Kia ora: entre kiwis, samambaias e maoris

por: Lucia Malla Ilhas, Nova Zelândia, Polinésia, Viagens

Antes de mais nada, quero agradecer a todos que deixaram desejos de boa viagem e comentários legais nos 2 últimos posts. Só ontem li tudo e fiquei encantada com as palavras de todos, valeu mesmo!

E já vou começar a narrar como foram meus 10 dias de férias na Nova Zelândia… O problema é que tem tanta coisa pra contar que vou fazer o seguinte: hoje vou (tentar) escrever mais geralzão da viagem, e com o tempo vou detalhando mais. Acho que vai ficar meio informativo demais. Não sou agente de viagens vendendo pacotes e tenho medo que esse post fique meio assim, por isso não sei se vai ficar bom, mas vamos lá. Ah, preparem-se para enrolar a língua com os nomes maoris dos lugares…

Pé de pohutukawa, a árvore de Natal da Nova Zelândia, e museu Te Papa em Wellington.

A Nova Zelândia é mais um sonho que realizei. Sempre fui louca para conhecer esse país isolado, principalmente porque na faculdade de Biologia estudei que a flora das ilhas era ímpar e peculiar por causa do isolamento geográfico, e por razões darwinianas (?), a Nova Zelândia apresenta essa singularidade no grau máximo: mais de 80% da flora é endêmica. Vem daí o início do sonho…

E também, fui visitar amigos de outros carnavais. Um casal maravilhoso que conheci em Boston nos idos de 2001, e que hoje moram em Auckland – John é neozelandês e Claudia é alemã, casaram-se em abril e são o casal mais “New York” que já conheci. John foi meu “mentor” intelectual em selenoproteínas e Macintosh nos duros tempos de frio bostoniano. Pessoas fantásticas, que me acolheram como irmã e fizeram da minha estadia a mais prazeirosa possível. O café da manhã na casa deles incluía até suco de beterraba com cenoura, meu favorito!

Meus amigos com o delicioso suco de beterraba matinal e vista de Auckland, a cidade dos veleiros!

Minha viagem começou em Auckland, onde fiquei 2 dias conhecendo e visitando a “city of sails”. Fomos no aquário de Kelly Tarlton, cujo “must” é a fauna antártica. Passeios por Mission Bay, contemplação do Ranitoto (ilha vulcânica na baía de Auckland), cafés singelos acompanhados de “New Zealand pie” – cada uma mais gostosa que a outra: comi uma torta de galinha com cranberries e queijo brie que vou te contar… MARAVILHOSA!

Fizemos a trilha de Arataki nas montanhas Waitakere, a noroeste de Auckland, onde comecei a ter contato com a flora neozelandesa: uma quantidade infindável de samambaias (símbolo do país), e plantas que eu nunca havia visto na vida, com adaptações as mais loucas possíveis. E árvores endêmicas para mim “novas”, como o kauri e a pohutukawa, também chamada de “New Zealand Christmas tree” porque floresce em vermelho intenso em dezembro. Ambas as árvores produzem um mel delicioso, que tive o prazer de provar.

De Auckland, peguei um ônibus de mochileiros, e comecei a andarilhação pela ilha Norte. No ônibus, aquela zona típica de mochileiros – pessoas de todos os lugares do planeta, ligadas pelo desejo comum da aventura e da busca do desconhecido, o que é totalmente a minha praia.

Primeira parada: Whitianga, na península de Coromandel, costa leste. Fizemos uma pequena trilha que chega na praia de Cathedral Cove, um lugar lindíssimo e muito parecido com a Tailândia, de acordo com meus companheiros de busão. O mar azul foi uma tentação ao mergulho de scuba, mas o preço absurdo da aventura rapidamente me trouxe de volta a realidade, assim como a água gelada do mar – mais o preço, confesso. É duro ser dura.

Na praia de Cathedral Cove.

