mal, pois até piscina aquecida tinha – o aquecimento é natural pois as águas da região são quentes devido ao calor do subsolo. Aliás, para entender toda a geologia de lá, a melhor explicação que ouvi foi de um guia turístico no museu Te Papa, em Wellington (ele explicava isso para um grupo de crianças): se você bebe muito refrigerante numa refeição; ora, refrigerante tem gás, logo você começa a soltar os gases que ingeriu de 2 formas, arrotando ou soltando puns, certo? Pois bem, Rotorua é isso aí. São os “puns” que os vulcões da Nova Zelândia e adjacências soltam, liberando a pressão que surge dentro da Terra naturalmente, gases estes resultantes das inúmeras reações químicas que rolam nas profundezas do subsolo. Ao invés de toda essa pressão explodir de uma vez, ela vai sendo liberada aos poucos pelas rachaduras na crosta – Rotorua é onde a crosta terrestre é mais fina no mundo (de acordo com o que eles dizem). Essas “rachaduras” de liberação de pressão permitem o fenômeno dos gêiseres e fontes geotermais. E esses “puns” fedem tanto quanto os nossos: Rotorua cheira a sulfa onde quer que você esteja. A cidade é pra lá de fedorenta, mas como (quase) tudo na vida, depois de um tempo você se acostuma e nem percebe mais. E aí a aventura começa literalmente a esquentar.

Gêiser Lady Knox e seu respectivo terraço.
Rotorua também tem vulcões e crateras, é claro. E é lá que 2 placas tectônicas se encontram, em pleno Anel de Fogo do Pacífico, e passeiam lado a lado, gerando fricção suficiente para manter os vulcões da região em atividade. Como boa “lava junkie”, não poupei esforços diurnos (nos parques e trilhas) e noturnos (no Lava Bar, hehehe!!) para curtir ao máximo a geologia do lugar.
Assim que cheguei, fui direto visitar o parque Whakarewarewa, famoso pelo gêiser Pohutu e pelas muitas mini-crateras de lama borbulhante. Em 2 horas, você dá a volta completa pelo parque, ainda com direito a aproveitar as apresentações maoris que eles oferecem. Esse é o parque mais próximo da cidade e vale como GEO101: Introdução a Geologia e Fontes Geotermais.
No dia seguinte, fui a uma cidade vizinha a Rotorua, chamada Taupo, e pontualmente às 10:15 da manhã, estava eu na arquibancada do gêiser Lady Knox, esperando o dito cujo entrar em atividade e liberar jatos de água direto do fundo da Terra. De acordo com o que havia lido antes, esse gêiser está ativo todos os dias no mesmo horário há centenas de anos, um evento pra lá de estranho, considerando-se a mamãe natureza como é. Depois o motorista do ônibus que nos levou lá veio com um papo de que eles colocam sabão no buraco do gêiser para que ele entre em atividade todo dia. Sei lá, comprei a história do motorista, porque é muito estranho esse ciclo de 24 h certinho para um gêiser em ebulição. Um excelente “jeitinho neozelandês” pra atrair turistas.
Vista do lago da Frigideira e sua fumaça constante do calor. Abaixo, um pedaço do delírio de sulfa que é a região de Rotorua.
Depois, fui visitar o parque de Wai-o-Tapu. Vale a pena ir e perder uma manhã ou uma tarde andando por lá, porque as singularidades são muitas. Em primeiro lugar, um terraço de sílica enorme, que foi sendo construído a partir da água + minerais que escorreram da Piscina de Champagne, outra atração imperdível. Esse “Möet Chandon” verde claro fica borbulhando o tempo todo, e em sua borda, depósitos de antimônio dão uma tonalidade laranja, complementada pelo solo branco-marronzado: uma viagem psicodélica pra Jim Morrison nenhum botar defeito. Mais caminhadas e me deparei com o lago Aquarela do Artista, em todas as cores, também fruto da miscelânea mineral que brota por aqui. Ando mais, e outra cratera colorida, o Banho do Diabo, dessa vez com um líquido verde fluorescente de doer os olhos. Parecia que alguém havia derrubado uma caneta marca-texto verde na água e tingido, pois não dava pra acreditar que aquela cor era natural. Mas é.
(Detalhe: todas essas crateras e lagos coloridos têm o pH extremamente ácido e a temperatura acima de 50 C. Ou seja, nem sonhe em colocar a mãozinha lá. A piscina de champanhe tem pH médio de 2, o que é quase o mesmo que ácido sulfúrico puro.)
As cores da Piscina de Champanhe, e mais uma cratera colorida pra alegrar o dia de caminhadas!
Reservei a tarde para a trilha do vale de Waimangu, onde ficam a cratera do Diabo e o lago da Frigideira, esse um lago quente que é na realidade uma cratera também, ambas do vulcão Tarawera. A Frigideira foi formada em 1917, quando houve uma explosão vulcânica que modificou todo o terreno, gerando esse lago e aumentando o nível do lago Taupo, no centro da Nova Zelândia. Aliás, o lago Taupo é na realidade uma caldeira, ou uma cratera afundada que drenou água para dentro dela.
Detalhe do Terraço de Mármore, com troncos secos. Abaixo, a cratera Banho do Diabo e seu verde fluorescente de doer os olhos.

Terraço de Mármore com piscina de iodo ao fundo.
Em Waimangu, além dos exemplares peculiares de diversidade biológica neozelandesa, pude percorrer o curso do Rio Quente, cuja temperatura inicial é de quase 70C e ao encontrar-se com um rio frio, abaixa um pouco, e gera os terraços de Mármore. Ao lado destes terraços, outra extravagância da natureza de Waimangu: a piscina de Iodo, que obviamente possui iodo em alta concentração – o que me fez lembrar os velhos tempos de pesquisa em tiróide.
Depois de Waimangu, tive que dar adeus à Rotorua, esse lugar onde parece que você está em outro planeta. Tudo que é bom dura pouco. A viagem por lá tinha acabado, mas o sonho de voltar e rever todo aquele psicodelismo da natureza, não.
Tudo de bom sempre.