Segunda parada: Rotorua, cidade no centro-leste da ilha norte. Famosa pelas fontes termais e gêiseres, é uma região em constante ebulição vulcânica, e foi o lugar que eu mais curti da viagem – vou reservar um post inteiro pros vulcões da área e pras aventuras em Wai-o-Tapu, Waimangu e Whakarewarewa. Pude ver o kiwi, ave noturna símbolo da Nova Zelândia e em vias de extinção, exposta num museu de Rotorua. Lá tive também contato com a cultura maori pela primeira vez, e como interessada de carteirinha pela cultura polinésia em geral, saber de arquitetura à organização social dos maoris era tudo que eu queria . Muitas características em comum com os havaianos (comida cozida na areia, papel da mulher-progenitora-educadora e do homem-caçador na sociedade guerreira, excelente senso de navegação, língua apenas oral, sem escrita, etc.), mas pude captar algumas diferenças também: casas enterradas na areia como proteção ao frio (no Hawai’i isso não é necessário), uso de flautas como instrumento musical e nenhuma percussão (são o único povo polinésio que não desenvolveu música percussiva), vestimentas feitas com fibras, e não folhas verdes e flores, entre outras características. O alfabeto maori é um pouco maior que o havaiano (que só tem 13 letras), mas o vocabulário tem raízes comuns, como “wai”, que tanto em maori quanto havaiano significam “água”.

Um maori tocando sua flauta mágica…

(Just for fun, estudei língua e costumes havaianos por um ano – o manjado HAW 101 – por isso minha comparação exagerada com aquela cultura. E mais detalhes sobre isso também já está anotado no caderninho pra um próximo post, ok?)

Em Rotorua, fiz outra (excelente) trilha, a do Waimangu Valley, que passa por crateras em atividade do vulcão Tarawera, sendo a cratera do Inferno com o azul-esverdeado mais lisérgico que eu já vi (devido ao minerais da região e ao pH acidésimo). Nessa trilha, também esbarrei com aves e plantas endêmicas da Nova Zelândia, uma verdadeira aula de Evolução e Geologia ao vivo e a cores.

Terceira parada (rápida, só pra constar): Matamata, também conhecida como Hobbiton. Sim, tinha que ter uma referência ao “Lord of the Rings” nessa viagem… A cidade mudou de nome para Hobbiton depois do filme! Dá pra crer nisso?

Galera do busão em Hobbiton e a cratera do Inferno em Rotorua – atenção, a borda dessa cratera é natural, não é cimento! E essa cor não é Adobe Photoshop.

Quarta parada: Wellington, capital da Nova Zelândia, e conhecida pelos ventos… E como venta por lá! Desencanei do pente enquanto estive por lá. Em Wellington, visitei o museu Te Papa (ou Museu da Nova Zelândia), um primor de arquitetura, organização, coleção e informação. Já visitei alguns museus americanos e europeus com a mesma proposta do Te Papa, mas confesso que me impressionei demais com ele. É simplesmente o melhor museu sobre um país que eu já vi. Conta TUDO da Nova Zelândia, desde informação geológica a antropológica, passando por ciência, costumes, artes e política, entre outros assuntos. E nesse museu, mais uma (boa) surpresa da viagem: a coleção de ossos de “beaked whales” ou baleias-de-bico. Chamou-me atenção o detalhamento da coleção, em assunto tão específico. Não resisti à investigação: fui atrás do biólogo responsável do museu, e em menos de 1 hora estava sentada conversando com Anton Van Helder, um dos maiores especialistas em baleias-de-bico do mundo, discutindo sobre as baleias, e mostrando algumas fotos do André para identificação mais apropriada. Sabe quando criança ganha pirulito e fica toda feliz? Assim estava ele, com brilho infantil nos olhos, ao ver as fotos da baleia-de-bico que a expedição do ano passado encontrou nas Ilhas Marshall. De acordo com ele, a espécie que André fotografou é muito difícil de ser vista, e ele próprio, há muitos anos estudando o assunto, nunca havia visto sequer uma viva. Enfim, vir para Wellington como turista e terminar conhecendo um biólogo renomado foi uma surpresa das melhores que a viagem reservou.

A tão falada foto da baleia-de-bico…

Além dessa surpresa, Wellington ficou registrada na minha memória como uma cidade aconchegante, de arquitetura arrojada no limite certo, pessoas sorridentes e vibração noturna vulcânica de cidade cosmopolita.

Última parada: Auckland de novo, para visita a vinhedos da região norte, passeios pela praia de Omaha, e despedida dos amigos que me acolheram tão bem. E que já deixaram saudade…

“Kia ora”, saudação maori com mesmo sentido que o aloha havaiano ou o já famoso hermetiano: tudo de bom sempre, pra todos. 🙂

PS: Vale ressaltar que os vôos me produziram fotos okzinhas também… consegui uma foto aérea do Monte Fuji (Japão) legal, além dos cones vulcânicos Ngauruhoe e Ruapehu na região central da Nova Zelândia, e de um atol no Pacífico sul. Viva!



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